Voto útil: entenda a estratégia que pode definir a disputa eleitoral

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O voto é uma arma importantíssima no processo democrático / Imagem: Banco de Imagens

As eleições de 2022 se aproximam e com isso expressões como “voto útil” voltam para a boca do povo na hora da defesa de candidatos.

Nesse tipo de estratégia, o eleitor deixa de apostar no candidato com quem tem mais afinidade para escolher aquele que tem maiores chances de derrotar algum opositor mais forte.

Costuma acontecer quando o candidato desejado não parece ter potencial para ganhar e então o voto é direcionado para evitar que vença aquele que o eleitor não quer ver de jeito nenhum no poder.

Neste texto da Politize! vamos entender um pouco melhor sobre os tipos de voto e a relevância do assunto no contexto atual.

Veja também: Voto impresso: retrocesso ou solução?

Quais são os tipos de voto?

O voto é a declaração oficial das preferências do eleitor. Ao longo da história, alguns tipos foram sendo identificados, tendo como critério de diferenciação os mecanismos que estão por trás dessa escolha.

1- Ideológico: quando a escolha é baseada puramente nas propostas e na capacidade técnica do candidato.

2- De exclusão: muito frequente no segundo turno de eleições majoritárias. É o momento em que o eleitor analisa o candidato que considera “menos pior”, decidindo seu voto devido à rejeição à outra alternativa.

3- Estratégico: acontece quando o eleitor não pensa apenas em sua preferência, mas na eleição como um todo, considerando que é mais interessante impedir a eleição de determinado candidato do que eleger o seu preferido. Nessa análise, são observadas as pesquisas, a viabilidade eleitoral, as propostas e outros fatores.

Um exemplo seria, no primeiro turno, o eleitor que prefere o líder nas pesquisas, ao ficar ciente de que seu candidato possuiria mais chances de vencer o segundo turno caso enfrentasse o terceiro colocado e não o segundo, decidir votar nesse terceiro e não em seu preferido. Ao fazer isso, ele estaria vislumbrando maior probabilidade de vitória de seu candidato favorito e buscando impedir que o segundo colocado fosse eleito.

4- Cabresto: é o voto compulsório, comum em comunidades carentes e típico da república velha. Baseia-se em uma relação de poder em que os mais poderosos obrigam os eleitores a votarem em seus candidatos. É um comportamento ilegal que vai contra os ideais democráticos.

5- Útil: como apresentado anteriormente, o voto útil leva em consideração a viabilidade eleitoral do candidato, garantindo que o voto não será direcionado a um candidato que não tenha reais chances de vitória.

Voto impresso seria problema ou solução? Veja no vídeo abaixo

Possíveis problemas do voto útil

O voto útil é um instrumento legítimo da democracia, mas é necessário prestar atenção no momento em que ele entra em cena. Quando as alternativas se afunilam, é natural que entre opções que não nos satisfazem por completo, escolhamos a mais aceitável.

No entanto, a estratégia aplicada de maneira prematura acaba prejudicando o livre curso das propostas para o país. Se desde o início das campanhas se pensa no “voto útil”, muitas boas ideias acabam se perdendo pelo caminho e acabam não tendo a chance de se viabilizar eleitoralmente.

É preciso compreender, primeiro, para quem esse voto seria efetivamente útil e o que está direcionando as decisões. O voto é uma arma importantíssima no processo democrático e ter essa escolha influenciada pelas pesquisas eleitorais e pela pressão da polarização de maneira precoce pode acabar cegando o eleitor diante de todas as outras alternativas e possibilidades disponíveis.

Dando nome aos bois

Em caso de uma eleição acirrada – e polarizada – como a de 2022, a tendência do eleitor é votar estrategicamente. Para ilustrar melhor a questão com o principal exemplo que temos hoje no país, precisamos começar com a seguinte questão: útil para quem?

O cenário político em 2022 está com sua atenção voltada para o embate entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e Jair Messias Bolsonaro. Em muitas das pesquisas eleitorais anteriores ao primeiro turno, Lula alcançou pontuações próximas dos 50%. Para ele, o interesse é agregar o que falta para a metade mais um, o que lhe daria a vitória já no primeiro turno.

Veja também nosso vídeo sobre a comparação dos governos de Lula e Bolsonaro!

A técnica é consolidar a imagem de que apenas ele seria capaz de derrotar Bolsonaro, conquistando aqueles que não desejam a reeleição do atual presidente e utilizando os brancos e nulos a seu favor.

Já para seu adversário, o voto útil é o contrário. Os números não estiveram favoráveis durante boa parte da campanha, então qualquer voto que ajude a existência de um segundo turno é importante.

Nesse caso, o voto útil antipetista é endossado. Qualquer voto que não seja em Lula já funciona em favor de Bolsonaro, pois distancia a possibilidade de uma vitória no primeiro turno.

Em um contexto fortemente polarizado, o voto vem sendo determinado pela rejeição e não pela proximidade com os candidatos. O voto útil se torna predominante, por conta do medo de não “desperdiçar” o voto, uma vez que o segundo turno entre os dois polos ficou consolidado na mentalidade dos eleitores.

Mesmo com a tentativa de lançamento de uma terceira via, não existiu um nome suficientemente competitivo para ser considerado uma opção. Ciro Gomes e Simone Tebet, por exemplo, não avançaram nas pesquisas.

Então, votar em candidatos que não têm chances de ganhar, mesmo que sejam mais agradáveis aos olhos do eleitor, passa a ser considerado ineficiente frente ao risco de eleição de alguém pior. Assim, os votos são redirecionados para quem possui mais chances de derrotar o outro.

Olhando para a história

Desde a redemocratização do Brasil, a eleição presidencial só foi definida no primeiro turno em duas ocasiões: 1994 e 1998, ambas elegendo Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Em 2018, pouco antes das eleições, o Ibope divulgou uma pesquisa de intenção de votos que revelava a chance de uma vitória de Bolsonaro no primeiro turno, com 39% (e subindo). Então sua campanha mirou na oportunidade de conquistar mais de 50% dos votos através do voto útil antipetista. A ideia era que eleitores de João Amoedo, Alvaro Dias, Geraldo Alkimin e Henrique Meirelles não votassem por ideologia, mas para evitar a volta do PT.

Por outro lado, Ciro Gomes, que estava em terceiro lugar, tentou também – sem sucesso – uma estratégia semelhante. Como argumento, usou números de sondagem de segundo turno em que ele poderia vencer tanto Bolsonaro quanto Fernando Haddad (PT). Buscando conquistar os indecisos e aqueles que eram contra ambos.

O resultado você já conhece. Jair Bolsonaro não conseguiu sua meta inicial, mas foi para o segundo turno com mais de 46% dos votos válidos, contra Haddad com 29% e Ciro com apenas 12%. No final, Bolsonaro foi eleito no segundo turno com mais de 57 milhões de votos.

Leia também: Outubro de 2018: retrospectiva Politize!

Agora você já sabe o que é o voto útil! As eleições estão logo ali e é muito importante entender o jogo democrático para um voto consciente.

Referências:

O Tempo – Você sabe o que é voto útil?
Portal da Câmara dos Deputados – Cientista político explica como funciona o chamado “voto útil”
TSE – Concluída a totalização de votos do 1º turno das Eleições 2018
Veja – Eleições 2022: A quem serve o voto útil agora?

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Conteúdo escrito por:
Carioca e curiosa. Estudante de jornalismo na Universidade Federal do Rio de Janeiro e vê na educação política acessível o primeiro passo pra mudança. Se a política está em tudo, ela tem que ser pra todos.

Voto útil: entenda a estratégia que pode definir a disputa eleitoral

30 abr. 2024

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