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Conheça Abreu e Lima: o revolucionário bolivariano pernambucano

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Abreu e Lima. Imagem: Funaj.

O “Libertador” Simón Bolívar foi um dos mais celebrados líderes das independências da colonização espanhola em diversos países da América do Sul. O brasileiro Abreu e Lima acompanhou Bolívar em todas as batalhas. No entanto, o pernambucano continua ignorado, pois sua história e ações foram invisibilizadas. Até sua morte gera uma polêmica que não foi solucionada até hoje.

Na história do Brasil, o estado de Pernambuco foi palco de muitos conflitos, insurreições, revoltas, dominações e resistências. Para relembrarmos: Invasão Holandesa (1624-1654), Insurreição Pernambucana (1645-1654), primeira batalha protagonizada por mulheres no Brasil- Batalha de Tejucupapo (1646), Conjuração de “Nosso Pai” (1666), Conspiração dos Suassunas (1801), Guerra dos Mascates (1710-1711), Revolução Pernambucana (1817), Confederação do Equador (1824), Revolução Praieira (1848-1850).

Dentre os personagens que contribuíram com importantes momentos históricos, destacamos o General José Inácio de Abreu e Lima (1794-1869). Ele enfrentou os desafios da sua época dedicando sua juventude à libertação e à unidade latino-americana, participando do exército de Simón Bolívar (1783-1830).

Abreu e Lima lutou junto a Bolívar em todas as batalhas, ganhando várias condecorações. Bolívia, Colômbia, Equador, Peru e Venezuela tornaram-se independentes da Espanha devido ao Exército bolivariano. Abreu e Lima foi um revolucionário leal à Bolívar e o acompanhou até sua última viagem, quando estava sofrendo de as consequências de uma tuberculose avançada, que seria a causa de sua morte.

Saiba mais sobre a trajetória do personagem que contribuiu com mudanças no Brasil e na América do Sul neste texto da Politize!

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O fuzilamento do pai, Padre Roma

Abreu e Lima (1794-1869) nasceu no Recife (PE) e era filho do também revolucionário José Inácio Ribeiro de Abreu e Lima, conhecido como Padre Roma. O apelido era devido a formação em Teologia em Portugal, pela Universidade de Coimbra e a ordenação como sacerdote em Roma. Mas, após retornar a Pernambuco, ele deixou a vida religiosa em 1807, atuando como advogado.

Padre Roma foi líder da Revolução Pernambucana de 1817, movimento separatista que questionava os gastos da família real portuguesa e o aumento dos impostos cobrados. O Nordeste brasileiro passava por pobreza e miséria. No período em que os holandeses aqui estiveram aprenderam a cultivar o açúcar, passando a plantar e comercializar em continente europeu. Tal fato ocasionou uma grande crise econômica devido à desvalorização do açúcar brasileiro.

O movimento defendia: a proclamação da República; o fim dos impostos cobrados por Dom João VI; a liberdade de imprensa e de culto; o aumento do soldo dos soldados; a instituição dos Três Poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e a manutenção do trabalho escravo. Importante observar que, apesar do movimento promover a igualdade e a liberdade, contraditoriamente não considerava que as pessoas negras escravizadas deveriam possuir os mesmos direitos.

Veja também nosso vídeo sobre Proclamação da República!

Os rebeldes assumiram o poder da capitania, instalaram um Governo provisório e Padre Roma foi enviado como agente secreto à cidade de Salvador, mas foi preso. Enquanto isso, o jovem capitão de artilharia Abreu e Lima, também foi preso por haver brigado com um oficial superior português. Foi levado para Fortaleza de São Pedro, em Salvador, Padre Roma se recusou a delatar os nomes dos líderes da Revolução Pernambucana e teve como consequência a sentença de morte.

Padre Roma foi colocado na mesma cela com seus filhos, Abreu e Lima e Luís. Ambos foram obrigados a assistir ao fuzilamento de seu pai. O episódio marcou profundamente a vida dos irmãos que fugiram do cárcere, seis meses após a morte de Padre Roma, em direção à Filadélfia, Estados Unidos.

A jornada de Abreu e Lima com Símón Bolívar

Após passar clandestinamente sete meses em terras norte-americanas, Abreu Lima escreve uma carta para Simón Bolívar, alistando-se nas tropas do Libertador, embarcando para Venezuela para fazer parte do exército de Simón Bolívar. Luís acabou ficando em Porto Rico, onde se empregou no comércio.

Bolívar tem lugar cativo na memória da América Latina. Apesar de ser descendente de uma rica família aristocrática, desde muito jovem demonstrou seu inconformismo com a submissão à Coroa espanhola. Organizou um exército rebelde que libertaria o continente sul-americano do domínio espanhol, revelando-se um gênio militar com caráter de herói sem fronteiras, considerado como um mito inspirador por diferentes bandeiras ideológicas, com papel de referência em outras independências hispano-americanas.

Bolívar era um estudioso das revoluções de sua época, um grande defensor da abolição da escravatura e admirador da Revolução do Haiti, única dentre as independências dos países latino-americanos protagonizada pela população escravizada.

Estátua de Símon Bolivar.

Em 1819, Abreu e Lima chegou a Angostura, cidade erguida no meio da selva amazônica, às margens do Rio Orenoco, onde Simón Bolívar instalou seu quartel-general.

Até 1830 e ao lado de Bolívar, o pernambucano participou de momentos decisivos na revolução bolivariana. Cruzou a Amazônia, escalou altíssimas cordilheiras, arriscando a vida em dezenas de batalhas e participou da libertação de seis países: Equador, Colômbia, Venezuela, Peru, Panamá e Bolívia. Foi ferido e teve condecorações, alcançando patente de general por bravura e merecimento.

Além disso, Abreu e Lima contribuiu com a revolução escrevendo em vários jornais. Tornou-se colaborador do Correo del Orinoco, porta-voz dos rebeldes bolivarianos. Atuou no jornal parisiense, o “Courrier Français”, também escreveu no “La Torre de Babel” na Colômbia. Seus textos eram em apoio ao Libertador, que já estava no final da vida e da carreira, a caminho do exílio.

Busto de Símon Bolivar e Abreu Lima em Pernambuco.

O retorno ao Brasil, as mudanças de opinião e a incansável atuação política

Após a morte de Bolívar, em 1831, Abreu e Lima retorna ao Brasil. Ele continuou atuando como jornalista. Mas, mediante a tudo que presenciou nas vitórias e fracassos que participou, percebeu que os povos, após a independência da Espanha, em vez de se apoiarem, como idealizou Bolívar, acabaram brigando entre si, tornando-se nações inimigas.

Devido a isso, mudou de opinião e passou a defender a monarquia, não o republicanismo pelo qual tanto lutou. Em sua opinião, somente o imperador poderia garantir a união nacional, o que para muitos foi considerado contradição. Entretanto, era a favor da reforma agrária e do fim da escravidão.

Veja também: Monarquia e República: qual a diferença?

Participou da Revolução Praieira – movimento influenciado pelas ideias liberais dos que se queixavam da falta de autonomia provincial, sendo marcada pelo repúdio à monarquia, com manifestações a favor da independência política, da república e por um reformismo radical -, e foi preso em Fernando de Noronha (1948-1850) como um dos líderes da revolta.

Relembrar a vida e a obra de Abreu e Lima tecendo conexões de seus feitos com movimentos contemporâneos possibilita compreender a importância da participação social, da luta por direitos e ideias.

Veja também nosso vídeo sobre abolição da escravatura!

A polêmica da morte de Abreu e Lima

Abreu e Lima morreu no Recife no dia 8 de março de 1869. Um acontecimento inusitado aconteceu em sua morte repercutindo, na época, por ter sido associada a circunstâncias de fanatismo e intolerância religiosa envolvendo seu sepultamento. Abreu e Lima escreveu artigos em que foi crítico aos aspectos dogmáticos da igreja católica. O bispo Cardoso Ayres impediu que o corpo de Abreu e Lima fosse sepultado em cemitério católico alegando que o General não era cristão, sinalizando como prova os seus escritos contra a Igreja.

A Igreja Católica proibiu o enterro no cemitério de Santo Amaro, em Recife, que apesar de ser público, era considerado território católico. Com isso, a concessão do sepultamento foi feita pelo Cemitério dos Ingleses – cemitério protestante – considerado território britânico.

Apesar de trajetória invibilizada, surge refinaria em sua homenagem

O pernambucano Abreu e Lima continua com seu legado ignorado, sua história e ações pouco visibilizadas, tanto em Pernambuco, seu estado natal, como no restante do Brasil. São poucas – mas valiosas – as obras que abordam sua trajetória, e mesmo quando é homenageado como nome de avenida ou cidade, pouco se conhece da sua luta, seus escritos e pensamentos. No campo das artes visuais, temos apenas uma produção de longa metragem, dirigida por Geraldo Sarno.

Existe um município na região metropolitana de Recife que originalmente se chamava Maricota e foi nomeado com o nome de Abreu e Lima em 1948 por proposição do deputado A. Torres Galvão. No entanto, no site oficial da cidade a única menção feita ao ilustre pernambucano é uma homenagem ao general José Ignácio de Abreu e Lima, filho de um dos principais líderes da Revolução Praieira, o padre Roma.

Em 2005, o ex-líder venezuelano Hugo Chávez esteve no Brasil, na cidade de Porto Alegre, para participar do IV Fórum Social Mundial e em sua fala homenageou o brasileiro Abreu e Lima agradecendo a sua coragem por participar da libertação da Venezuela. Para surpresa de Chávez, a trajetória do “General da Massas”, como ficou conhecido na Venezuela, pertencente a lista dos heróis da independência, era ainda pouco conhecida em seu país natal. Existe um monumento de Abreu e Lima, na capital da Venezuela, Caracas, como homenagem aos estrangeiros que contribuíram com a causa da independência.

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Na ocasião, foi anunciada a construção da Refinaria Abreu e Lima, construída pela Petrobrás e pela estatal de petróleo da Venezuela PDVSA. Em dezembro daquele ano, os então presidentes Lula e Hugo Chavez lançaram a pedra fundamental do empreendimento, que por exigência de Chavez estava nomeado com o nome de Abreu e Lima.

E aí, você conhecia a jornada do pernambucano Abreu e Lima? Conta para gente o que achou!

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Conteúdo escrito por:
Doutoranda em Estudos Contemporâneos pela Universidade de Coimbra.

Conheça Abreu e Lima: o revolucionário bolivariano pernambucano

30 abr. 2024

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