Como interpretar os relatórios do IPCC?

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Provavelmente você já ouviu falar do IPCC, mas como podemos traduzir para o mo real as pesquisas Painel intergovernamental de Mudanças Climáticas? Porque elas são tão importantes? E como você pode tomar decisões no dia a dia para reduzir o impacto socioambiental e climático produzido pelo aquecimento global?

48º sessão do IPCC (2018). Imagem: Pexels

O que é o IPCC?

O IPCC é uma sigla para Intergovernmental Panel on Climate Change (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), que nada mais é do que uma extensão de algumas organizações internacionais, países e especialistas em clima e meio ambiente, que publica relatórios científicos regularmente a respeito do aquecimento global.

Esses relatórios servem como ferramenta de propagação de conhecimento sobre os impactos, riscos e adaptações socioeconômicas dessas mudanças aos formuladores de políticas.

Além disso, também serve como um mecanismo de conscientização da população sobre os impactos em suas vidas, democratizando o conhecimento científico para frear ou ao menos diminuir significativamente esses impactos.

Veja mais: O que são mudanças climáticas?

História e criação

Em março de 2023, foi publicado o Sexto Relatório de Avaliação (AR6), foram necessários longos 35 anos de construção para ter tamanha relevância e autoridade no cenário internacional.

Tudo começou quando um grupo de cientistas se reuniram em 1980, na cidade de Villach (Áustria) para debater suas observações sobre as modificações causadas pela emissão dos Gases de Efeito Estufa (GEE).

Com a emissão de CO₂, em grandes quantidades e o impacto meio ambiente, havia urgência em buscar soluções, e logo depois, a convocação em 1985 no mesmo lugar, alinhando os formuladores de política das descobertas que foram feitas.

A reunião levou a pauta para agenda política internacional e criou uma força-tarefa que resultou na criação do painel em 1988 pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente em conjunto com a Organização Meteorológica Mundial e o Conselho Internacional de Ciência.

Os resultados científicos apresentados mobilizaram agentes internacionais, e incentivaram significativamente as cooperações multilaterais, como o Acordo de Paris (2015), onde os governos se comprometeram em limitar o aumento da temperatura do planeta em 1,5 °C e reduzir drasticamente a emissão de GEE até 2050.

Portanto, o IPCC é um importante fator que mobiliza a política externa tendo seu principal uso dentro da Conferência das Partes (COP), conhecido como o encontro da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, ou simplesmente Cúpula do Clima, que já vai para sua 28° edição em 2023.

Leia Mais: Acordo de Paris: o que é?

Estrutura institucional

Sua organização interna conta com 195 países membros. Há uma rigorosa burocracia que assegura a qualidade dos trabalhos submetidos para serem adicionados ao documento final.

As principais decisões são tomadas pela Assembleia Geral composta por estados-membros, e subdivididas em 4 mecanismos, contando com 3 Grupos de Trabalho que respectivamente se responsabilizam por:

  • (I) Elaboração de dados científicos relacionados às características físicas e geográficas encontrados pela da mudança do clima;
  • (II) Relaciona o impacto das mudanças nas adaptações e as vulnerabilidades de países;
  • (III) Trata de analisar as práticas capazes de diminuir as mudanças climáticas;
  • (IV) Força Tarefa de Inventários Nacionais de Gases de Efeito Estufa que calcula reporta a emissão de GEE, relevantes para a contagem e responsabilização do crédito de carbono.

Mas e os relatórios?

Os relatórios possuem o objetivo de chamar atenção das lideranças responsáveis pela tomada de decisão e direcioná-los para a transformação da realidade alarmante através de fundamentações científicas sobre os riscos e consequências do aquecimento global.

Quem faz?

Ao contrário do que parece, os relatórios não são produzidos pelo IPCC. Os relatórios, são um compilado científico confiável do conhecimento que já foi produzido por cientistas de alto nível, associados às organizações, estados-membros e voluntários, sintetizados e publicados periodicamente pelo painel climático.

Além disso, os documentos buscam ter um posicionamento neutro e apolítico, sem caráter prescritivo, isto é, apenas apresentar os resultados científicos para que as lideranças tomem suas decisões livremente e como julgarem melhor.

Veja também nosso vídeo sobre capitalismo e mudanças climáticas!

Publicações

Ao todo, já foram publicados seis relatórios, sendo o primeiro deles o AR1 de 1990, que apresentava a problemática climática como uma questão global que necessitava de uma cooperação internacional significativa.

O mais atual dos relatórios (AR6), citado no início deste texto, não trás novas descobertas, mas se dispõe como uma conclusão, contando com cerca de 782 pesquisadores envolvidos e quase oito mil páginas de material científico a respeito drásticas mudanças climáticas.

Neste relatório, há um escancaramento das desigualdades sociais e a vulnerabilidade de determinadas populações diante dos impactos, onde cerca 3,3 bilhões e 3,6 bilhões em risco,em especial a região do Sul-global.

Práticas de enfrentamento

Neste ponto, você deve está se perguntando: se o IPCC trata na prática, do comportamento e das responsabilidades atribuídas a pesquisadores e tomadores de decisão da política internacional, qual sua responsabilidade nisto?

E de fato, boa parte da emissão do GEE através da queima de combustíveis fósseis, desmatamento, desperdício de água, desequilíbrio do ecossistema e poluição atmosférica e dos oceanos, partem das grandes indústrias e da produção agronômica.

Em seu AR6, diversas soluções viáveis e eficazes para adaptação às mudanças foram apresentadas, ponderando um conjunto de hábitos que quando postos em prática podem transformar significativamente o mundo em que vivemos.

Redução da emissão de carbono

o AR6 afirma que emissão de GEE chegou em tal ponto que em alguns lugares do planeta os impactos ambientais são tão grandes que se tornam irreversíveis e incapaz de serem adaptados, o que destaca a necessidade do fim do uso e extração de combustíveis fósseis em 48% até 2030, e até 99% até 2050.

Desde o início de processo de industrialização do mundo a temperatura terrestre já aumentou 1,1°C, e para que o planeta não atinja a temperatura a beira do colapso ambiental de 2°C, será necessário medidas onde até o ano de 2025, o uso de carvão diminui 95% o de petróleo, 60%; e o de gasolina, aproximadamente 45%.

Para isso, é recomendado sempre que possível, que se reduza transportes movidos a combustível, e opte pelo o uso de transportes coletivos, bicicletas, caminhadas ou automóveis elétricos.

Consumo sustentável

Apesar de passar despercebido no cotidiano, o consumo também é responsável por uma parcela da emissão de GEE. Dados do IPCC apontam que dentre a população mundial, são os 10% mais ricos que emitem mais de 45% dos gases de efeito estufa que impactam o globo, enquanto 50% das famílias mais de renda mais baixa, emitem no máximo 15%.

Formas de diminuir essa emissão está diretamente correlata a prática do consumo consciente.

Reduzir o desperdício de alimentos, optar por produtos biodegradáveis, diminuir ou excluir gradualmente o uso do plástico e de descartáveis, diminuir o consumo de carne e o veganismo são práticas altamente recomendadas.

Educação ambiental

Se você frequentou o ensino básico no Brasil, deve se lembrar das aulas sobre os 3 R ‘s da sustentabilidade (Reciclar, Reutilizar e Reduzir).

Bem, isso faz parte da política de Educação Ambiental e Educação para o Consumo exigida pela Base Nacional Comum Curricular (BNCC) que determina práticas pedagógicas que precisam ser abordadas.

Ademais, existem programas direcionados para a o olhar institucional sobre os a gestão de riscos e para a comunidade escolar e a população jovem.

O Programa Educação em clima de riscos de desastres pelo Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (CEMADEN), focado em educar para prevenir desastres são bons exemplos de iniciativas de educação ambiental.

Leia mais: Entenda o que é a Base Nacional Comum Curricular (BNCC)

De olho nas políticas ambientais

Apesar de existir uma série de práticas individuais capazes de reduzir a longo prazo os efeitos do desequilíbrio climático atual. Entretanto, parte das decisões competem de decisões políticas dos entes políticos e organizações internacionais para lidar com a crise climática.

É hora de se organizar coletivamente, compartilhar as informações e o conhecimento que você adquiriu e passar a multiplicar o seu conhecimento capaz de mobilizar mais pessoas pela agenda climática no Brasil e no Mundo.

Você pode fazer isso passando a escolher candidatos que representem as causas sustentáveis, acompanhar os debates nacionais e internacionais, as políticas públicas da sua cidade ou município, se unir ou criar organizações ativistas pelo meio ambiente.

Leia mais: Meio ambiente e os municípios: os principais desafios.

Manifestação por Justiça Climática na Holanda em 2019.

Imagine fazer parte de uma rede nacional sobre democracia e contribuindo pela proteção da terra?

Engaje através do Programa de Multiplicadores Politize, e faça sua parte pela democratização do acesso ao conhecimento político contra o aquecimento global alinhadas com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU.

Saiba mais: Politize! e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável

O que esperar do futuro?

A COP 28 vai acontecer nos Emirados Árabes Unidos, em novembro de 2023. A Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável ONU, conta com 17 objetivos e 169 metas alinhadas à perspectiva dos últimos relatórios do IPCC sobre o futuro do planeta.

É necessário investimentos e transições justas que estimulem adaptações adequadas às vulnerabilidades do racismo ambiental, classe social, gênero e as condições geográficas, além dos aspectos culturais.

E claro, não deixe de fazer a sua parte, você também é cidadão do mundo e responsável por ele.

Conta aí! O que mudou para você após ler esse texto? Deixe nos comentários as suas perspectivas e anseios para combater as mudanças climáticas!

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1 comentário em “Como interpretar os relatórios do IPCC?”

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Pode me chamar de Myrlan! Uma pernambucana bem orgulhosa, Ativista Socioambiental, doida por plantas e fã da Beyoncé! Atualmente, estou na graduação em Ciência Política com ênfase em Relações Internacionais pela UFPE, trabalho com Comunicação e engajamento jovem na Ashoka Brasil, escrevo e pesquiso sobre racismo ambiental e atuo como criadora de conteúdo falando sobre rotina com consciência política e social nas redes sociais!
Silva, Débora. Como interpretar os relatórios do IPCC?. Politize!, 3 de novembro, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/ipcc/.
Acesso em: 13 de dez, 2024.

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