a imagem mostra a figura de um jovem que tem um celular, um relógio, uma pasta nas mãos e que corre

Divisão do trabalho: possíveis perspectivas sobre o fenômeno

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Conhecida também como divisão social do trabalho, a divisão do trabalho é uma prática muito antiga na humanidade. Por vezes, dividimos o trabalho a ser realizado de acordo com o gênero das pessoas, por exemplo.

Mesmo com diversas conquistas das lutas feministas, as mulheres continuam sendo majoritariamente aquelas responsáveis pelo trabalho do cuidado. Mas, cada vez mais, dividimos o trabalho de acordo com a especialidade e os conhecimentos das pessoas. Ou você acha que qualquer um pode comandar um projeto arquitetônico?

É indiscutível que nosso tema de hoje abrange muitas coisas. Mas, com o avanço tecnológico conquistado historicamente, o fenômeno foi sendo afunilado e atrelado às relações de trabalho fabril. Sendo assim, vamos explicar algumas transformações sociais que ocorreram graças ao uso técnico da divisão do trabalho. Vem com a gente!

a imagem mostra uma divisão do trabalho. há 3 pessoas que se dividem em tarefas em um computador, prancheta e gráfico.
Trabalhadores. Imagem: Freepik

Divisões do trabalho informais

Pense no seu contexto familiar ou até mesmo numa ocasião com seus amigos. Por vezes, para facilitar uma tarefa e realizá-la de forma mais rápida e prática, atribuímos diferentes ações para diferentes pessoas.

É comum que, numa faxina em casa, cada um dos integrantes da família se responsabilize por uma tarefa. Por exemplo: a mãe lava o banheiro, o pai lava o carro e o quintal, o filho mais velho varre e passa pano por toda a casa e a filha mais nova tira o pó dos móveis. Essa é uma verdadeira força tarefa!

Agora, imagine as mais variadas responsabilidades e tarefas realizadas numa fábrica. A organização para o trabalho deve ser ainda mais intensa e bem pensada. Afinal, uma fábrica conta com muitas pessoas e muitos cargos distintos.

Leia também: os principais direitos trabalhistas

A divisão do trabalho na era industrial

O trabalho socialmente produtivo, ou seja, aquele que gera produtos a serem trocados e vendidos na sociedade, era majoritariamente realizado nos campos e de forma domiciliar, isto é, em casa e com familiares. Mas esse cenário mudou com o surgimento das fábricas no século XVIII.

Antes do trabalho fabril ser uma regra, era comum que o trabalhador tivesse conhecimento ou domínio de todo o processo daquilo que estava sendo produzido. Porém, para aumentar a produtividade, as fábricas adotaram um modo de trabalho em que cada trabalhador fosse responsabilizado por apenas uma parte de todo o processo.

Acompanhe com o Barry e o Adam um tour pela fábrica de mel do filme “Bee Movie” (2007). Essa viagem pode facilitar sua imaginação acerca desse fenômeno.

Observando de perto o nascimento da sociedade industrial, o filósofo francês Denis Diderot e o economista escocês Adam Smith analisavam como a rotina do trabalho fabril poderia impactar o desenvolvimento humano. Especialmente no início da instauração das fábricas, o trabalho ali exercido era extremamente repetitivo.

Segunda natureza ou degradação do espírito?

Enquanto Diderot defendia que a rotina no trabalho poderia servir como aprendizado a partir da repetição, Smith dizia que a rotina poderia empobrecer o espírito. Mas por que eles diziam isso?

Imagine um ator que repassa seu texto mil vezes ou um músico que ensaia uma canção noite adentro. As chances desses profissionais executarem seu trabalho de uma melhor forma são potencializadas por essa repetição. Diderot acreditava que o mesmo aconteceria para o trabalhador fabril.

Seguindo essa ideia, quanto mais domínio o trabalhador tivesse de uma tarefa, mais espaço ele poderia encontrar para alcançar a unidade mental e manual do trabalho, como uma segunda natureza – uma atividade que tomamos por natural e espontânea quando, na verdade, só aprendemos por meio de um processo intencional e sistemático.

Em contrapartida, Smith defendia que a limitação dos trabalhadores a uma simples operação exercida com muita frequência poderia embrutecê-los. Afinal, dessa forma, não poderiam explorar seus potenciais, não precisariam sequer pensar e ter senso crítico sobre a sua ação.

O fordismo e o taylorismo foram dois grandes sistemas de produção que se aproveitaram bastante da rotina do trabalho fabril.

Mas e hoje em dia, como está essa questão?

Com o avanço dos ideários neoliberais, está cada vez mais comum pessoas procurando por oportunidades de se construírem seus próprios patrões, os famosos empreendedores. Mas como ficam aqueles que trabalham para os outros?

Veja também: o que é neoliberalismo?

Sadi Dal Rosso, sociólogo brasileiro, avalia que a divisão social do trabalho se mantém, mas de forma intensificada. Em seu trabalho, Dal Rosso defende que a tendência atual das empresas é oferecer menos empregos e mais trabalhos. Calma, calma, calma que nós vamos explicar.

Emprego” pode ser definido como uma relação empregatícia que tem, desde seu início, salário, direitos, tarefas e descansos semanais prévia e obrigatoriamente estabelecidos e respeitados, enquanto “trabalho” se refere à transformação da natureza com ou sem auxílio de instrumentos, de forma a seguir um projeto intencional.

Trocando por miúdos, a tendência contemporânea é que, cada vez mais, cada trabalhador/empregado tenha mais tarefas a exercer.

Por exemplo, a função de um operador de caixa de supermercado não se restringe a atender aos clientes. Por vezes, esse trabalhador se torna responsável por outros diversos trabalhos, como organização de setores e limpeza. A bola da vez é ocupar o trabalhador.

Veja também nosso vídeo sobre trabalho informal!

Intensidade e produtividade

Mesmo que a divisão do trabalho se mantenha, observamos que esse acúmulo de funções sofrido pelos trabalhadores pouco tem a ver com o aumento da produtividade das empresas.

Tomemos ainda como exemplo o operador de caixa. Bipar produtos, sanar dúvidas de clientes, organizar prateleiras e limpar seu local de trabalho continuam sendo tarefas repetitivas que nada têm a ver com o lucro do supermercado. São apenas uma exigência de maior envolvimento e desgaste do trabalhador que intensifica seu trabalho.

Para que haja aumento da produtividade, não é necessário o aumento das funções dos trabalhadores. Dal Rosso defende que, para tanto, a divisão do trabalho deve estar atrelada a mudanças na organização do mesmo. A utilização de máquinas ou a diminuição da carga horária de trabalho poderiam ajudar nisso!

Assim, a empresa teria a chance de ser mais lucrativa, além de representar um espaço mais confortável e menos cansativo.

A divisão do trabalho é algo bem complexo, não? Mas e aí, você concorda mais com o Diderot ou com o Smith? Conta pra gente nos comentários!

Referências:
  • ANTUNES, Ricardo; PINTO, Geraldo. A fábrica da educação: da especialização taylorista à flexibilização toyotista. São Paulo: Cortez, 2017.
  • DAL ROSSO, Sadi. Mais trabalho! A intensificação do labor na sociedade contemporânea. São Paulo: Boitempo, 2008.
  • DARDOT, Pierre; LAVAL, Christian. A nova razão do mundo: ensaio sobre a sociedade neoliberal [recurso eletrônico]. São Paulo, Boitempo, 2016.
  • SAVIANI, Demerval. Sobre a natureza e especificidade da educação. Germinal: Marxismo e Educação em Debate, Salvador, v. 7, n. 1, pp. 286-293, jun. 2015.
  • SENNETT, Richard. Rotina. In: ______. A corrosão do caráter: as consequências pessoais do trabalho no novo capitalismo. 14ª edição – Rio de Janeiro: Record, 2009.
  • Youtube: Filme (Bee Movie) – Sobre as profissões.

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1 comentário em “Divisão do trabalho: possíveis perspectivas sobre o fenômeno”

  1. Partindo do princípio de que não sou a pessoa mais estudada para falar sobre este assunto, vejo que, como trabalhador/empregado, estamos sendo colocados em vários segmentos e é válido que se aprimorar em outras funções é um diferencial muito bom, porém, devemos entender que é preciso ser excelente no que nos propomos fazer. Talvez, fazer muito não seja o ideal, se for feito de qualquer jeito. Melhor fazer pouco e bem feito.

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Licenciado em ciências sociais, constantemente intrigado com questões subjetivas e estruturais. Apaixonado por música pop e entusiasta do amor. Professor preocupado com uma educação para além da sala de aula.

Divisão do trabalho: possíveis perspectivas sobre o fenômeno

30 abr. 2024

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