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Gualín do TTK: língua carioca nascida na ditadura militar

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Quem nunca tentou inventar um idioma ou código para se comunicar secretamente? Durante a ditadura civil-militar de 1964, os moradores dos bairros Catete, Glória e Lapa, no Rio de Janeiro, viram a necessidade de criar uma linguagem para fugir da repressão: a Gualín do TTK.

Abaixo você pode ler tudo sobre esse dialeto, como e por que ele surgiu, seu funcionamento e seu impacto na cultura carioca.

Quer aprender a falar Gualín do TTK? Fica com a Politize! que vamos te explicar tudo e mais um pouco sobre o segundo “idioma” do Rio de Janeiro, além de importância histórica e cultural!

Palácio do Catete, Rio de Janeiro.
Palácio do Catete, Rio de Janeiro. Imagem: Creative Commons.

A criação da Gualín do TTK

Antes da capital do Brasil ser Brasília, o governo se concentrava no estado do Rio. O Palácio do Catete, conhecido atualmente como Museu da República, na Zona Sul, foi a moradia dos presidentes da época, como Getúlio Vargas e Juscelino Kubitschek.

Por isso, a cidade sempre carregou relevância política. Quando a ditadura civil-militar se instaurou no país, o bairro do Catete foi palco de muitas manifestações contra o duro regime que afetou a vida de seus moradores.

No contexto, toda forma de resistência ao governo autoritário era considerada crime. O Ato Institucional 5 (AI-5), baixado em 1968, foi uma das leis mais duras. Permitia que os governantes, e aqueles que obedeciam a eles, punissem aqueles considerados opositores e inimigos.

Veja também nosso vídeo sobre a ditadura militar!

Para poder dialogar e transmitir informações diante do perigo, os cariocas que eram contra a ditadura tiveram que encontrar uma maneira de escapar dos ouvidos das autoridades.

Saiba mais: Saiba quais foram os crimes da ditadura militar e suas consequências

Com essa prerrogativa nasceu a Gualín do TTK ou Língua do KTT (Ka-te-te em referência à pronúncia do nome do bairro). A linguagem pode parecer estrangeira, em um primeiro momento, mas é apenas o português brasileiro com uma inversão de sílabas: Catete vira Teteca, logo, TTK. Outros exemplos são casa que vira saca, polícia vira acilípo e esconderijo vira joridecones.

A utilização consiste em trocar as sílabas, assim, quem não tem conhecimento do código, fica sem entender a mensagem. A criação da Gualín do TTK foi uma ferramenta de resistência.

Por esse meio de comunicação, os cariocas passaram a comunicar o necessário sem conhecimento dos agentes do governo. No período, os cidadãos que mais usavam esse recurso eram do triângulo KGL: Catete, Glória e Lapa.

Leia também: Censura no Brasil: é coisa do passado?

Pós-ditadura e a Gualín do TTK

Veja também nosso vídeo sobre a ditadura militar!

Nas décadas seguintes, com o afrouxamento da repressão, a necessidade de recorrer à Gualín do TTK diminuiu. A linguagem deixou de ser usada no cotidiano, mas não perdeu seu valor.

Caminhou com a ascensão do rap e do skate nos anos 1980, foi ressignificada e passou a ser símbolo de representatividade e pertencimento. Para os grupos subversivos, o dialeto se tornou uma expressão cultural e identitária.

Principalmente pelos moradores dos bairros de origem, a Gualín do TTK não deixou de circular. Tornou-se o segundo “idioma” das ruas do Rio de Janeiro e muitas vezes foi usado como gíria.

Já ouviu alguém chamar o amigo de “sua pladu”, ou seja, sua dupla? É a Língua do TTK no vocabulário dos cariocas.

Nos últimos anos, houve uma popularização do dialeto por famosos rappers nacionais como Gabriel o Pensador e Filipe Ret. Gabriel Contino, músico e escritor conhecido como Gabriel o Pensador, lançou em 2007 o álbum “Gabriel o Pensador: para crianças” que contém a música “Gualín”.

Com uma proposta mais infantil, o artista apresenta a canção “Gualín do TTK” com diversas frases invertidas:

“Oi, tudo legal? Oi, dotú gal-lê?

Meu nome é Gabriel, meu menô é Elbrigá

Meu filho é Davi, meu lhofí é Vidá”

Cantor de rap Felipe Ret.
Felipe Ret. Imagem: Creative Commons.

Alguns anos depois, em 2018, o carioca Felipe Ret lançou a canção “Gône” inteiramente na Gualín do TTK. O rapper, que começou sua carreira na música nas ruas do Catete, se juntou a Dallass e Mãolee na faixa que atiçou a curiosidade do seu público que ainda não conhecia a linguagem.

Logo após o lançamento, as redes sociais ficaram repletas de comentários sobre a “estranha” música. Depois, foi esclarecido que “Gonê” foi uma forma de homenagem ao bairro que iniciou sua carreira.

“‘Gonê’ foi uma música que, depois de ver muitos rappers do Catete crescendo, pensei que como um dos expoentes dessa cena, eu tinha que fazer uma letra provando isso na prática. E o Gualin do TTK é uma língua que falamos até entre a gente na Tudubom Records”.

Em 2021, Ret se juntou a BK’, Sain, Mãolee, DJ Erik Skratch e 2Nunaip, outras personalidades no rap nacional, e fez mais uma música toda na Gualin do TTK: a Tributo ao TTK. Para acrescentar à homenagem, a faixa foi lançada junto com o mini-documentário, que leva o mesmo nome.

Produzido pela Amazon Music, “Tributo ao TTK” tem direção de Felipe Ret e traça uma história do bairro do Catete. Com diversas entrevistas, entre elas Marcelo D2, o MC Akira Presidente, BK e outros, o vídeo mostra imagens da região que ilustram a narrativa daqueles que viveram ali.

Desde o modo de vida à presença do comércio, até a influência do rap, os entrevistados comentaram diversas características importantes para se entender o funcionamento do bairro carioca. O documentário está disponível no Youtube da Amazon Music.

A resiliência da Gualín do TTK

O dialeto é historicamente relevante para a cultura carioca. Presente nas conversas dos jovens e nas letras dos rappers do Rio de Janeiro, a Língua do TTK resiste como força cultural.

“É uma filosofia de vida alternativa. Isso tem um poder extraordinário, desde o fato de ainda falarmos do TTK até chegar no espaço que o rap está conquistando hoje”, afirmou Ret ao Estadão.

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Com uma origem de resistência e um permanente valor cultural, a Gualín do TTK é uma pérola linguística do Rio de Janeiro.

E aí, conseguiu conhecer mais sobre esse dialeto dos cariocas? Comenta o que achou desse texto na gualín do TTK. Queremos ver!

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Conteúdo escrito por:
Carioca, geminiana e futura comunicadora com curiosidade no nome do meio. Apaixonada por jornalismo (estudante da PUC-Rio), leitora voraz, interessada em política e no mundo. Às vezes fotógrafa, muitas dançarina, mas sempre escritora.

Gualín do TTK: língua carioca nascida na ditadura militar

30 abr. 2024

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