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Fascismo: entenda o conceito

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Benito Mussolini e Adolf Hitler. Foto: History Channel

Benito Mussolini e Adolf Hitler. Foto: History Channel

O fascismo é um movimento político, econômico e social. Ele se desenvolveu em alguns países europeus no período após a Primeira Guerra Mundial. Principalmente naqueles que enfrentavam graves crises econômicas, como a Itália e a Alemanha. Apesar disso, esse conceito é frequentemente mencionado em discussões políticas atuais.

Entre as principais características desse sistema estão a concentração do poder nas mãos de um único líder, o uso da violência e o imperialismo. Mas não é só isso. Confira o que foi o fascismo, como ele ocorreu e quais as principais dificuldades em relação à sua definição – e ainda colocamos dicas de filmes desse período no final do post!

Definição de fascismo

Diferente de outras correntes de pensamento político, o fascismo é um termo de difícil definição. Podendo apresentar diversos significados dependendo do enfoque escolhido e das características acentuadas. Assim, ainda não existe um conceito de fascismo universalmente aceito.

Segundo o filósofo e historiador Norberto Bobbio, o termo fascismo se refere principalmente à sua dimensão histórica. Esta, constituída pelo fascismo italiano e posteriormente pelo fascismo alemão.

Apesar da dificuldade em encontrar uma única definição para o fascismo, as características observadas em diversos regimes fascistas possibilitam a elaboração de uma definição geral, que frisa os aspectos mais comuns desse regime. Confira quais são esses aspectos a seguir.

Conheça outras correntes de pensamento político!

O que é fascismo?

De forma geral, o fascismo é um regime autoritário com concentração total do poder nas mãos do líder do governo. Esse líder deveria ser cultuado e poderia tomar qualquer decisão sem consultar previamente os representantes da sociedade. Além disso, o fascismo defende uma exaltação da coletividade nacional em detrimento das culturas de outros países.

Além de totalitários, os governos fascistas objetivavam expandir seu território por meio de conflitos internacionais. Para isso, realizavam altos investimentos na produção de armas e equipamentos de guerra.

Para garantir a manutenção de seu governo, os líderes fascistas controlavam os meios de comunicação de massa, por onde divulgavam sua ideologia e controlavam todas as informações disseminadas. Qualquer crítica ao governo era aniquilada mediante uso da violência e do terror. Aqueles considerados inimigos de um governo fascista eram punidos com prisão ou morte.

O fascismo na Itália

Com o fim da Primeira Guerra Mundial, a Itália passava por uma forte instabilidade social, política e econômica. Mesmo integrando o grupo de países vitoriosos na Primeira Guerra, a Itália foi ignorada nos tratados pós-conflito. Acabando por não conquistar benefícios que compensassem as perdas sofridas durante a guerra. Ao mesmo tempo, a lenta industrialização e as gritantes diferenças socioeconômicas entre o norte e sul do país dificultavam o crescimento econômico do país, o que gerava desemprego e cada vez mais miséria.

Este contexto mobilizou diversos grupos a encontrarem uma solução para o decadente sistema em que se encontrava o país. O que resultou no crescimento dos partidos mais alinhados à esquerda, como os comunistas, socialistas e anarquistas.

É no contexto de surgimento desses grupos que surgiu o fascismo, destacando-se como líder Benito Mussolini. Mussolini comandou um grupo chamado Fascio de Combate que, posteriormente, formaria o Partido Nacional Fascista (PNF).

Em 1922, os fascistas realizaram a Marcha sobre Roma. Uma manifestação pedindo que o Rei Vitor Emanuel III transferisse o poder para as mãos do Partido Nacional Fascista. Pressionado, o rei convidou Mussolini para fazer parte do governo.

Inserido na esfera do poder político central, os fascistas puderam iniciar seu projeto autoritário e centralizador. Nas eleições de 1924, depois de uma ampla reforma eleitoral que beneficiava os interesses do PNF, os fascistas conquistaram ⅔ do Congresso, ainda que sob alegações do partido socialista de que as eleições haviam sido fraudadas.

Com os partidários fascistas no poder, começava a ditadura fascista, em que o “duce” Mussolini era o líder da nova política italiana. O poder legislativo foi enfraquecido. Os meios de comunicação foram fechados. Todos os partidos à exceção do PNF foram colocados na ilegalidade e a pena de morte passou a ser legalizada.

Além disso, o Estado passou a controlar a economia e tanto as organizações trabalhistas, quanto qualquer forma de oposição ao governo central foram enfraquecidas e desorganizadas.

Com a crise de 1929, a prosperidade econômica vivida no início do regime fascista começou a ser ameaçada. Tentando contornar esse cenário, o governo Mussolini decidiu entrar para a corrida imperialista, buscando restaurar os domínios do antigo Império Romano. Após invasões das tropas italianas a regiões da África, começaram as tensões diplomáticas que conduziram a Europa para a Segunda Guerra Mundial, momento em que Mussolini se aproximou do regime nazista alemão.

Veja o nosso vídeo sobre o Fascismo no Brasil

O fascismo na Alemanha

Adolf Hitler em discurso à juventude nazista. Foto: História Digital
Adolf Hitler em discurso à juventude nazista. Foto: História Digital

Na Alemanha, no período após o fim da Primeira Guerra Mundial, surge um regime autoritário bastante conhecido, que compartilhou diversas características do fascismo. Esse regime é o nazismo, que teve como principal líder Adolf Hitler.

Ao sair derrotada da Primeira Guerra, a Alemanha enfrentou uma profunda crise econômica, sobretudo em função do Tratado de Versalhes. O documento declarava oficialmente a Alemanha como derrotada na guerra e impunha sanções ao país, como perda de territórios e proibição de qualquer produção de armas pesadas, além de obrigar a Alemanha a pagar uma indenização aos países vitoriosos.

Esse cenário pós-Primeira Guerra criou nos alemães um sentimento de revanchismo em relação a outros países. O que fortaleceu o extremismo nacionalista no país.

Com o fim da guerra, o regime monárquico alemão chegou ao fim, dando início à República de Weimar. Nesse período, a Alemanha consegue resultados satisfatórios do ponto de vista econômico, principalmente por causa dos investimentos estrangeiros, vindos sobretudo dos Estados Unidos.

Todavia, a crise de 1929 deixa a economia alemã em situação crítica novamente. Nesse momento, o discurso nazista conquista seguidores, prometendo retomar o crescimento do país através de um Estado Forte.

Articulados dentro da República de Weimar e representados pelo Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães, os nazistas conquistaram 37% dos votos nas eleições de 1932, ocupando 230 cadeiras no Parlamento.

Aprenda também: o que é socialismo?

No ano seguinte, os adeptos ao Partido Nazista pressionavam o presidente Paul Von Hindenburg a conceder mais poderes a Hitler. Com a pressão, Hitler foi indicado a chanceler e posteriormente assumiu o cargo de presidente, além de se auto nomear “o Führer ”. Começava assim o regime nazista na Alemanha.

A ditadura de Hitler teve como principais características a militarização da sociedade alemã, a exaltação do líder e o controle por meio da intensiva máquina de propaganda, que utilizava os meios de comunicação para disseminar as ideias nazistas.

As características principais do nazismo são apresentadas na obra Mein Kampf, escrita por Hitler durante seu período na prisão. Uma das suas mais conhecidas medidas foi o antissemitismo, marcado pela visão racista e eugenista da superioridade do homem branco germânico, a chamada raça ariana. Essa visão resultou na morte de mais de 6 milhões de pessoas em campos de concentração, a grande maioria formada por judeus.

Outra característica do regime nazista foi a visão expansionista. Esta, justificada por uma crença de que o mundo deveria ser dominado pela raça ariana. Com o início da Segunda Guerra Mundial, Hitler tentou invadir diversos territórios.

Em 1941, Hitler tenta invadir a União Soviética. Com o inverno rigoroso, as tropas alemãs foram cercadas e derrotadas. Nesse momento, o governo nazista atinge seu declínio e, em 1945, Hitler é derrotado e seu regime chega ao fim.

Afinal, o fascismo é de direita ou esquerda?

Já explicamos que ainda não existe uma definição universal sobre o fascismo, e que o termo é entendido sobretudo por meio da análise de características em comum encontradas nas experiências fascistas ocorridas na história. Por isso, torna-se difícil situar o fascismo dentro do espectro ideológico.

Comumente, o fascismo é tido como parte da extrema-direita, principalmente pela sua notável oposição ao socialismo. As experiências fascistas contaram com amplo apoio dos banqueiros e industriais, tanto na Itália quanto na Alemanha.

O fascismo, contudo, também se opôs ao liberalismo, sobretudo na defesa do Estado forte e dos interesses de massa em detrimento dos interesses individuais.

De acordo com Norberto Bobbio, as divergências entre o fascismo italiano e o alemão aparecem ao se notar que o primeiro apresentou um caráter revolucionário e radical de esquerda, enquanto o segundo foi essencialmente reacionário e radical de direita. (Dicionário de Política, pág. 468)

Quer entender as posições políticas esquerda e direita? Confira aqui! 

O fascismo no mundo

Embora o fascismo na Itália e na Alemanha sejam as experiências mais conhecidas, as experiências fascistas não se restringiram a elas. Em Portugal, por exemplo, o regime fascista foi comandado por Antônio de Oliveira Salazar entre 1932 e 1968. Já na Espanha, apareceu durante o governo de Francisco Franco, de 1939 a 1976.

Veja também nosso vídeo sobre os golpes de Estado que transformaram o mundo!

A influência dos regimes fascistas chegou até mesmo ao Brasil. Logo após a Revolução de 1930 surge o integralismo, que influenciado pelo fascismo italiano combatia os defensores do pensamento de esquerda. Sua principal liderança foi Plínio Salgado.

Ainda que tenha entrado em crise após a Segunda Guerra Mundial, o fascismo continua a ganhar força em contextos de crise, seja ela econômica, política ou social. Alguns aspectos da ideologia fascista aparecem até hoje em grupos e partidos políticos, como os na Europa que defendem plataformas políticas baseadas na aversão a estrangeiros.

Filmes para entender o fascismo

Por último, deixamos aqui algumas dicas de filmes para que se passam na época do fascismo e do nazismo para aprender enquanto come uma pipoquinha:

  • A vida é bela
  • O menino do pijama listrado
  • A lista de Schindler
  • O leitor
  • A escolha de Sofia
  • Prelúdio de uma guerra
  • A onda

E aí, você já viu algum desses filmes? Recomenda outra obra? Queremos saber sua sugestão!

Referências:

Brasil Escola – Fascismo na Itália

BOBBIO, Norberto, MATTEUCCI, Nicola e PASQUINO, Gianfranco. Dicionário de Política. São Paulo: Editora UnB. 2004.

História do Mundo – Nazismo

Info Escola – Nazismo

Mundo Educação – Fascismo

Uol Educação – Fascismo italiano – contexto histórico: A crise italiana e o Fascio de Combate

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4 comentários em “Fascismo: entenda o conceito”

  1. Parabéns Isabela

    Não havia assistido nada do Politize, ainda que já o veja nas pesquisas do Google faz tempo.

    Conteúdo crítico, inteligente e objetivo, sem ser superficial.

    Sou educador e empresário educacional.

    Há algo que vocês tenham produzido sobre o livro “Os Engeheiros do Caos” de Giuliano Da Empoli – Editora Vestígio?

    O assunto da terrível combinação do populismo de extrema direita com algorítimos e suas máquinas de desinformação são parte de meu interesse.

    Gostaria também e saber qual o posicionamento no espectro político do POLITIZE?

    Prazer conhecê-la

  2. O fascismo é uma forma de vida (Foucault), um forma de se constituir como sujeito, um modo de existir. Para fazer frente se faz necessário quebrar os afetos e mexer na armadura corporal. Os refugiados de guerras e conflitos vivem em verdadeiros campos de concentração em pleno 2023.

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Conteúdo escrito por:
Estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Fascismo: entenda o conceito

15 abr. 2024

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