O que é o movimento Childfree?

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O movimento Childfree se tornou popular nos últimos anos tanto em razão das pautas defendidas como pela polêmica que instiga. Essa iniciativa engloba conceitos muito amplos que vão além da ideia de liberdade e distância em relação às crianças. Com auxílio das redes sociais é possível conhecer a diversidade de opiniões sobre o tema e demais assuntos interligados à discussão.

De acordo com pesquisas do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (IPEA), a parcela de casais sem filhos no Brasil cresceu em quase 5%, enquanto a porcentagem de casais com filhos caiu aproximadamente 10%. Havendo, então, uma tendência de diminuição da quantidade de crianças por famílias, o pensamento Childfree aparece com frequência em debates sobre cidadania, maternidade, direitos sociais e uso do espaço.

Distante de ser um consenso entre a sociedade e os próprios membros do movimento, o assunto possui muitos fundamentos distintos. Siga acompanhando o texto para entender todos os pontos e consequências sobre a questão. Vamos lá?

O que é o movimento Childfree?

O movimento Childfree tem origem no início da década de 1970, nos Estados Unidos, sendo difundido em seguida no Canadá e alguns países europeus. Com a criação da National Organization for Non-Parents (Organização Nacional para Não-Pais), hoje chamada de National Alliance for Optional Parenthood (Aliança Nacional para Paternidade Opcional), o grupo cresceu ao longo dos anos, ganhando apoiadores e opositores ao redor do mundo.

Em seus quase sessenta anos de atuação na sociedade, o movimento sofreu diferentes transformações nas pautas disseminadas, tornando-se múltiplo em si mesmo. Sua trajetória teve início com a defesa do direito de escolha das mulheres por uma vida sem filhos.

Além disso, os objetivos Childfree eram direcionados à luta por métodos contraceptivos eficazes e à liberdade de mulheres em seus objetivos pessoais e profissionais. Aprofundando os argumentos, questões como maternidade compulsória e romantização da maternidade se constituíram como pilares do movimento.

Com o passar do tempo, o ideário Childfree começou a adotar a escolha pelo não convívio com crianças de maneira geral, em espaços públicos e privados. Esse fato tornou-se responsável por um incentivo à criação de lugares que não permitem a entrada de crianças e adultos acompanhados por elas também.

O site We Are Childfree define os valores do movimento em inclusivo, feminista, pró-escolha, ambientalmente consciente, autêntico e respeitoso, contando histórias de pessoas ao redor de todo o mundo que apoiam a causa e se identificam com os propósitos da comunidade.

Assim como muitas páginas nas redes sociais, é possível encontrar depoimentos e opiniões bastante diversas entre sujeitos que se colocam como Childfree. Vamos ver então os principais argumentos dos dois lados dessa história?

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O que defendem as pessoas Childfree?

sociedade em lego
Sociedade em lego – Pixabay

Os argumentos mais comuns fazem referência à questão da liberdade, saúde mental e felicidade individual. Entretanto, o tema da limitação do acesso de crianças à espaços gera diferentes discussões, levantando pontos essenciais para a realização do debate.

A questão da privacidade

O primeiro ponto levantado pelo movimento Childfree refere-se ao barulho e desordem causado em um ambiente frequentado por crianças. Ao defender a escolha de não ser perturbado por crianças em quaisquer lugares, as pessoas que se identificam com o argumento afirmam buscar mais tranquilidade e sossego em suas vidas e momentos de lazer, fato que não é possível de realização quando em contato com crianças.

Assim, é reiterado o direito individual de escolha sobre a não convivência com crianças como uma manifestação das vontades próprias. A partir da necessidade de obter calma, quietude e silêncio e da associação do comportamento das crianças à conceitos opostos, como bagunça e agitação.

O consumidor e o mercado

Com base no crescimento das ideias Childfree, diversos empreendimentos e espaços privados passaram a adotar uma política que limita e divide seu espaço em relação à presença de crianças. Algumas redes de hotéis e resorts, restaurantes e empresas de aviação já contém em seus programas avisos de proibição da presença de pessoas com menos de 15 anos de idade ou delimitação de um espaço próprio para elas, sem contato com os demais presentes.

Muitos empreendedores enxergam essa questão como mais uma demanda de mercado válida e que pode ser positiva no sentido da diversificação de estabelecimentos comerciais. O argumento afirma, assim, a criação de um tipo de nicho econômico a ser explorado, fazendo com que a economia possa se especializar, selecionar públicos alvo e tornar-se mais dinâmica.

Você conhece o Código de Defesa do Consumidor? Entenda mais aqui.

O debate ambiental e biológico

Outra questão fundamental ao argumento Childfree se concentra na relação atual entre o meio ambiente e os seres humanos. De acordo com o movimento, o crescimento da população mundial é um grande problema para produção de alimentos e continuidade de qualidade de vida no planeta.

Optar por não ter filhos seria, então, uma maneira de minimizar os impactos ambientais. Desse modo, o conflito relacionado a superpopulações e grande concentração de pessoas em diversas regiões do mundo poderia ser atenuado, também.

As críticas ao movimento Childfree

Com a popularização do movimento e de seus ideais, surgem argumentos de oposição a determinados objetivos colocados pelas pessoas Childfree. De modo geral, as críticas se concentram na questão da condição das crianças como cidadãs e as consequências da privação do espaço para elas e seus responsáveis.

O conflito, assim, não faz referência de maneira declarada a escolha sobre ter ou não filhos. São apontadas, principalmente, divergências sobre a negação de convivência com crianças na sociedade.

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Socialização como desenvolvimento dos seres humanos

Um dos argumentos centrais em oposição ao movimento Childfree destaca a relevância do convívio em sociedade para o desenvolvimento socioemocional de todas as pessoas. Manter as crianças distantes de pessoas adultas que não sejam a sua própria família ou profissionais do ambiente escolar pode causar diversas deficiências nas capacidades de socialização desse indivíduo.

Tal reflexão também enfatiza o processo de aprendizagem através do convívio como método de amadurecimento, visto que as crianças não se comportam como adultos e têm direito infância. Porém, é fundamental para seu crescimento a observação de hábitos e convenções sociais reproduzidas pela sociedade que integra.

A demanda Childfree e a Constituição

A discussão a respeito da proibição de crianças em determinados espaços levou o debate exposto para a área jurídica, onde algumas leis contradizem essa limitação comercial. No Brasil, de acordo com o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor, vetar o acesso de qualquer sujeito a espaços privados é uma prática ilegal e discriminatória.

A Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) também reconhecem essas atitudes como ilegais a partir da noção de cidadania. De acordo com seus regulamentos, toda criança é considerada um cidadão nacional e, por isso, detém direitos sociais que incluem a participação e a convivência em lugares públicos e privados.

A proibição de crianças em espaços deve, então, ser justificada por meio da comprovação de falta de segurança à sua integridade física e dignidade humana, como acontece no caso de casas noturnas, por exemplo.

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Mãos unidas
Pixabay

Maternidade e o papel das mulheres

A partir da ideia dominante na sociedade que relaciona o trabalho do cuidado às mulheres, a discussão também aborda como elas podem sofrer consequências com a reprodução do pensamento Childfree.

Desde o momento em que o acesso à determinados espaços é limitado a crianças, veta-se também a participação em sociedade do responsável por esse sujeito. Sendo esse um trabalho desempenhado majoritariamente pelas mães ou outras mulheres – como avós e cuidadoras profissionais – o movimento Childfree gera consequências que acabam por segregar também a parcela feminina da população.

Segundo o Instituto Alana, políticas públicas que ampliam a participação social criam cidades melhores para todos os seus integrantes. Tal demanda de restrição a crianças pode, assim, ocasionar o constrangimento de pessoas com filhos e desrespeitar a publicidade da maternidade, no sentido de ser essa uma vivência coletiva.

A discussão sobre o movimento Childfree e seus valores pode ser entendida como um debate que busca relacionar os direitos individuais e a noção de convivência social. Na medida que inclui pessoas muito distintas em sua associação, as pautas dessa ação são diversas entre si também.

Entre variados recortes, fica evidente como esse é um assunto que segue atual e capaz de levantar muitas outras questões que falam sobre a vida em sociedade. Quer saber mais sobre esse tema e seus principais desdobramentos? Então continue acompanhando nossos conteúdos e participe da discussão deixando seu comentário!

Referências

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5 comentários em “O que é o movimento Childfree?”

  1. Excelente texto e com ampla abordagem. Este é sim um tema ao qual devemos refletir e debater pois esta realidade trazida neste conteúdo trará impactos na sociedade e para onde ela caminhará.

  2. Excelente texto, bem elaborado e claro

    Crianças são, em todos os cenários, o futuro, literalmente não há um futuro sem elas. Não querer ter filhos é um direito de escolha, inalienável, individual. Segregar crianças, espaços sem o direito de crianças é mais problemático, carrega um ataque ao próprio conceito de humano, uma misantropia (e misoginia) escondida. Lembrando que crianças são justamente o grupo mais protegido hoje por ser um dos únicos que não pode se proteger.

  3. Excelente tema e conteúdo desenvolvido para que possamos aprofundar e debater sobre esta realidade de sociedade já em curso, e que certamente impactos futuros terão .

  4. Excelente texto! Claro e objetivo.

    Crianças são a representação do futuro, defender seus direitos e participar da socialização delas enquanto sociedade é imprescindível. Não consigo deixar de pensar que a ideia de excluir crianças de certos espaços tem, no fundo, um caráter perigosamente misantrópico. Não me refiro as questões individuais, claro, querer não ter filhos é uma questão puramente individual, querer paz também, mas como dizia o poeta, os incomodados que se mudem.

  5. Regiane Mota dos Santos

    Conviver com crianças (nos espaços que elas podem estar) é algo desafiador, mas que enriquece qualquer ser humano. Lidar com pessoas em desenvolvimento que recebem o “não” com “sim”, evidencia que somos intolerantes às divergências e também nos ensina a ter paciência. Não sei dizer ao certo se considero intolerância. Porém, com certeza, a discussão é válida.

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Conteúdo escrito por:
Mestre em Ciências Sociais pela UNESP/FCLAr, apaixonada por política, cinema e literatura distópica. Sempre disposta a debater filosofia, feminismos e cultura pop.

O que é o movimento Childfree?

23 abr. 2024

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