Pessoas se abraçando

Por onde começar a aprender política?

Publicado em:

Compartilhe este conteúdo!

Começar a aprender política no Brasil ainda é um grande desafio para muitas pessoas. Essa dificuldade está ligada a diversos fatores históricos, sociais e culturais, como a baixa educação política da população, o sentimento de desconfiança nas instituições e a crença de que política é “coisa de político”. Estudos apontam que muitos brasileiros sentem apatia em relação ao tema, o que compromete a participação cidadã para além das urnas.

No entanto, compreender a política é essencial para exercer nossos direitos e deveres de forma consciente e crítica. Neste guia, reunimos caminhos práticos e acessíveis para quem deseja dar os primeiros passos nesse universo — da leitura de clássicos à análise de notícias, passando pelo conhecimento do sistema político e da atuação cidadã cotidiana. Acompanhe a leitura!

Por que é tão difícil começar a aprender política no Brasil?

De acordo com estudo realizado pelo Cientista Político José Álvaro Moisés, vivemos em uma sociedade na qual parte das pessoas possuem um sentimento de apatia política. O estudo descreve e analisa o impacto de fatores, como a apatia e a desconfiança, sobre a adesão à democracia e também sobre o tipo de democracia preferido pelos entrevistados brasileiros.

Toda democracia convive com um pouco de desinteresse político. Segundo o economista Anthony Downs, em seu livro Uma Teoria Econômica da Democracia, muitas pessoas escolhem não se envolver com a política como uma forma consciente de se posicionar. Para ele, esse comportamento pode ser visto como algo racional e até positivo.

É importante pontuar que existe diferença entre não participar da política por opção e não participar por não saber como. Segundo o sociólogo Ricardo de Oliveira, a falta de preparo do cidadão é grande no Brasil e dificulta a participação fora do período eleitoral.

Vejamos então formas de aprender sobre política!

1. Ler os clássicos

É importante conhecer e ler os pensadores clássicos, como:

  • Maquiavel: o autor chama a atenção por defender que o poder, a honra e a glória são bens que devem ser perseguidos e valorizados e cujo pensamento político se apoia no conceito de que a estabilidade da sociedade e do governo precisam ser conseguidos a todo o custo;
  • Hobbes: fundou sua filosofia política sobre uma construção racional da sociedade e sua originalidade e novidade, está em admitir a existência do pacto social. O contrato social em Hobbes corresponde ao momento em que as pessoas transferem os seus direitos naturais ao Estado, portanto, o indivíduo passa a não ter mais direito, visto que o Estado é absolutista. Hobbes é o criador do conceito soberania do Estado;
  • Montesquieu: criticava a teoria do jusnaturalismo, ou “direito divino”, bem como da “soberania absoluta” dos governantes, defendendo em suas ideia que o Estado e o poder monárquico são resultado de um contrato entre governantes e governados, e não da vontade pessoal, como se pensava. Acabou por criar uma teoria política que se reflete na divisão dos poderes estatais e constitui-se em objeto de vida para acadêmicos e políticos até os dias de hoje;  
  • Os Federalistas: frutos da reunião de uma série de ensaios publicados na imprensa de Nova York em 1788, com o objetivo de contribuir para a ratificação da Constituição Federal dos EUA, é uma obra conjunta de três autores, Alexander Hamilton (1755-1804), James Madison (1751-1836) e John Jay (1745-1829) e que constitui as bases do “moderno federalismo”;
  • Tocqueville: fez um estudo descritivo das várias instituições democráticas americanas e demonstrou a influência da democracia sobre os sentimentos, as ideias e costumes;
  • Stuart Mill: em sua obra, o liberalismo deixa de adquirir um posicionamento conservador, defensor do voto censitário e da cidadania restrita, para incorporar em sua agenda reformas que vão desde o voto universal até a emancipação da mulher. Há ainda um esforço para enquadrar e responder as demandas do movimento operário inglês. Nesse sentido, sua obra pode ser tomada como um compromisso entre o pensamento liberal e os ideais democráticos do século XIX, pelo fato de reconhecer que a participação política não pode ser encarada como um privilégio de poucos, mas que o trato da coisa pública diz respeito a todos;
  • Max Weber e Karl Marx.

Além de tantos outro, como Locke, Rosseau, Burke, Kant, Hegel… Uma boa recomendação é  ler a Coleção Os Clássicos da Política, organizada por Francisco C. Weffort, pois as grandes obras clássicas sobre política estão explicadas nessa coletânea de artigos, de maneira fácil de entender.

2. Como seu país, seu estado e seu município são governados?

Para entender nossas eleições, nossos partidos e todas as instituições políticas do país, é importante compreender como funciona o Sistema Político Brasileiro.

Recomendamos a leitura do livro Sistema Político Brasileiro: uma introdução, organizado por Lúcia Avelar e Antônio Octávio Cintra, que é uma coletânea de artigos sobre como funciona o nosso sistema político. Nela se reúnem textos introdutórios, dirigidos à população comum que deseja se informar sobre política e busca responder algumas questões tais como:

3. Assista, ouça e leia notícias

Consumir informação política é uma forma fundamental de entender o funcionamento da sociedade e participar ativamente do debate público. A mídia é muito importante nesse processo, ainda que nem sempre seja isenta de críticas. Muitas vezes, o noticiário dá destaque a escândalos de corrupção e casos de má gestão, o que pode gerar desilusão ou desinteresse. No entanto, essa abordagem também cumpre a função de fiscalizar o poder público, algo essencial em uma democracia.

Por outro lado, também há iniciativas jornalísticas e programas que oferecem análises mais aprofundadas e construtivas sobre a política nacional e internacional, mostrando boas práticas, inovações em gestão pública e exemplos de engajamento cidadão. Diversificar as fontes de informação ajuda a ter uma visão mais completa da realidade política.

Entre os programas recomendados estão o Estúdio i (GloboNews), com análise em tempo real dos principais acontecimentos políticos do Brasil e do mundo, e o Roda Viva (TV Cultura), um dos mais tradicionais programas de entrevistas do país, que recebe figuras relevantes da política, economia e sociedade civil. A Revista Piauí continua sendo uma referência em jornalismo investigativo e narrativo, com reportagens aprofundadas sobre política e sociedade.

Além disso, é interessante acompanhar veículos com abordagens ideológicas variadas para ampliar sua visão crítica. Por exemplo:

  • CartaCapital traz uma abordagem mais alinhada à esquerda;
  • Gazeta do Povo apresenta conteúdo com viés conservador e liberal;
  • Nexo Jornal e Poder360 oferecem análises com uma proposta mais analítica e equilibrada.

Também existem canais no YouTube e podcasts no Spotify que abordam política de forma acessível, informativa e a partir de diferentes pontos de vista. Alguns exemplos:

YouTube:

  • Politize! – Canal de educação política que explica conceitos, instituições e debates atuais de forma clara e apartidária. Ideal para quem está começando.
  • MyNews – Criado por jornalistas como Mara Luquet e Antonio Tabet, mistura jornalismo com humor e entrevistas, com debates sobre economia, política e sociedade.
  • Greg News – Apresentado por Gregório Duvivier (linha editorial mais progressista), comenta semanalmente temas políticos com sátira e profundidade.
  • Spotniks – Canal com viés liberal, que aborda economia, política e filosofia com uma linguagem provocativa.
  • Tese Onze – Produzido pela cientista política Sabrina Fernandes, traz análises sobre política e sociedade com viés de esquerda crítica.

Spotify / Podcasts:

  • Café da Manhã (Folha de S.Paulo) – Episódios diários com os principais temas do noticiário, de forma resumida e acessível;
  • Durma com essa (Nexo Jornal) – Análises concisas sobre temas importantes do dia;
  • O Assunto (G1) – Jornalismo explicativo sobre os principais temas políticos e sociais do Brasil;
  • Petit Journal – Foco em política internacional e economia, com linguagem leve e didática;
  • A Terra é Redonda – Podcast com convidados variados para discutir política, filosofia, cultura e sociedade.

Explorar fontes diversas e identificar o viés de cada uma ajuda a desenvolver uma visão crítica, informada e plural da política.

4. Pesquise o que você não entender

Ampliar seu vocabulário político é essencial para compreender melhor discursos, debates, reportagens e decisões que impactam sua vida. Muitas expressões e conceitos usados na política podem parecer complicados ou distantes, mas entendê-los é o primeiro passo para participar de forma mais consciente da vida pública.

Sempre que se deparar com uma palavra ou termo que não conhece, não deixe passar. Buscar o significado de forma ativa é uma maneira de construir autonomia e senso crítico.

Uma boa estratégia é consultar fontes confiáveis e atualizadas, como:

  • Dicionário da Política – Politize!: com mais de 230 conceitos explicados de forma clara e acessível, esse dicionário online é atualizado semanalmente e traz definições de termos como “Estado”, “democracia”, “populismo” e “reforma administrativa”, entre muitos outros. É ideal para quem está começando a estudar política;
  • Dicionário de Política – Norberto Bobbio, Nicola Matteucci e Gianfranco Pasquino: obra clássica da ciência política, é uma fonte mais densa e analítica, que traz o contexto histórico, filosófico e institucional de conceitos fundamentais. Recomendado para quem deseja se aprofundar e entender as raízes teóricas por trás das ideias políticas.

Além desses, vale consultar:

  • Enciclopédia do Nexo Jornal – Com verbetes explicativos sobre temas da política contemporânea;
  • Glossário da Câmara dos Deputados – Disponível no site oficial, com explicações sobre o funcionamento do legislativo;
  • Constituição Federal de 1988 (versão comentada ou em linguagem cidadã) – Um ótimo recurso para entender os fundamentos da política brasileira;
  • Podcasts e vídeos explicativos (como os do canal Politize! no YouTube) também ajudam a traduzir termos em linguagem mais acessível.

Dica: Ao pesquisar, compare diferentes definições e perceba se há viés político ou ideológico nas explicações. Isso também é parte do aprendizado: entender que os conceitos podem ser disputados e interpretados de formas diferentes dependendo do contexto e da linha de pensamento.

Aprender o vocabulário da política é aprender a linguagem da cidadania. Quanto mais você entende, mais preparado está para participar, opinar e decidir com consciência.

5. Pesquise o histórico dos políticos e seus antecedentes antes de votar

O voto é o ponto alto da participação do cidadão na democracia representativa. É por meio dele que escolhemos quem tomará decisões em nosso nome nos níveis municipal, estadual e federal. Por isso, votar com responsabilidade exige informação e atenção.

Antes das eleições, é importante acompanhar o trabalho dos candidatos, entender sua trajetória, posicionamentos e histórico de atuação. Ferramentas como o site Ranking dos Políticos, o portal TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a plataforma Parlamento Aberto oferecem dados sobre votações, presença em sessões e uso de verbas públicas.

Mas a participação política não se resume ao voto. Você pode (e deve) exercer sua cidadania no dia a dia, especialmente no âmbito municipal, que é onde a democracia participativa acontece de forma mais próxima:

Como participar da política além do voto?

  • Engaje-se nos Conselhos Municipais: conselhos como o da Saúde, Educação, Meio Ambiente, entre outros, são espaços abertos à sociedade civil para deliberar e fiscalizar políticas públicas. Você pode participar como representante da comunidade ou acompanhar os debates;
  • Participe do Orçamento Participativo (OP): onde existir, o OP permite que moradores decidam onde parte do dinheiro público deve ser investido. Caso sua cidade não tenha essa iniciativa, você pode propor sua criação na Câmara de Vereadores ou por meio de abaixo-assinados;
  • Apoie iniciativas como o Programa Cidades Sustentáveis: esse programa propõe que prefeituras se comprometam com metas baseadas em indicadores de desenvolvimento social, ambiental e econômico, criando uma gestão mais planejada e transparente;
  • Fiscalize por meio dos Portais da Transparência: os sites das prefeituras, câmaras e autarquias devem, por lei, divulgar gastos, receitas, licitações e salários de servidores. Verifique se essas informações estão atualizadas e coerentes com a Lei de Acesso à Informação (LAI). Isso vale para cidades pequenas e grandes.

Mais dicas para se informar melhor sobre política

  • Aprenda a estrutura do poder público: conheça as Secretarias Municipais, Ministérios e órgãos públicos, entendendo sua função e quem os dirige;
  • Pesquise nomes e temas: ao ouvir um político, projeto de lei ou partido citado, investigue quem são e o que defendem. Use fontes diversas para ampliar sua visão;
  • Fiscalize quem você elegeu: saiba o nome dos seus representantes e acompanhe seu trabalho no Legislativo e no Executivo;
  • Converse sobre política: o diálogo com pessoas de confiança, familiares ou amigos é uma ferramenta poderosa para construir pensamento crítico e trocar perspectivas com respeito.

Lembre-se: Participar da política não significa se filiar a um partido, mas sim atuar como cidadão consciente e ativo, exigindo transparência, justiça e compromisso com o bem comum — independentemente da sua posição ideológica.

Se quer se aprofundar um pouco mais no tema, convidamos você a assistir este episódio da série Você e o Poder: Quebrando os Muros da Política

E aí, gostou de saber por onde começar a aprender política? Se tiver mais alguma sugestão, deixe nos comentários!

Publicado em 17 de abril de 2018. Atualizado em 04 de julho de 2025.

WhatsApp Icon

3 comentários em “Por onde começar a aprender política?”

  1. Gannabe Gabriel Pereira

    Obrigado gostei bastante do conteúdo e parabenizo o site por disponibilizar tantos temas importantes que incentivam a busca por compreensão da política que ainda assim é um tema tão dificultoso para alguns.

  2. Igor Gilnei de Paula Oliveira

    Olá, parabens pelo conteúdo!
    Adorei as recomendações, complemente imparcial aos partidos políticos, desdobrando-se unicamente sobre o objeto do artigo. Muito obrigado!

  3. PARABENS PELO CONTEÚDO ! ADOREI ESTOU ME ESFORÇANDO COM OS ESTUDO EU ME CANDIDATEI A VEREADOR AQUI NA MINHA CIDADE DE TATUÍ SP

    MUITO OBRIGADO POR PASSAR ESTE CONTEÚDO

Deixe um comentário para MATHEUS Cancelar resposta

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe este conteúdo!

ASSINE NOSSO BOLETIM SEMANAL

Seus dados estão protegidos de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

FORTALEÇA A DEMOCRACIA E FIQUE POR DENTRO DE TODOS OS ASSUNTOS SOBRE POLÍTICA!

Conteúdo escrito por:

Ildeu Iussef

Formado em Ciências Sociais com habilitação em Políticas Públicas pela Universidade Federal de Goiás. Pesquisador em Políticas Públicas no âmbito municipal. Política, Futebol e Música são minhas paixões! Redator Voluntário do Politize
Iussef, Ildeu. Por onde começar a aprender política?. Politize!, 17 de abril, 2018
Disponível em: https://www.politize.com.br/como-aprender-politica/?replytocom=3657.
Acesso em: 7 de jul, 2025.

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!