Oportunidades para empregabilidade jovem no pós pandemia

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Este conteúdo é uma parceria do Politize! com o Youth Voices Brasil. O Youth Voices Brasil é uma iniciativa independente, composta por jovens líderes de todo o país, e apoiada pela Y2Y Community e escritório do Banco Mundial no Brasil, com o propósito de erradicar a exclusão produtiva da juventude brasileira. As visões apresentadas no texto refletem posições da Youth Voices.

Após quase um ano e meio de pandemia, os impactos sociais na realidade brasileira estão em toda a parte – desde o aumento da pobreza até índices alarmantes de educação . Dados da Unicef indicam que podemos regredir 20 anos nos avanços de educação nesse período de escolas fechadas. No que se refere a empregabilidade, temos um total de 14 milhões de empregados – maior índice desde o ano 2012.

A juventude, que historicamente está em desvantagem na entrada no mercado de trabalho, foi uma das parcelas da população mais atingida pelos efeitos da crise sanitária – um terço da população jovem está SEM -SEM : sem oportunidade de estudo e trabalho.

Com a reabertura de muitas atividades e a expectativa de uma recuperação econômica, a sociedade inicia o debate sobre os caminhos para um retorno sustentável. Sendo a próxima geração a estar de maneira predominante em idade produtiva e em momentos finais do bônus demográfico do Brasil, sobram indícios da importância de colocar a inclusão produtiva do jovem como centro desse retorno. Para não corrermos o risco de ter uma geração (e o Brasil) condenada pela geração “lockdown”, precisamos utilizar de todos os esforços para melhorarmos o cenário. 

Dada a crise que entramos nesses últimos tempos e, mais que isso, a nova realidade obtida com a necessidade do distanciamento social – diferentes paradigmas e discussões tomaram conta da sociedade. Ainda que os danos sejam inumeráveis, sobretudo em vidas perdidas, novas realidades e temáticas que emergiram nos tempos pandêmicos nos oferecem alternativas para pensarmos em soluções para o emprego jovem.

Oportunidades independente do CEP : o teletrabalho como forma de descentralização do emprego jovem

A concentração de emprego e renda nas grandes cidades do país,  sobretudo no sudeste, é parte da realidade e desigualdade regional brasileira há bastante tempo, levando grandes massas de pessoas e sobretudo jovens, mudarem de todas as partes em busca de melhores oportunidades de emprego. Em 2018, as regiões sul e sudeste do Brasil concentravam cerca de 70% dos empregos e estabelecimentos formais do Brasil, enquanto obtêm em torno de 55 % da população brasileira.

Para além dos efeitos da migração nos locais de origem e destino, a falta de oportunidades espalhadas pelo Brasil leva a um ciclo de subdesenvolvimento em muitas regiões e acaba por determinar o futuro de baixas perspectivas para milhares de juventudes país afora. 

Por outro lado, da vida em pandemia, o teletrabalho foi um dos elementos que emergiram  com maior potencial de mudança da realidade conhecida até então.  Ainda que boa parte dos trabalhos não  possam ser realizados de forma remota, podemos olhar para a discussão de “voltar ou não para o escritório” para além das perspectivas e preferências individuais.  A permanência da realidade de trabalho remoto pode contribuir para um deslocamento de emprego e renda a demais regiões do país e ser uma chance de jovens alcançarem suas potencialidades fora da ponte aérea.

O Brasil da juventude que “estudou demais”

Para que o teletrabalho seja opção para mais do que apenas uma parcela da população e uma solução sistêmica de desregionalização de oportunidades, grandes avanços em educação serão necessários. Ainda assim, nosso país é muito diverso, bem como nossas juventudes. De um contingente de 10 milhões de jovens sem acesso ao emprego atualmente, há representantes de várias realidades distintas, como os jovens sobrequalificados, que possivelmente se beneficiariam de uma maior distribuição das vagas de emprego.

Segundo um levantamento realizado pela consultoria Idados, no primeiro trimestre de 2020, 40% dos brasileiros entre 22 e 25 anos com faculdade no currículo eram considerados sobre-educados, e não possuíam espaço no mercado de trabalho aderente com sua formação.  Não há dúvida que diferentes fatores contribuem para esse cenário, como a escassez em si de ofertas de emprego. No entanto, dado o crescimento de ensino superior espalhado pelo país nos últimos anos, bem como a persistência da concentração de emprego nas mesmas regiões, é quase impossível não nos perguntarmos: que diferença faria para o emprego jovem brasileiro se o teletrabalho vier para ficar?

Pouco muda sem inclusão digital

Tema que há tempos vinha sendo negligenciado do debate público, a exclusão digital virou pauta ao ser escancarada pela realidade de falta de acesso à educação e empregos online por boa parte da população durante os tempos de quarentena. Em 2020, mais de um milhão de brasileiros estudantes do ensino médio ou graduação não possuíam acesso à internet, e desses aproximadamente 50% também não possuía a infraestrutura para acessar à internet, como equipamento necessário. 

Se o mundo digital nos oferece vias de mudar a realidade – seja em termos de empregabilidade, educação e tantos outros fatores – estamos desperdiçando muitas oportunidades e reiterando desigualdades, principalmente com o futuro dos nossos jovens,  ao não colocar inclusão digital como prioridade de país. E a juventude traz essa preferência com clareza: segundo pesquisa do Davos Lab ano passado, 78% dos jovens participantes acreditavam que acesso digital deve ser um direito humano básico.

Mais que infraestrutura: novas habilidades necessárias 

Ainda que seja mais provável encontrar um celular do que saneamento ou água potável em residências brasileiras hoje, as competências digitais dos brasileiros estão atrasadas. O uso das redes sociais tem maior aderência, mas a capacidade de usar as ferramentas digitais para estudo e trabalho é baixa. Com esse descompasso, estima-se que no Brasil 20 milhões de empregos não serão criados no Brasil até 2025 por conta da ausência de habilidades digitais da população.

Dessa forma, temos aqui uma grande chance de mão dupla – se logramos realizar a inclusão digital abriremos um universo de possibilidades, principalmente para as novas gerações, ao passo que a manutenção da exclusão cria abismos ainda maiores. 

Diversidade e inclusão para abarcar todas as juventudes 

Já em crescente ascensão nos últimos anos, os temas diversidade e inclusão se tornaram pauta nas redes sociais e estão cada vez mais na agenda das organizações. Com a pandemia e a pressão da sociedade por respostas das empresas, impulsionado principalmente pela própria geração jovem que consome e demanda posicionamento das organizações, o acrônimo D&I passou a figurar em campanhas e nomes de cargos. 

A consolidação de ações robustas de incluir minorias no mercado de trabalho apresenta-se como uma uma via de extrema importância para a juventude. Os desafios das gerações jovens na entrada ao mercado de trabalho se somatizam no que se chama interseccionalidades – quando outras características como raça, orientação sexual e gênero impõem mais desafios a esse indivíduo. 

O esforço conjunto de todos os atores da sociedade para que a tendência de diversidade seja concreta e visível nas organizações é uma das grandes oportunidades pós pandemia de incluir os diferentes Brasis e suas juventudes no mercado de trabalho e ativamente na sociedade.

Para além de diversos – o emprego jovem via ESG

De modo mais amplo, diversidade e inclusão são parte de um programa mais abrangente que passou a ser difundido nas organizações – chamado de ESG. Referindo-se a ações ambientais, sociais e de governança, as três letras trazem ainda mais perspectivas para um impacto positivo no cenário da empregabilidade jovem no país pós pandemia.

Dentre as iniciativas que ganham força e com impacto na empregabilidade jovem, além de ações específicas para ampliar espaço para jovens, como maior adesão a jovem aprendiz ou investimento em projetos educacionais, programas em prol da sustentabilidade ambiental também corroboram indiretamente para a temática. Segundo a OIT a  transição para a economia verde pode gerar até 60 milhões de empregos adicionais até 2030, a nível mundial, com muito potencial de abarcar a juventude nessas posições. 

Saúde mental e trabalho: na busca do equilíbrio 

Da mesma forma, a saúde mental está sendo pauta durante a pandemia como nunca foi antes – e não é por acaso.  A crise do COVID-19 trouxe elementos que prejudicaram a saúde mental de milhões de pessoas por diferentes aspectos, como lutos, dificuldades financeiras, falta de convívio social e trabalho. Tem se entendido cada vez mais que os efeitos do trabalho na nossa estabilidade psicológica são imensos- seja por falta de trabalho ou pelo excesso dele.

Em relação ao desemprego, dados da pesquisa “Impactos do desemprego” ilustraram que em torno de 60% dos desempregados apresentaram sintomas de depressão ou ansiedade.  Segundo especialistas, tal fato deve-se não somente às complicações financeiras da falta de trabalho, mas também do impacto no papel social que ele possui em novas vidas. 

Do outro lado da equação estão os que sofrem com a carga horária de trabalho excessiva. Na pandemia, trabalhadores da “linha de frente” e aqueles que puderam adotar o homeoffice são grupos que relataram aumento de síndrome de burnout, depressão e ansiedade. Para além desse momento atípico, a possível permanência do teletrabalho traz essa preocupação inerente ao modelo – mais de 20% dos entrevistados em pesquisa da FEA alegaram trabalhar até 70 horas por semana nesse formato.

Diante desse cenário, ao falarmos da inclusão produtiva de juventude, que é a geração mais afetada pelo desemprego, e que tem apresentados altos índices de piora ou impactos na saúde mental, é indissociável tratarmos esse aspecto como parte das abordagens para enfrentar o desafio.

Transformando a problemática em solução 

O aspecto positivo da saúde mental estar em patamares críticos na população em tempos COVID foi a reação e importância dada a ela. Organizações começaram a dar respostas e entender o tema como central no mercado de trabalho –  há uma tendência de empresas adotarem ferramentas de apoio psicológico e saúde mental.  Ainda que tenha sido intensificado na crise, o tema já era crítico nos tempos modernos e foi uma lição da pandemia mais que necessária compreendê-lo e endereçá-lo em âmbitos de políticas públicas e privadas.

Em relação à empregabilidade jovem, temos a oportunidade de revertê-la de maneira muito mais efetiva, contando com apoio de programas e ações que considerem a qualidade da saúde mental do jovem – seja para incentivar a educação, encorajar na entrada no mercado de trabalho ou manutenção e progressão de suas carreiras. 

Virando o jogo na empregabilidade jovem 

De cada 10 jovens que conhece no Brasil, 4 deles não estão no mercado de trabalho. Para além de uma fotografia do momento crítico que vivemos – pelo fato de se tratar da juventude, que inicia nesse momento sua vida produtiva, os efeitos podem determinar os próximos capítulos do Brasil.   Já não há mais dúvidas de que o tema é grande e urgente e de que necessitamos de múltiplas soluções para endereçá-lo. Agora, estamos em busca de quais são essas alternativas.

A pandemia fez indivíduos e sociedades reverem seus conceitos e prioridades. Nesse ambiente, a crise do COVID nos alertou para a importância de alguns temas – como inclusão digital e saúde mental –  assim como estimulou tendências que catalisam soluções em empregabilidade – do teletrabalho ao ESG. Usemos eles como caminhos para fazer do limão uma limonada:  transformar as lições da crise em oportunidades para os jovens, que tem seu futuro dependente de quais serão nossos próximos passos como país. 

Referências:

Pesquisa UNICEF – Exclusão Escolar 2021

Valor Econômico 2021 – Taxa de desemprego no Brasil bate recorde no primeiro trimestre

DE ALMEIDA MENDES, Wesley et al. Desenvolvimento humano e desigualdades regionais nos municípios brasileiros. Latin American Research Review, v. 55, n. 4, 2020.

IBGE – Projeção da população do Brasil e das Unidades da Federação

TecMundo – Home office ainda é para poucos, segundo dados

Jornal da USP – Desemprego entre os jovens aponta mercado de trabalho desafiador

Abrafi – No Brasil, 40% dos jovens com ensino superior não têm emprego qualificado

Correio Braziliense – Cerca de seis milhões de alunos brasileiros não têm acesso à internet

Davos Lab – Pesquisa Construindo nosso futuro.

Relatório sobre o Desenvolvimento Mundial 2016

Catho – Desemprego causa depressão? Impactos emocionais da falta de trabalho

Agência Brasil – Pandemia impacta saúde mental de profissionais da linha de frente

Cultura.Uol – Home office e síndrome de burnout: especialistas explicam a relação

Infomoney – Maioria aprova o home office, mas há preocupação com excesso de trabalho

Agência Brasil – Pesquisa revela impacto da pandemia na saúde mental de jovens

Folha – Empresas apostam em app de saúde mental para minimizar impactos da pandemia

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Conteúdo escrito por:
Economista, pós graduada em inovação, é diretora responsável por comunidade e projetos de empregabilidade no Youth Voices Brasil. Com qualificação e experiência em gestão de projetos de consultoria, atuou em dezenas de projetos em diferentes indústrias dos setores público e privado brasileiros.

Oportunidades para empregabilidade jovem no pós pandemia

02 maio. 2024

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