Trabalho Remoto: nova janela de oportunidades?

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Imagem ilustrativa sobre trabalho remoto.
Imagem: Pixabay.com

Neste texto, vamos abordar sobre a aceleração da transformação digital que trouxe, entre outras consequências, o aumento do trabalho remoto.

O mundo está cada vez mais conectado, o virtual tem se tornado uma extensão do mundo real. Em 2020, as pessoas viram suas vidas sendo transformadas radicalmente pela pandemia de Covid-19. As relações sociais, de estudo e trabalho foram impactadas, passando a ter sua dinâmica direcionada para o meio virtual.

Pesquisas apontam que durante este período a transformação tecnológica foi acelerada, o que estava previsto para acontecer em anos, aconteceu em alguns meses. Este fato forçou que empresas e trabalhadores se adaptassem bruscamente a esta realidade, algumas começaram a adotar o modelo de trabalho remoto/híbrido.

Além das vagas presenciais, que tiveram que ser transformadas, as empresas passaram a ofertar mais vagas remotas e essa tendência deve permanecer para boa parte das empresas. De acordo com a pesquisa realizada pela RH Robert Half, 63,8% dos entrevistados prefere trabalhar em casa.

O trabalho remoto e novas oportunidades

Esta nova dinâmica de trabalho faz com que as oportunidades, que antes ficavam concentradas em grandes centros urbanos, tenham o acesso facilitado para pessoas de outras áreas do país, sem que precisem migrar de suas cidades ou estados. Desta forma, a migração interna e física não precisa ser a única via para o alcance de oportunidades de trabalho em grandes empresas.

O futuro do trabalho está intrinsecamente relacionado ao futuro das relações sociais que estão cada vez mais próximas e conectadas, mesmo com grandes espaços geográficos separando as pessoas. A distância passa a ser medida e interpretada de outra forma, além de quilômetros. Em 2020, as vagas ofertadas no setor de tecnologia cresceram em 310%.

Também é possível observar esta realidade no contexto global, onde o número de  pessoas trabalhadoras migrantes internacionais aumentou  de 164 milhões para 169 milhões, desde 2017. Esta forma de migração também foi afetada pelo impacto da tecnologia e ampliada através do trabalho remoto, essas oportunidades são mais evidentes no ramo de programação e sistemas. A busca por este tipo de vaga serviu de gatilho para ampliar a busca de empregos em empresas estrangeiras, diante de um cenário mais flexível de atuação e ofertas de posições.

Uma start-up de recrutamento que conecta brasileiros a empresas estrangeiras teve crescimento de 400% nesta modalidade de contratação. Este fato ainda é fortalecido pelo salário em dólar, busca por novas oportunidades e o renome de empresas estrangeiras que têm grande visibilidade no mercado, fato que se torna extremamente atrativo.

Quem são as pessoas que estão no trabalho remoto?

De acordo com a Carta de Conjuntura, do IPEA, “Trabalho remoto no Brasil em 2020 sob a pandemia do Covid-19: quem, quantos e onde estão?”, o perfil dos trabalhadores é majoritariamente formado por pessoas brancas, com formação de nível superior/pós-graduação e 21,6% está na faixa etária de 14-29 anos.

Apesar de representar abertura de oportunidades, o home office também tem se tornado um indicador de desigualdade social, pois demanda recursos como eletricidade, bom acesso à internet e computador, impeditivos que afetam cerca de 7 milhões de brasileiros, que poderiam realizar seus trabalhos remotos se tivessem acesso a estes recursos. 

A diferença de realidade entre os “Brasis” é gritante, enquanto, essa nova via de trabalho representa oportunidade para alguns que têm mais acesso à educação e formação de habilidades técnicas e socioemocionais, outros têm sido excluídos e sofrido com o aumento do desemprego, revelando a lacuna a ser preenchida para a inclusão tecnológica de grande parcela da população.

E isso se agrava, quando muitos jovens são forçados a abandonar os estudos em busca de trabalho em busca da sua sobrevivência. A situação torna-se um círculo vicioso que é bastante difícil de ser rompido por jovens sem oportunidades para mudar suas vidas e poderem se desenvolver plenamente. 

Ainda para aquelas pessoas jovens que têm acesso ao mundo digital, os “nativos digitais”, é necessário o incentivo para que essas desenvolvam habilidades socioemocionais para lidar com os desafios enfrentados na nova dinâmica. 

Dilemas do trabalho remoto

É um fato que oportunidades remotas abrem portas para a queda da desocupação para pessoas que possuem formação e habilidades requeridas na área, principalmente, em regiões que eram afetadas pelo desenvolvimento econômico desigual e ofertavam poucas vagas de emprego.

Entretanto, é importante observar outros fatores para análise mais concreta dos impactos que esta nova via carrega. Em uma das Carta de Conjuntura divulgada pelo IPEA, revela que é necessário realizar estudos mais aprofundados e novos índices para observar os trabalhos que podem ser realizados de maneira remota ou outros que foram forçados pela situação disruptiva no contexto de pandemia. 

Outro questionamento que deve ser aprofundado, para a criação de indicadores mais precisos que servirão como base de regulamentação e criação de políticas públicas, é o impacto econômico que o trabalho remoto traz para a região onde o empregado está e a localidade da empresa. Por não ter dados tão concretos em um primeiro momento, tornou-se assunto de segundo plano, mas que deve ter sua discussão ampliada. 

A nova natureza dos negócios e contratos digitais revela flexibilização de fronteiras e isso deve ser observado para que o desenvolvimento possa atingir positivamente a outras pessoas. Além disso, com a digitalização do mercado de trabalho é necessário repensar em políticas de privacidade, concorrência e tributação, como afirmado em relatório do Banco Mundial. As prospecções devem acompanhar o avanço acelerado que esse período trouxe. 

A Covid-19 aprofundou transformações no mundo do trabalho, para aqueles trabalhadores que não estavam qualificados ou não tinham acesso ao trabalho remoto, o impacto foi ainda maior. O distanciamento social deste período fez com que houvesse desaceleração do crescimento de vagas no setor de manufatura.

Por essa razão, é preciso identificar formas de remediar os danos causados pela Covid-19, para que não haja um geração perdida e ninguém seja deixado para trás. É necessário tentar implementar melhorias na educação e seu acesso para que os jovens brasileiros tenham mais oportunidades de conseguir trabalhos dignos. Também é preciso garantir que os jovens que já estão em busca de trabalho consigam oportunidades para sua inclusão produtiva. 

Vislumbres para o futuro

A nova dinâmica revela um mundo de oportunidades, mas oportunidades direcionadas para aquelas pessoas que tiveram acesso ao desenvolvimento de suas competências técnicas e socioemocionais e de ferramentas básicas do trabalho. É possível que abra oportunidades para pessoas de diversas regiões do país, mas que também abra a necessidade de especialização cada vez maior, pois amplia a concorrência por uma vaga. 

E para que a caminhada seja realmente inclusiva a trilha será longa, democratizar oportunidades leva tempo, por isso deve-se pensar em formas de resgatar aqueles que foram tão afetados pelos danos da pandemia de Covid-19. O investimento em Capital Humano é fundamental para a estruturação de soluções. O Capital Humano começa desde a primeira infância para que os direitos básicos sejam garantidos para que estas pessoas possam ter a chance de aprimorar suas habilidades, conhecimentos e potenciais.

É imprescindível buscar por novos dados e criar estratégias locais baseadas em evidências, pois os dados existentes ainda são incompletos para mensurar as implicações desse modelo, tanto a nível local quanto em diferentes regiões. Os dados também precisam de exatidão para falar sobre a diferença entre a região que a pessoa mora versus a localização da empresa e como isso impacta na economia dessas duas regiões, em especial, com a intensificação de brasileiros empregados em empresas de outros países. 

Você também pode ler esse texto sobre empregabilidade dos jovens no pós-pandemia!

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Conteúdo escrito por:
Pernambucana, formada em Relações Internacionais, pela Asces-Unita, e pós-graduanda em Gerenciamento de Projetos, pela Puc Minas. Atualmente, está como gestora de operações do time do Youth Voices Brasil.

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20 abr. 2024

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