Combate à violência política de gênero: denúncia e apoio à vítima

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Esse tipo de violência ocorre principalmente nas redes e tem um caráter psicológico, mesmo quando é presencial. Imagem: Freepik

Este é um texto produzido pelo Eixo de Produção Textual Politize! Mulheres, um projeto feito por e para mulheres, que produz conteúdo com temáticas relevantes para o universo feminino.

Para entendermos como é para uma mulher enfrentar o dia a dia na política precisamos falar de uma das práticas mais corriqueiras nesse meio: a  violência de gênero na política.

Essa prática é a continuação de um dos mecanismos de atos desumanos, mais antigos e mais comuns, aos quais todas as mulheres estão sujeitas a passar. Isso ocorre, principalmente, quando exercem a representatividade em espaços de poder. É preciso ainda lembrar que esses espaços foram, inicialmente, criados e feitos por homens, ou seja, uma instituição/sociedade já moldada para não ter mulheres em posições de poder.

Diante disso, elas passam a ser transgredidas por meio da violência de gênero que agrega diversas características, sejam elas: físicas, intelectuais, morais, sociais, de orientação sexual, pela cor, pela religião, no modo de falar ou até pelo estilo de roupa.

Em vista disso, há de se observar, claramente, a inobservância do Estado Democrático de Direito que, de acordo com o Preâmbulo da Constituição Federal de 1988, estabelece:

“Exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça são valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna.”

Neste texto, você terá a oportunidade de saber mais sobre o mecanismo da violência política de gênero, como denunciar a prática e como apoiar as vítimas. 

A violência política de gênero no Brasil e na América Latina

Para compreender a violência política de gênero no Brasil e na América Latina é importante entender o que seria a violência política, pois apresenta diferentes sentidos, principalmente de acordo com a sua localidade, e cultura; por isso, é importante compreender a incapacidade de comparações, de modo que não haja indicadores específicos que levem a definições, mas contextos estruturais.

De acordo com a Agência Câmara de Notícias, neste ano, foi apresentada uma pesquisa pelo Instituto Alziras, no qual pode-se destacar que “53% das prefeitas eleitas em 2016 já sofreram assédio ou violência política pelo simples fato de serem mulheres”. 

Além disso, coloca o fato de que a discriminação se torna mais elevada se a mulher for negra, como também, a mulher trans que está em uma situação, ainda mais, cruel, seguida de ataques pessoais e ameaças consumadas ou não.

A violência política de gênero é um fenômeno global precursora de uma campanha realizada pela ONU, denominada #violêncianão, em novembro de 2020. Vale salientar que esses eventos se tornam ainda mais evidentes em épocas eleitorais ou quando uma mulher ocupa um cargo político.

O impedimento da realização de suas campanhas, a negação de sua liberdade de expressão e seu lugar de fala por conta de ações e atos violentos, inclusive podendo levar até a perseguição e morte, são algumas das situações que mulheres que ousam ingressar na política acabam enfrentando.

O mais grave é que esse tipo de atitude ultrapassa barreiras surpreendentes como o lar, o entorno de vivência e a moradia, envolve o ambiente virtual com ameaças e criação de fatos irreais, mais conhecidos como fake news e, no âmbito público, no qual valores são distorcidos pela mera questão de gênero e/ou sua sexualidade, ou ainda, a desvalorização do conhecimento.

Esses fatos se configuram por toda a América Latina, e referem-se à grave violação dos direitos humanos que ameaça o processo democrático e também exclui o papel da mulher na esfera política. 

Vários movimentos de mulheres vêm buscando diminuir essa enorme distância acerca da  participação ativa na política. A América Latina avança nas discussões sobre o tema que, de tão amplo, tem se destacado ao tornar-se pauta em agendas de atores políticos. A consequência é uma trajetória de referências que pontuam ações voltadas ao problema, traduzida em movimentos que ao longo da última década materializam-se em legislações.

Um marco foi a criação do Protocolo Modelo para Partidos Políticos: prevenir, atender, punir e erradicar a violência contra mulheres na vida política. Esses instrumentos juntos buscam normatizar condutas e garantir que a mulher possa transitar livremente nos espaços políticos enquanto protagonista, sem a necessidade de subserviência, mas como legítima representante legal. 

Vale lembrar que todos esses fatores são condicionantes à baixa participação feminina nos espaços políticos, embora, recentemente, por ocasião do pleito eleitoral que se aproxima, veículos de comunicação na imprensa nacional têm apresentado a informação de que “nestas eleições, o voto feminino é determinante”, configurando um poder de decisão massivo das mulheres brasileiras, representando 52% dos votos.

Assista também ao nosso vídeo sobre a representatividade feminina na política

Canais para denúncia

Como parte de um processo de busca no combate à violência política de gênero é preciso facilitar apoio à participação feminina nos espaços políticos, para conscientizar, diminuir, acabar ou punir essa sequência de ações de violência contra a mulher existem alguns canais de comunicação que podem ser utilizados:

• Central de Atendimento à Mulher: é um serviço de proteção internacional à mulher, para isso basta ligar 180, gratuitamente. O funcionamento é de 24 horas, em todo o território brasileiro, e também em mais 16 países. Além disso, o serviço também oferece proteção à brasileiras que moram na Argentina, Bélgica, EUA, França, Guiana Francesa, Holanda, Inglaterra, Luxemburgo, Noruega, Paraguai, Suíça e Uruguai;

• Fale Conosco da Câmara dos Deputados: central de atendimento eletrônico para o cidadão, tal como: reclamações, denúncias, sugestões, elogios, manifestações, solicitações de informação e recebimento de resposta da Câmara dos Deputados, podendo ser realizado em qualquer dia da semana, a qualquer horário.

Como meu partido e demais parlamentares podem me apoiar?

Apesar desta jornada, as mulheres seguem buscando seu protagonismo nos espaços políticos. A cultura do masculino, do homem como tomador de decisões, segue enraizada e referendado as ações idealizadas e realizadas, o que fortalece a discriminação.

O sistema de cotas, Lei das eleições de 2009, eleva a participação feminina nos partidos políticos, foi criada para garantir sua representatividade; contudo não tutela sua ascensão como representante legítima, porque a ordem projetada não a insere como elo desse processo.

Partidos políticos de esquerda, de direita, ou de qualquer ordem, devem fortalecer as candidaturas femininas, não como elemento para cumprir tabela, mas para promover a inclusão das mulheres na política;

“Penso que essa luta é de todas as mulheres, fortalecendo os grandes e pequenos partidos com suas presenças massivas e seu poder de voz e de presença”, afirma Magda Maria Pereira dos Santos, mobilizadora da Embaixada Politize! de Fortaleza (CE). 

Conheça mais sobre os Direitos das mulheres no vídeo abaixo

Você sabe o que podemos fazer para apoiar uma vítima de violência política de gênero?

Em primeiro lugar, esse tipo de violência ocorre principalmente nas redes e tem um caráter psicológico, mesmo quando é presencial. Assim sendo, o principal apoio que podemos prestar também é psicológico: a pessoa que sofre essa violência precisa saber que não está sozinha e que há outras pessoas que compreendem a violência pela qual ela está passando.

Para isso, podemos demonstrar nosso apoio nas redes não apenas respondendo às postagens da vítima, mas também replicando o conteúdo dela. Outra forma é criar conteúdo de apoio, mesmo que sejam curtos vídeos falando não apenas da violência, mas também da importância que têm para todas as mulheres o apoio de mulheres concorrendo às eleições, especialmente mulheres negras que, como sabemos, sofrem muito mais com a violência de todos os tipos no seu dia a dia.

De forma presencial, em vez de replicar a violência, e criar um ciclo difícil de sair, basta usar a comunicação não violenta para demonstrar o suporte à pessoa que sofreu a violência, afinal, o que acreditamos é que a mulher que está sofrendo consiga se sentir acolhida, e devemos apoiar, para que não haja abertura para mais atitudes misóginas.

Essa luta é de TODXS!

Como vimos nessa pequena abordagem do tema, a experiência de uma mulher no âmbito político, é cercada de desafios, mas diferentes dos homens, que enfrentam desafios relacionados à ideologia política que defendem e acreditam, as mulheres também precisam lidar com o preconceito e a violência que vem com ele.

Ao desafiar o padrão imposto pelas sociedades anteriores, ao ingressarem na política, as mulheres aumentaram sua representatividade, e essa, é tão importante, pois é ferramenta que auxilia para que, ao longo do tempo, a existência de uma mulher na política seja tão normal, a ponto de não haver razão para textos com esse tipo de abordagem.

Mas até esse ideal se tornar realidade, há que se percorrer muito chão, e quebrar alguns tabus na política e na sociedade, e, para isso, a educação e conscientização são fundamentais. A começar por textos como esse que, ainda que não agradem aos olhos de alguns, torna-se fundamental, pois negar o problema não o exclui.

Nós, da Politize! Mulheres, desejamos que os problemas que as mulheres enfrentam, seja em qual área da sociedade for, sejam acolhidos por todos, e não negados. Pois acreditamos que esse é o primeiro passo para a mudança!

Referências:

Azmina – Violência política de gênero: as diferenças entre os ataques recebidos por mulheres e seus oponentes
Azmina – Em Santa Catarina, 61% das candidatas dizem já ter sofrido violência política de gênero – Link para a matéria
Câmara dos Deputados – Secretaria da Mulher – Violência política de gênero: a maior vítima é a democracia 
ONU Mulheres – ONU Mulheres e Gênero e Número reúnem experiências e boas práticas de países latino-americanos na prevenção e no enfrentamento à violência política contra as mulheres em novo informativo 
ONU Mulheres- Em toda a América Latina, as mulheres lutam contra a violência na política
Politize – O que é violência política de gênero 
Politize! – O que é violência política de gênero 
Politize – O que é violência de gênero e como se manifesta?
Redes cordiais – Mulheres na política: guia para enfrentamento de violência política de gênero

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Conteúdo escrito por:

Ana Luísa Martins

Coordenadora do Eixo de Produção Textual do Projeto Politize! Mulheres. Embaixadora politize! Ouro Preto, em Ouro Preto/MG. Membra do projeto Politize! Mulheres. Graduada em Engenharia Civil, pela Universidade Federal de Ouro Preto. Participou de projetos de cunho social como: Rotaract, DCE e WeLab by Heineken.

Julia Magalhaes

Mobilizadora da Embaixada Politize! Ouro Preto, em Ouro Preto/MG. Membra do projeto Politize! Mulheres; Assessora na Procuradoria Jurídica Municipal de Ouro Preto; Graduanda em Direito pela Universidade Federal de Ouro Preto; Atua em Projeto científico de Mediação e na Ouvidoria Feminina da UFOP, participou do Grupo de Estudos em Ciências Penais.

Lais Vitoria Cunha de Aguiar

Redatora do Eixo de Produção textual Projeto Politize! Mulheres. Embaixadora Politize! Brasília/DF. Aos 16 anos comecei escrevendo para a ONG australiana Climate Tracker, que treina jovens para serem jornalistas climáticos, e com isso publiquei para EcoDebate e outros meios de comunicação. Desde 2015 participei dos Jornalistas Livres como freelancer e por um ano (2015-2016), do Mídia Ninja. Tenho uma coluna no Brasil 247 e público em outra com o Brasil De Fato. Estou no último semestre de Línguas Estrangeiras Aplicadas ao Multilinguismo no Ciberespaço (UnB) e coordeno o Parlamento Mundial da Juventude no Brasil. Desde que entrei para faculdade voluntario com questões de refúgio, por um ano na Cáritas, por dois anos no Ministério da Justiça, e um tempo dando aula de português para estrangeiro, assim como trabalhei com crianças refugiadas.

Lara Barril

Coordenadora do Eixo de Produção Textual Projeto Politize! Mulheres. Embaixadora Politize! São Paulo/SP. Tornou-se estagiária da Magistratura no TJSP por dois anos. Se destacou no jurídico de uma empresa de recuperação de crédito. Advogada, graduada em Bacharelado em Direito pelo Centro Universitário Assunção UNIFAI-PUC. Atualmente atua no setor de Desenvolvimento Institucional da Associação Aliança de Misericórdia, uma das 100 Melhores ONGs do Brasil, eleita pelo quarto ano consecutivo.

Magda Maria Pereira dos Santos

Redatora do Eixo de Produção Textual do Politize! Mulheres. Embaixadora Politize! de Fortaleza/ CE, diretora da ONG @idososcoletivo. Professora, especialista em Gestão Escolar, formação em Círculos de Diálogos. Com permanente interesse nas questões ligadas aos temas democracia, política, movimentos sociais e gestão positiva de conflitos.
Martins, Ana; Magalhaes, Julia; Aguiar, Lais; Barril, Lara; Santos, Magda. Combate à violência política de gênero: denúncia e apoio à vítima. Politize!, 15 de setembro, 2022
Disponível em: https://www.politize.com.br/combate-a-violencia-politica-de-genero-denuncia-e-apoio-a-vitima/.
Acesso em: 18 de jan, 2025.

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