Revolta dos Malês: entenda a história em 6 minutos!

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Imagem Revolta dos malês. Imagem: Arquivo Nacional.
Imagem: Arquivo Nacional.

Você sabia que na história do Brasil, já estivemos perto de ter uma República Islâmica? Talvez isso ocorresse caso a Revolta dos Malês fosse bem-sucedida, ocorrida no século XIX no estado da Bahia.

Ficou curioso(a)? Neste conteúdo, o Politize! te explica os principais acontecimentos da Revolta dos Malês, consequências, e repercussões nos dias de hoje.

O que foi a Revolta dos Malês?

A revolta dos Malês foi uma manifestação de escravizados que enfrentou o império em busca de liberdade religiosa e fim da escravidão.

Em 1835, a cidade de Salvador, na Bahia, viveu uma grande manifestação racial e religiosa. Isso aconteceu quando negros africanos escravizados, de origem islâmica, planejaram uma revolta.

Os objetivos eram, entre outros, acabar com a imposição do catolicismo, abolir o regime escravocrata e fundar uma república islâmica no nordeste do Brasil. Esse movimento ficou conhecido como a Revolta dos Malês.

E como era Salvador em 1835?

Na época, a cidade de Salvador possuía 65 mil habitantes. Porém, cerca de 80% da população era formada por negros e, destes, 40% eram escravizados.

Parte desta população era formada por africanos de origem muçulmana, os nagôs (iorubá) e haussás. Estes africanos ficaram conhecidos no Brasil como Malês, que provém da língua Iorubá na palavra imalê, que significa muçulmano.

A partir deste momento, criou-se o mito do negro altivo, questionador e revoltoso, pois eram povos que possuíam bom nível de instrução e não aceitavam romper com a cultura islâmica.

Os senhores de escravos, assim como a sociedade baiana, não estavam acostumados a lidar com negros tão apegados as suas raízes. Estavam acostumados com escravizados submissos e grosseiros, pois já estavam há muito tempo sem contato com as suas raízes. A inteligência dos malês rompeu com muitos estereótipos da época.

Quem eram os negros malês?

Os malês eram estudiosos, sabiam ler e escrever em árabe e fazer contas. Por este motivo eram usados como escravos de ganho e atuavam na área urbana de Salvador.

Trabalhavam no comércio vendendo frutas, ou como sapateiros, ferreiros, pedreiros. Fato que lhes garantia maior mobilidade para circular pela cidade e se comunicar com outros escravizados malês e organizar reuniões com os levantes.

Estes negros foram a prova da grande capacidade de mobilização que havia entre os escravizados. Com estratégia e ousadia, conseguiam incitar escravizados a participar da revolta.

Uma destas estratégias foi distribuir panfletos escritos em árabe – isso foi uma maneira de divulgar o planejamento do levante sem que os patrões descobrissem as reais intenções do grupo.

Após algumas tentativas de revoltas que foram reprimidas, foi possível enxergar que poderiam construir um movimento mais forte.

O ápice das manifestações aconteceu no final do Ramadã de 1835, o nono mês do calendário islâmico, dedicado ao jejum e reflexão espiritual, período sagrado para os muçulmanos.

Leia também: Islamismo: como é a religião muçulmana!

O princípio da revolta dos malês

A data escolhida foi a manhã do dia 25 de janeiro de 1835, pois é o dia da festa conhecida como Lailat al-Qadr, a Noite da Glória, que comemora o dia em que o Corão foi revelado para Maomé.

Cerca de 600 negros, entre escravizados e libertos, se armaram de paus e lanças e iniciaram a Revolta dos Malês, que era formada exclusivamente por negros africanos.

Esse vídeo do YouTube no nosso canal pode ser interessante para você:

Os ambiciosos planos dos malês

Os planos dos malês consistiam em:

  • Tomar a cidade de Salvador e engenhos de açúcar e fumo para libertar todos os escravos africanos;
  • Acabar com o catolicismo, recolher as imagens das igrejas e queimá-las em praça pública;
  • Assassinar as pessoas brancas por envenenamento e confiscar seus bens e incendiar suas casas;
  • Além de tomar o poder do império, assumir o controle da cidade e encerrar o regime escravista local. Porém planejavam escravizar qualquer pessoa que não fosse muçulmana, consequentemente brasileiros negros e mestiços.

Eles reivindicavam por liberdade para expressar sua religião sem qualquer restrição. Pois no Brasil do século XIX, com exceção do cristianismo, todas as religiões eram consideradas profanas.

Isso era uma tentativa do governo da época de acabar com qualquer relação do escravizado com sua terra natal e sua ancestralidade. Desta forma apagavam a identidade dos negros que chegavam ao Brasil.

Desta forma, os malês planejavam fundar uma república islâmica ortodoxa na Bahia, que dominaria a princípio a cidade de Salvador e o Recôncavo baiano e posteriormente iriam dominar o estado de Pernambuco, após libertar todos os escravizados muçulmanos.

O primeiro negro a ser resgatado seria Pacífico Licutan, conhecido como Bilal, era o líder de revolta dos Malês, que estava preso para pagar dívidas do seu senhor.

O plano era de atacar a cidade pela manhã do 25 de janeiro. Era domingo e a população estava reunida em torno da igreja do Senhor do Bonfim, o que seria o cenário perfeito para um ataque surpresa.

Porém os planos falharam, pois foram delatados.

Frustração dos planos e início da batalha

Na madrugada do dia 24 para 25 de janeiro, a ex-escrava Guilhermina de Souza, juntamente com seu marido, Liberte Fortunato, em sinal de lealdade ao seu ex-patrão e, justamente por já serem libertos e não fazerem parte do motim, denunciaram os malês. A polícia agiu rapidamente para reprimir o levante.

Uma reunião de líderes do movimento acontecia no porão da casa do escravo Manuel Calafate quando a polícia chegou.

A batalha se concentrou onde atualmente é a Praça Castro Alves. A consequência deste embate foi um grande banho de sangue negro, pois a polícia agiu de maneira devastadora sobre o levante.

A repressão contra os negros rebeldes

A revolta do Malês foi repreendida de maneira bastante violenta. O resultado deste conflito foi que 70 negros foram mortos. Outros escravizados tentaram fugir nadando pelo mar, porém, sem sucesso.

Alguns negros foram açoitados, outros foram deportados para outro lugares do Brasil e da África, outros permaneceram presos.

A pena mais pesada foi para Pacifico Licutan, que recebeu 1.200 chibatadas, referente à pena de morte.

Após a revolta dos malês, o medo foi instaurado em todas as províncias do Império, principalmente o Rio de Janeiro.

As notícias do que aconteceu em Salvador deixaram as autoridades em alerta, submetendo os escravizados africanos à repressão abusiva e extrema vigilância.

Os levantes se inspiravam em revoluções anteriores, como a revolução haitiana de 1804, quando os escravizados mataram todos os franceses da ilha caribenha e se tornaram um país independente.

Aliás, esse sempre foi o grande medo da elite brasileira, permanecia um clima tenso. Pois a maioria da população era negra e escravizada, e através das manifestações que aconteceram no nordeste do Brasil na época, era possível notar que os negros considerados rebeldes conseguiram enfraquecer aos poucos o sistema escravista e inspirar outras manifestações futuras em todo país.

Leia também: Revolução Haitiana: o que foi e qual sua importância para a história?

E se a Revolta dos Malês tivesse sido bem-sucedida?

Caso os planos do Malês tivessem funcionando, podemos imaginar que existiria uma sociedade diferente atualmente. Pois os malês deram início à diáspora muçulmana no nordeste do Brasil colônia, que ganhou espaço de interior de Alagoas e Pernambuco.

A revolta do malês contou com aproximadamente 600 pessoas, podemos considerar uma organização expressiva, em dias atuais (proporcionalmente), isso representaria 24 mil pessoas na cidade da Salvador.

Talvez tivéssemos um estado islâmico no norte do país ou um país inteiro islâmico, que influenciaria as nossas culturas e costumes, além de diminuir a influência do Cristianismo na nossa sociedade, deixando apenas religiões de matriz africana como a Umbanda e Candomblé.

Consequentemente, a nossa visão sobre a história dos povos escravizados no Brasil seria diferente.

E aí, você compreendeu o que ocorreu na Revolta dos Malês? Deixe sua dúvida ou opinião nos comentários!

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Revolta dos Malês: entenda a história em 6 minutos!

22 abr. 2024

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