Debates eleitorais. Imagem: Canva Pro.

Debates eleitorais: para quê e para quem

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Debate eleitoral entre candidatos à presidência da República, em 2018. Imagem: Nilton Fukuda/ Estadao.
Na foto, consta o registro de um dos debate eleitorais entre candidatos à presidência da República, em 2018. Imagem: Nilton Fukuda/ Estadao.

Em tempos de gritaria e de ausência do contraditório nas redes sociais, em que os espaços para o contraditório são quase nulos, os famosos e tradicionais debates eleitorais perdem espaço. Ao se transporem para o ambiente físico, a situação não muda muito: seja na mídia ou nas universidades, o diálogo fica restrito a pessoas que compartilham as mesmas opiniões, não raro uma discordância aqui ou acolá.

Na época das eleições – como as que irão acontecer em outubro deste ano no Brasil –, espera-se que os debates entre os candidatos retornem ao sentido mesmo da palavra em francês débat: controvérsia, querela. Assim, confrontando-se, os postulantes aos cargos eletivos podem expor seus pensamentos diferentes sem os filtros das propagandas partidárias ou os aplausos apaixonados de suas claques nos comícios.

O objetivo é conquistar mentes em dúvida ou consolidar possíveis votos e, para tanto, os candidatos precisam não só apresentar suas ideias e propostas, mas informar como irão operacionalizá-las. É um momento de grande expectativa, sobretudo pelo enfrentamento de visões distintas sobre políticas públicas que, evidentemente, atingem a vida da população.

Continue com a gente para entender mais essa importante ferramenta democrática que são os debates!

Veja também nosso vídeo sobre debates políticos que marcaram a história!

Os debates eleitorais na História

As discussões sobre ideias políticas e sobre visões de mundo que nem sempre convergem têm uma longa história. Podemos viajar até a Grécia Antiga, no contexto da Ágora, em que cidadãos atenienses discutiam diversas questões nas praças públicas. Poderíamos também avançar alguns séculos até o contexto da Revolução Francesa, em que jacobinos e girondinos disputavam os rumos do evento que mudaria a história, popularizando a ideia de esquerda e direita ainda hoje vigente em todo o mundo.

Ao longo do tempo, os debates foram ganhando coloridos diferentes, chegando à contemporaneidade como um dos recursos mais emblemáticos para a conquista de votos nas eleições. Mudando de formato conforme o país, o confronto já se tornou marca registrada nas nações democráticas e, tradicionalmente, consegue atingir índices significativos de popularidade, sendo capazes de influenciar os resultados dos sufrágios, quando algum dos postulantes consegue se destacar.

É importante frisar que a televisão não é a única a transmitir os encontros entre os candidatos, haja vista que é comum jornais, rádios e até universidades promoverem a confrontação. Todavia, o alcance televisivo é muito maior, o que torna esse momento especial para quem deseja ser presidente ou governador, por exemplo.

Os Estados Unidos foram pioneiros nos teledebates, quando promoveram o famoso encontro entre John Kennedy, do Partido Democrata, e Richard Nixon, do Partido Republicano, em 1960. Segundo Sidney Kraus (The Great Debates: Kennedy vs. Nixon, 1960), alguns jornalistas consideraram que o desempenho de Kennedy no encontro teria sido decisivo para a sua vitória.

Já no Brasil, segundo Luis Claudio Lourenço, embora a TV Tupi tenha tentado fazer o seu próprio debate em 1960 entre os presidenciáveis brasileiros, a emissora não obteve sucesso. Na ditadura militar, houve debates entre postulantes a senador em 1974, pelo menos no estado do Rio Grande do Sul, mas foi só em 1982 que o formato ganhou fôlego, com os confrontos televisionados entre os postulantes aos governos estaduais.

Veja também nosso vídeo sobre os espectros políticos: esquerda e direita!

1989: Um ano memorável para o Brasil

Com a democracia reconquistada há pouco mais de 30 anos, o Brasil não tem um histórico expressivo no campo dos debates eleitorais, mas, ainda assim, produziu momentos inesquecíveis para os telespectadores. É claro que o primeiro a ser considerado é justamente aquele que marcou o retorno do voto direto nos candidatos a presidente, que não acontecia desde 1960.

Em 1989, mais de 20 candidatos se apresentaram para suceder o governo José Sarney. De variados espectros partidários, alguns eram figuras notórias, como Leonel Brizola, Paulo Maluf, Lula e Mário Covas, ao passo que outros, como Collor, eram menos conhecidos.

No primeiro teledebate, apresentado pela Bandeirantes, ficou famosa a discussão entre Paulo Maluf e Leonel Brizola. Com Marília Gabriela tentando acalmar o ambiente, os dois trocavam constantes acusações, que remetiam ao período da ditadura. Enquanto Brizola lembrava que Maluf apoiou a ditadura, o paulista respondia que o gaúcho nada aprendera com o exílio. Sob muito barulho das claques, o momento, que pode ser visto neste vídeo no Youtube, é até hoje recordado, principalmente por deixar claro a quase ausência de regras para aquele formato.

Com uma pequena margem de votos, Lula superou Brizola e se credenciou ao segundo turno para enfrentar Collor, primeiro colocado. Novamente, ocorreram debates eleitorais, em uma campanha marcada por acusações dirigidas por Collor a Lula.

Aquela etapa apresentou uma característica especial, que não mais se repetiria no Brasil: formou-se um conjunto de emissoras que promoveram e transmitiram os debates: Rede Globo, SBT, TV Manchete e Bandeirantes. A cada bloco, um representante de cada canal mediava o encontro, o que, por si só, já mostrava a importância do pleito.

Entretanto, quando se lembra a disputa direta entre Collor e Lula, o que chama mesmo a atenção foi o que a Rede Globo fez e que pode ter tido influência direta no resultado. Ao reprisar os melhores momentos do debate em uma edição do Jornal Nacional no dia seguinte, Collor teve mais tempo e mais destaque, ao passo que as inserções de Lula eram quase sempre apresentando o petista suando e muito nervoso. Após muitas críticas recebidas, a Rede Globo nunca mais voltou a editar os debates.

Os debates eleitorais no Brasil de 2022

Em 2022, os eleitores brasileiros voltarão às urnas em 2 de outubro para votar nos cargos de deputado estadual, federal, senador, governador e presidente. Desses, é comum que haja debates apenas entre postulantes aos governos estaduais e à Presidência, não obstante o cargo de senador também ser majoritário e apresentar, costumeiramente, poucos candidatos.

Veja também nosso vídeo “MDB e PSDB: esquerda ou direita?”!

Até agora, segundo informações do UOL, temos um recorde no número de emissoras que já anunciaram datas para os debates eleitorais entre os presidenciáveis no 1º turno: 7. A CNN irá dar a largada, em 6 de agosto; a Jovem Pan, em 9 de agosto; a Band, em 14 de agosto; a Rede TV!, em 2 de setembro; a TV Aparecida, em 13 de setembro; o SBT, em 24 de setembro; e, fechando, a Globo, em 29 de setembro. A Record, que tradicionalmente também promove os encontros, ainda não definiu uma data.

De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), as emissoras estão obrigadas a chamar todos os partidos, federações ou coligações que tenham, pelo menos, 5 parlamentares. Devido à quantidade de convites, é provável que nem todos os candidatos mais bem colocados nas pesquisas compareçam aos debates agendados.

Entretanto, naqueles em que a maioria estiver presente, é importante o acompanhamento dos telespectadores, que poderão conferir as promessas e o desempenho dos postulantes para votar e depois cobrar aquele ou aquela que ficará no cargo pelos próximos 4 anos.

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1 comentário em “Debates eleitorais: para quê e para quem”

  1. PAULO ROBERTO RIBEIRO

    Excelente texto, que nós remete a debates não tão claros, mas, lembrando que as ideias são uma coisa, mas as realizações são outras.

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Conteúdo escrito por:
Doutor em História pela UFRJ, apaixonado por política e estudioso de organizações partidárias no Brasil República.

Debates eleitorais: para quê e para quem

28 abr. 2024

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