Hannah Arendt e a capa do livro Origens do totalitarismo

Totalitarismo: conceito, movimentos e filosofia arendtiana

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Você já ouviu falar sobre “regimes de governo”? Eles representam os modos como o poder se distribui entre os elementos de um mesmo Estado. Os regimes podem se configurar como democrático, autoritário ou totalitário. Especificamente, o totalitarismo será o nosso objeto de estudo.

Neste texto, a Politize! te apresentará o totalitarismo, a sua manifestação histórica e como se relaciona com a filosofia arendtiana. Vamos juntos?

Veja também nosso vídeo sobre fascismo!

Como surgiu e o que significa o totalitarismo?

Datado do período entre guerras, entre as décadas de 1920 e 1930, o totalitarismo pode ser compreendido como a elevação do autoritarismo ao máximo.

Segundo Eckhard Jesse, professor de Ciências Políticas na Universidade Técnica de Chemnitz-Zwickau, o totalitarismo é um regime de governo. Esse regime tenta conformar os cidadãos dentro de uma ideologia, usando formas de controle e coação.

Por isso, representa o controle absoluto de uma pessoa, partido ou ideologia política sobre toda uma nação. O líder detém os poderes sobre a vida pública e privada, tendo o militarismo como instrumento de intimidação.

Todos os regimes totalitários que serão apresentados surgiram em uma época de crise europeia. O momento de instabilidade contou com significativa influência da Primeira Guerra Mundial e das políticas econômicas ineficazes.

Imagem da Primeira Guerra Mundial
Primeira Guerra Mundial. Imagem: Pixabay.

A destruição causada pela guerra, o temor do comunismo e os desafios econômicos colocaram os regimes totalitalistas como possíveis soluções para os problemas sociais. Gradativamente, os movimentos totalitários foram alcançando o apoio popular.

O termo originou-se na década de 1920, como uma forma de se referir ao fascismo italiano, o primeiro regime europeu de caráter totalitarista. Foi a partir dele que o fascismo, enquanto política alternativa, se popularizou na Europa.

Posteriormente, outros países europeus também optaram pelo modelo autoritário, escolhido e executado tanto na direita, quanto na esquerda do espectro político. O totalitarismo consolidou sua força no momento em que os nazistas tomaram o poder na Alemanha, no ano de 1933.

Importante destacar, ainda, as experiências totalitárias durante a década de 1930. A título de exemplos podem ser citados: Portugal, com o salazarismo, e a Espanha, com o franquismo – todos esses com ideais de extrema-direita.

Principais características dos sistemas totalitários

Cada movimento totalitário apresenta aspectos particulares em razão das diferenças ideológicas. Entretanto, percebe-se elementos básicos desse regime de governo, tanto na extrema esquerda (União Soviética) quanto na de extrema direita (Alemanha e Itália):

  • Culto ao líder e doutrinação: A imagem do líder era disseminada por diversos locais, como escolas e instituições públicas. O intuito era propagar os ideais totalitários e manter o domínio ideológico sobre o povo. Portanto, a população era alvo de intensa doutrinação, iniciada ainda na educação infantil;
  • Centralização do poder: O poder se concentrava nas mãos do líder ou do partido. Destaca-se, ainda, o unipartidarismo, pois somente o partido do governo detinha autorização de funcionamento;
  • Publicidade e propaganda: O líder e o Estado eram retratados como os salvadores da pátria contra os inimigos. Os pensamentos divergentes eram fortemente combatidos com a propaganda, que dominava os meios de comunicação, os quais foram estatizados. Os líderes criaram ministérios e secretarias direcionadas especificamente para a comunicação . Ademais, os regimes totalitários investiram bastante em publicidade para espalharem seus ideais e manterem o domínio, mesmo em momentos de crise;
  • Censura: Não apenas os meios de comunicação eram censurados, mas também qualquer manifestação artística. Logo, a oposição não tinha liberdade de atuação, porque a censura impedia ideologias contrárias e críticas direcionadas ao governo;
  • Criação de inimigos: O combate a inimigos internos e/ou externos era utilizado como motivo para medidas autoritárias. Em todos os regimes totalitários, inimigos em comum eram identificados. Isto é, grupos que não partilhavam do interesse do regime ou que eram escolhidos como alvo da indignação popular;
  • Uso do terror: O terror era usado para amedrontar opositores e perseguir grupos intitulados “inimigos”. Isso ocorre pela constante vigilância da população, inclusive na criação de órgãos de espionagem. A conjuntura reflete o medo do governante de seus governados e vice-versa.

Europa do século XX: principais exemplos do totalitarismo

Os principais exemplos de totalitarismo no mundo contemporâneo ocorreram na Alemanha nazista, na União Soviética stalinista e na Itália fascista.

Fascismo

O fascismo teve origem na Itália, em 1919, quando Benito Mussolini criou o posteriormente denominado “Partido Nacional Fascista”, pelo qual ele conduziu o governo italiano. A ascensão fascista ao poder ocorreu em 1922, com a Marcha sobre Roma, momento em que Mussolini foi nomeado primeiro-ministro italiano.

Milhares de fascistas do país dirigiram-se para Roma para pressionar o rei da Itália, Vitor Emanuel III. O intuito era de que ele demitisse Luigi Facta e nomeasse Benito Mussolini como primeiro-ministro. Tal nomeação aconteceu em 1922, e, em 1925, Mussolini se autodeclarou ditador, considerando como inimigos estrangeiros, antinacionalistas e críticos do Estado forte.

O fascismo é considerado o primeiro movimento totalitário na Europa, o qual vigorou entre 1922 e 1943, e, na década de 1930, aliou-se com os nazistas alemães. Além disso, o próprio totalitarismo da Alemanha teve sua inspiração no modelo construído na Itália – ambos movimentos de extrema direita.

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Nazismo

O movimento nazista surgiu na Alemanha, em 1919, sob o nome de Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães. Aos poucos, o partido foi ganhando notoriedade e se fortalecendo. Com a liderança de Adolf Hitler, o Partido Nazista foi a favor de medidas autoritárias para resgatar a Alemanha dos tempos passados e reparar o caos instaurado.

Esse contexto de instabilidade refere-se às consequências da Primeira Guerra Mundial e às imposições do Tratado de Versalhes. Como resultado de ter perdido a guerra, o país sofreu uma série de restrições e avaliações, além de vivenciar uma crise econômica .

O nazismo teve o seu apogeu a partir do ano de 1934, quando Hitler acumulou tanto as funções de chanceler quanto de presidente do país. Posteriormente, o líder nazista buscou medidas que contornassem a crise econômica.

Ao longo da década de 1930, o governo alemão passou a desrespeitar as medidas do Tratado de Versalhes e foi expandindo o território da Alemanha pela Europa.

Assim sendo, o movimento totalitário governou entre 1933 e 1945, o qual foi marcado pelo antimarxismo, antiliberalismo e o antissemitismo. Tais ideais eram usados para defender a raça alemã como algo superior aos demais povos do mundo.

Conforme apontado, uma dos aspectos em destaque é o antissemitismo. O ódio aos judeus era manifestado na sociedade alemã desde o século XIX e foi bastante explorado pelos nazistas. Esse ódio resultou no Holocausto, genocídio que ocasionou a morte de seis milhões de judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

Campo de Concentração.
Campo de Concentração. Imagem: iStock.

Outras características da ideologia nazista são: o desprezo pela democracia, o militarismo, a exaltação da guerra, o nacionalismo extremado etc.

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Stalinismo

Pontua-se a existência de um debate entre historiadores acerca do caráter totalitário do governo stalinista. Eric Hobsbawm, por exemplo, afirma que a ditadura stalinista não foi totalitária; enquanto outros intelectuais, como Hannah Arendt, compreende que esse movimento foi totalitário.

Em 1917, quando eclodiu a Revolução Russa, os líderes do movimento prometeram acabar com os problemas enfrentados pelo país. Josef Stalin (1879-1953) assumiu o poder da União Soviética após a morte de Lenin, líder do partido e da União Soviética desde o ano de 1917.

O stalinismo surge mediante uma interpretação particular e heterodoxa de Stalin do marxismo, que durou de 1924 até 1953. O sucessor impôs um regime totalitário de extrema esquerda, tendo como principal inimigo os anticomunistas. Os primeiros planos foram incentivar a industrialização e planificar a economia, porém o plano econômico passou a exigir demais dos trabalhadores.

Na coletivização das fazendas na Ucrânia, a partir de 1930, milhares de camponeses tiveram de entregar suas terras e posses para o Estado. Foram obrigados não apenas a trabalhar nelas, mas a entregar sua produção a preços baixos, o que resultou na morte de milhões de pessoas de fome e inanição.

Os principais aspectos do stalinismo revelam a exclusão da religião da vida pública, o fim da propriedade privada, o culto ao líder, a perseguição de opositores, a militarização etc.

Totalitarismo e filosofia arendtiana

Um dos principais estudos sobre o totalitarismo do século XX foi realizado pela filósofa judia alemã Hannah Arendt, a qual escreveu a obra “Origens do Totalitarismo”, publicada em 1951.

Conforme a filosofia arendtiana, o totalitarismo une dois fenômenos em sua potencialidade: o medo e o terror. O Estado total transforma a coletividade em um único corpo, de modo que anula a individualidade. Isso ocorre para a promoção de uma sociedade que pensa da mesma maneira e apoia a atuação do líder totalitário.

Como sugere a teórica, quando o totalitarismo detém o controle absoluto, substitui a propaganda pela doutrinação. A violência é empregada não mais para assustar o povo, mas para dar realidade às suas doutrinas ideológicas.

Arendt apresenta a existência de tipos diferentes de pessoas que estiveram por trás do nazismo. Em Eichmann em Jerusalém, uma de suas obras, ela retrata os nazistas convictos, tomados por um mal radical. Eles realmente acreditavam no antissemitismo como salvação da pátria.

A outra modalidade de totalitaristas apresentada pela autora é das pessoas que não acreditavam no que estavam fazendo. Simplesmente agiam para conseguir alguma vantagem pessoal.

Para a filósofa, o que as ideologias totalitárias visam não é a transformação do mundo exterior ou a transformação revolucionária da nossa sociedade, mas sim a transformação da própria natureza humana.

Ao longo da história, as experiências totalitárias apresentam a forma mais extrema e completa de autoritarismo. Isso acarretou inúmeras violações aos direitos humanos e um verdadeiro contraste aos ideais democráticos.

E você, aprendeu algo novo sobre o totalitarismo? Conte para a gente nos comentários! Para continuar se informando sobre assuntos históricos e também da atualidade, continue lendo os textos da Politize!

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Totalitarismo: conceito, movimentos e filosofia arendtiana

27 abr. 2024

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