Nas últimas décadas, a chamada cúpula do BRICS deixou de ser um encontro técnico entre economias emergentes para se tornar uma das reuniões mais observadas do cenário político e econômico internacional. Mas afinal, o que é essa cúpula, quem faz parte do grupo, e por que ela se tornou tão relevante?
Este artigo explica o que são os BRICS, como funciona sua principal reunião anual, quais são seus objetivos estratégicos e qual o impacto das decisões do grupo para o futuro da ordem global.
- O que é a cúpula do BRICS?
- Como o BRICS surgiu?
- O que é discutido nas cúpulas do BRICS?
- Quais foram os principais marcos das cúpulas?
- O que é o Novo Banco de Desenvolvimento?
- Qual é a força dos BRICS hoje?
- A cúpula do BRICS é uma ameaça ao G7?
- Quais são os desafios do BRICS?
- Qual o futuro das cúpulas do BRICS?
- Referências
O que é a cúpula do BRICS?
A cúpula do BRICS é o encontro anual entre os chefes de Estado e de governo dos países membros do grupo: Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, sigla que desde 2011 passou a ser BRICS (com S final, após a adesão da África do Sul).
Essas reuniões ocorrem desde 2009, de forma rotativa entre os países, com o objetivo de discutir pautas estratégicas relacionadas à economia global, segurança, desenvolvimento sustentável, comércio internacional, política externa e, mais recentemente, temas como inteligência artificial, transição energética e multipolaridade no sistema internacional.
Com a criação do chamado BRICS+, o grupo passou a incluir também países como Arábia Saudita, Irã, Emirados Árabes Unidos, Egito e Etiópia, o que ampliou seu alcance e influência geopolítica.

Como o BRICS surgiu?
Ao contrário de muitos blocos internacionais, o BRICS não nasceu de uma negociação diplomática, mas sim de uma análise econômica. Em 2001, o economista Jim O’Neill, do banco Goldman Sachs, cunhou a sigla BRIC para se referir a quatro países com alto potencial de crescimento: Brasil, Rússia, Índia e China.
A ideia era simples, mas ousada: essas economias emergentes iriam, nas décadas seguintes, alterar a balança de poder econômico mundial. Em 2006, os ministros das Relações Exteriores dos quatro países se reuniram pela primeira vez de forma informal, e em 2009 ocorreu a primeira cúpula oficial, na cidade russa de Ecaterimburgo.
Com a entrada da África do Sul em 2011, o grupo ganhou mais representatividade global, especialmente no continente africano.
O que é discutido nas cúpulas do BRICS?
Durante a cúpula do BRICS, os líderes apresentam seus posicionamentos sobre diversos temas de interesse global. A pauta não é fixa, mas costuma incluir:
- Reformas no sistema financeiro internacional, como maior representatividade nos órgãos multilaterais (FMI, Banco Mundial e ONU);
- Desdolarização: estímulo ao uso de moedas locais no comércio exterior entre os membros;
- Segurança alimentar e energética;
- Iniciativas de desenvolvimento sustentável e infraestrutura;
- Criação e expansão do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), também conhecido como “banco do BRICS”;
- Parcerias tecnológicas e científicas;
- Cooperação em temas geopolíticos sensíveis, como conflitos regionais e sanções internacionais.
Quais foram os principais marcos das cúpulas?
Desde 2009, as cúpulas do BRICS têm evoluído. Veja alguns marcos importantes:
- 2014 – Fortaleza (Brasil): criação oficial do Novo Banco de Desenvolvimento e do Acordo de Reservas de Contingência (CRA), que permite auxílio mútuo em crises financeiras;
- 2018 – Joanesburgo (África do Sul): ênfase na cooperação em ciência e tecnologia e na redução da dependência do dólar em transações bilaterais;
- 2023 – Johannesburgo novamente: início da expansão oficial do grupo, com a adesão de novos países e fortalecimento da agenda de desdolarização;
- 2024 – Cúpula mais recente: o BRICS superou, pela primeira vez, o PIB do G7 medido por paridade de poder de compra (PPC), consolidando sua força econômica global.
O que é o Novo Banco de Desenvolvimento?
O NDB, criado durante a cúpula de Fortaleza, foi uma das maiores conquistas institucionais do BRICS. Com sede em Xangai, o banco financia projetos de infraestrutura e desenvolvimento sustentável não apenas nos países membros, mas também em outras nações em desenvolvimento.
Diferente do FMI ou do Banco Mundial, o NDB prioriza a autonomia dos países de destino e evita condicionalidades políticas. Em 2023, a ex-presidente Dilma Rousseff assumiu a presidência da instituição, reforçando o protagonismo brasileiro no bloco.
Qual é a força dos BRICS hoje?
Atualmente, o BRICS representa:
- Mais de 40% da população mundial;
- Cerca de 37% do PIB global (em PPC);
- Crescentes fluxos de investimento estrangeiro direto;
- Grande parte das exportações de petróleo, gás e commodities agrícolas e minerais.
A China é o principal motor econômico do grupo, seguida pela Índia. O Brasil tem papel central nas pautas ambientais e de segurança alimentar, enquanto Rússia e África do Sul colaboram com energia, tecnologia e diplomacia regional.
A entrada de países como Arábia Saudita e Irã fortaleceu o grupo no mercado energético, desafiando o domínio ocidental nesse setor.
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A cúpula do BRICS é uma ameaça ao G7?
A comparação entre o BRICS e o G7, grupo que reúne as sete maiores economias desenvolvidas (EUA, Japão, Alemanha, Reino Unido, França, Itália e Canadá), tornou-se inevitável.
Em 2024, o FMI confirmou que, em termos de paridade de poder de compra, o BRICS já ultrapassava o G7 em participação no PIB mundial. No entanto, em termos de influência diplomática, estabilidade institucional e domínio de moedas globais, o G7 ainda lidera.
Apesar disso, o BRICS é visto por muitos especialistas como o motor de uma transição para um mundo multipolar, em que nenhuma potência domina sozinha os rumos do planeta.
Quais são os desafios do BRICS?
Apesar da força econômica, o BRICS enfrenta desafios internos que impactam as decisões tomadas nas cúpulas:
- Diversidade política: o grupo inclui democracias como Brasil e Índia, mas também regimes autoritários como Rússia e China, o que dificulta consensos;
- Conflitos entre membros: a tensão na fronteira entre China e Índia (2020) e a guerra da Rússia na Ucrânia (2022) geraram desconfortos internos;
- Falta de institucionalidade: ao contrário da União Europeia, o BRICS não tem uma estrutura supranacional ou moeda comum, o que limita sua integração.
- Desconfiança do Ocidente: o apoio indireto da Rússia por parte dos BRICS em votações na ONU reforça o discurso de antagonismo com os EUA e Europa.
Qual o futuro das cúpulas do BRICS?
A cúpula do BRICS tende a ganhar ainda mais protagonismo nos próximos anos, à medida que o bloco avança em sua agenda de autonomia estratégica. A aposta em moedas locais, o fortalecimento de instituições próprias e a atração de novos membros indicam que o grupo seguirá sendo um dos principais atores da nova ordem mundial em construção.
Mais do que rivalizar com o G7, o BRICS parece interessado em redefinir as regras do jogo global, dando mais espaço ao Sul Global, às economias emergentes e às visões alternativas à hegemonia ocidental.
E aí, já conhecia os detalhes por trás da cúpula do BRICS? Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!
Referências
- Agência Brasil – BRICS já têm 40% da população e 37% do PIB mundial
- BRICS Brasil 2025 – PIB do BRICS segue superior à média mundial e representa 40% da economia
- Valor – Dólar perde terreno como moeda de reserva a ritmo acelerado
- G1 – Banco do Brics: entenda o que é a instituição que será comandada por Dilma Rousseff
- Opera Mundi – Moedas nacionais do BRICS ultrapassam dólar em transações comerciais entre si, aponta Câmara de Comércio
- Building Better Global Economic BRICs
- Ipea – Conheça os BRICS
- BRICS Brasil 2025 – Cúpulas anteriores do BRICS
- Modal Connection – Moeda dos BRICS e o impacto no comex brasileiro
- CIG – Os BRICS desafiam a ordem ocidental: o fim da hegemonia do dólar está à vista
- G1 – Comércio bilateral, Brics, Mercosul: as razões por que o governo brasileiro acompanha de perto a eleição na Argentina
- CNN Brasil – O que pode estar por trás da possível entrada de novos membros ao Brics
- Monitor Mercantil – Banco dos Brics impulsiona substituição do dólar com meta de 30% em moedas locais
- Veja – Entenda como o Brasil e outros países do Brics querem evitar o dólar nas transações