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Quem é Fernando Collor? Entenda sua trajetória, governo e impeachment

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Fernando Collor é um dos nomes mais marcantes na política brasileira. Ele foi o 32º presidente do país e seu governo teve uma trajetória repleta de polêmicas, crises e um desfecho inédito: foi o primeiro presidente do país a sofrer um processo de impeachment.

Entre turbulências econômicas e políticas, Collor apresentou propostas ambiciosas para modernizar o Brasil, mas os efeitos de suas medidas e denúncias de corrupção acabaram por minar seu mandato.

Neste texto, a Politize! explica quem é Fernando Collor e o que aconteceu durante sua passagem pela presidência.

Quem é Fernando Collor?

Fernando Affonso Collor de Mello nasceu em 12 de agosto de 1949, no Rio de Janeiro. Filho de Leda Collor e Arnon Afonso de Farias Mello, foi criado em uma família com forte tradição política. Arnon foi deputado federal em 1950 e governador de Alagoas entre 1951 e 1956.

A influência política da família remonta ao avô materno, Lindolfo Collor, deputado federal pelo Rio Grande do Sul (1923–1926 e 1927–1930), um dos líderes da Revolução de 1930.

Durante o governo provisório de Getúlio Vargas (1930-1945), organizou e foi ministro do Trabalho, Indústria e Comércio até 1932.

Fernando Collor formou-se em Economia pela Universidade de Brasília. Em Maceió, atuou como jornalista e assumiu a direção do jornal Gazeta de Alagoas em 1973, gerenciando os negócios familiares nas Organizações Arnon de Mello.

Foi eleito presidente da República em 1989, após derrotar Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno. Tornou-se, assim, o primeiro presidente eleito por voto direto pela população após a ditadura militar (1964–1985).

Com cerca de 35 milhões de votos, mais da metade dos votantes, os brasileiros elegeram um presidente pela primeira vez desde 1960.

Dois anos depois do início de seu mandato, Collor sofreu um processo de impeachment em decorrência de denúncias de corrupção, sendo o primeiro presidente da história do Brasil a deixar o cargo dessa forma.

Imagem de fernando collor mais jovem usando a faixa presidencial, em um fundo azul.
Fernando Collor. Imagem: Wikipedia.

Trajetória política

A trajetória política de Collor é marcada por uma série de eventos que refletem as transformações políticas do Brasil e a complexidade de sua própria carreira.

Iniciando sua jornada no cenário político em um período de regime militar, ele ocupou diversos cargos, desde a prefeitura de Maceió até a presidência da República. A seguir, apresentamos um resumo dos principais marcos na trajetória política de Fernando Collor:

  • Prefeito de Maceió (1979–1982): nomeado durante o regime militar;
  • Deputado federal por Alagoas (1983–1987): atuação durante a redemocratização;
  • Governador de Alagoas (1987–1989): ganhou projeção nacional com discurso contra os “marajás” (servidores com altos salários);
  • Presidente da República (1990–1992): eleito em 1989 pelo PRN (Partido da Reconstrução Nacional), com propostas de combate à corrupção, modernização econômica e abertura de mercado;
  • Impeachment na Câmara (2 de outubro de 1992): afastado temporariamente após abertura do processo;
  • Renúncia (29 de dezembro de 1992): renunciou pouco antes da votação final no Senado, mas teve seus direitos políticos suspensos por 8 anos;
  • Tentativas de retorno (2002 e 2010): tentou se candidatar à prefeitura de São Paulo em 2000, foi barrado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE); disputou o governo de Alagoas em 2002 e 2010, sem sucesso;
  • Senador por Alagoas (2007–2015): eleito em 2006, primeiro pelo PRTB (Partido Renovador Trabalhista Brasileiro), depois filiado ao PTB (Partido Trabalhista Brasileiro).

Veja também: Impeachment de Dilma e Collor: comparação em 5 pontos

Ideias defendidas por Collor

Fernando Collor chegou ao poder, com um discurso liberal e de combate à corrupção. Entre suas principais bandeiras estavam:

  • Modernização da economia: redução de tarifas de importação, privatização de estatais e estímulo ao investimento estrangeiro;
  • Abertura comercial: integração do Brasil ao mercado internacional;
  • Enxugamento do Estado: redução do número de ministérios e cargos comissionados;
  • Combate à corrupção e à burocracia: defesa de maior eficiência e transparência na administração pública.

O que Fernando Collor fez em seu governo?

Durante seus três anos de presidência, Fernando Collor de Mello se destacou por implementar uma série de medidas consideradas ousadas que visavam transformar a política e a economia do Brasil.

Assumindo o cargo em um período marcado por altos índices de hiperinflação e descontentamento popular, Collor buscou uma abordagem radical para enfrentar os desafios econômicos herdados do governo anterior.

Suas iniciativas foram recebidas com uma mistura de otimismo e ceticismo, refletindo a fragilidade do sistema político da época e a necessidade urgente de reformas. Entre as propostas que ele defendeu, algumas se tornaram emblemáticas, enquanto outras levantaram questões sobre a relação entre o governo e a população. A seguir, apresentamos um resumo dos principais planos que foram elaborados por Collor e suas respectivas características.

1. Plano Collor (1990)

O objetivo era combater a hiperinflação herdada do governo Sarney. Nesse sentido, as principais medidas tomadas foram:

  • A troca da moeda brasileira de cruzado-novo para cruzeiro, mas sem corte de zero; os cruzados-novos bloqueados poderiam ser usados por 60 dias para pagamento de impostos, taxas, contribuições e obrigações previdenciárias e por 180 dias podiam ser transferidos entre pessoas físicas e jurídicas;
  • Confisco da poupança: bloqueio de valores acima de 50 mil cruzeiros por 18 meses;
  • Remoção de mecanismos que ajustavam automaticamente os preços à inflação para reduzir a inércia inflacionária;
  • Abertura comercial: redução de tarifas de importação;
  • Criação do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) com pagamento de 8%;
  • Privatizações: início do programa de desestatização.
  • Consequências do Plano Collor:
  • Recessão econômica, embora tenha reduzido a inflação no curto prazo;
  • O confisco das poupanças gerou grande insatisfação popular, enquanto a recessão levou ao aumento do desemprego e à desaceleração da indústria;
  • Denúncias de corrupção contra o governo minaram ainda mais seu apoio político.

Saiba mais: O que foi o Plano Collor?

2. Reformas administrativas

  • Redução de ministérios e gastos públicos;
  • Tentativa de racionalização da máquina estatal.

3. Política externa

4. Imagem pública

  • Usou com intensidade os meios de comunicação;
  • Construiu a imagem de “Caçador de Marajás”, combatendo privilégios no funcionalismo.

O que foi o escândalo da poupança?

Logo no início do mandato, o ex-presidente anunciou o Plano Collor, que incluía o bloqueio de saldos bancários acima de 50 mil cruzeiros por 18 meses.

A medida gerou pânico econômico, já que milhões de brasileiros ficaram sem acesso ao próprio dinheiro, afetando famílias e empresas.

Apesar de conter temporariamente a inflação, o plano gerou desemprego, falências e queda na atividade econômica, resultando em grande perda de apoio popular.

Como aconteceu o processo de impeachment?

Além da impopularidade do Plano Collor, denúncias de corrupção abalaram ainda mais seu governo.

As acusações partiram de seu próprio irmão, Pedro Collor, que revelou um esquema envolvendo o ex-tesoureiro da campanha, Paulo César Farias.

Segundo Pedro, o tesoureiro seria “testa de ferro” do presidente em negociações ilegítimas, ou seja, aquela pessoa que faz a intermediação de transações financeiras fraudulentas, a fim de ocultar a identidade de quem realmente as contrata.

Em junho de 1992, o Congresso instaurou uma CPI para tratar das atividades de PC Farias. Com o desenrolar dos trabalhos da comissão, as acusações de Pedro Collor foram ganhando substância, com muitas provas de transações ilícitas ligando PC Farias a Collor.

As investigações apontaram corrupção passiva, enriquecimento ilícito, improbidade administrativa e desvio de recursos públicos. A perda de apoio político no Congresso resultou na abertura do processo de impeachment.

Imagem de várias pessoas na rua, especialmente jovens, manifestando nas ruas contra collor. Carregam faixas com escritos como "fora collor" e "ladrão"
Fotografia de manifestação de 1992. Imagem: Divulgação/Repórter Unesp

Em setembro de 1992, a Câmara dos Deputados aprovou a abertura do processo de impeachment com ampla maioria. Em 29 de dezembro do mesmo ano, Collor renunciou na tentativa de evitar a cassação de seus direitos políticos.

No entanto, o Senado decidiu seguir com o julgamento e o declarou inelegível por oito anos, por crime de responsabilidade, uma infração cometida por autoridades públicas.

Leia também: O caminho para a cassação de um mandato

Consequências do impeachment de Collor

Apesar de ter sido o primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura, seu impeachment afetou sua imagem histórica. Por outro lado, abriu caminho para uma mobilização popular inédita contra a corrupção.

Seu vice, Itamar Franco, assumiu o cargo e conduziu um governo de transição que trouxe estabilidade política e econômica, com a criação do Plano Real, implementado por Fernando Henrique Cardoso.

O episódio também marcou um divisor de águas na democracia brasileira, ao mostrar que a sociedade civil e as instituições podiam exigir a responsabilização de um presidente.

O que aconteceu com Collor depois do impeachment?

Após cumprir a suspensão de oito anos, Collor retornou à política em 2006, sendo eleito senador por Alagoas. Em 2017, tornou-se réu na Operação Lava Jato, e, em 2023, foi condenado pelo STF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Em 2025, cumpre pena de 8 anos e 10 meses em regime domiciliar e enfrenta também problemas financeiros, como a perda do controle da TV Gazeta de Alagoas por dívidas judiciais.

Saiba mais: Entenda tudo sobre a prisão de Fernando Collor

Legado

Fernando Collor entrou para a história como o primeiro presidente eleito por voto direto após a ditadura e também como o primeiro a ser afastado por impeachment.

Seu governo é lembrado tanto pelas tentativas de modernização econômica, quanto pelas medidas que geraram resistência popular e escândalos de corrupção.

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Conteúdo escrito por:

Erica Yazigi Roumieh

Jornalista e defensora dos direitos humanos, acredito que uma boa comunicação e acesso a informação podem mudar o mundo. Sou paulista e descendente de árabe. Meu coração dividido por essa duas culturas é inteiramente apaixonado pelas pessoas e pelas artes.
Roumieh, Erica. Quem é Fernando Collor? Entenda sua trajetória, governo e impeachment. Politize!, 27 de junho, 2025
Disponível em: https://www.politize.com.br/fernando-collor/.
Acesso em: 27 de jun, 2025.

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