Carros de som enfileirados perto das eleições municipais de 2020. Foto: Mega Som/ Facebook.

Jingle eleitoral: entenda essa estratégia política

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Carros de som enfileirados perto das eleições municipais de 2020. Os carros de som são utilizados para o jingle eleitoral. Foto: Mega Som/ Facebook.
Carros de som enfileirados perto das eleições municipais de 2020. Foto: Mega Som/ Facebook.

Estratégia política, marketing fundamental, musiquinha enjoada, identidade do candidato, arma contra o adversário, essência da campanha eleitoral, prazer ou desgosto do eleitor. No final das contas, o que é um jingle eleitoral fica a critério da história que ele deixou para aquela eleição, mas, no princípio, qualquer jingle parte de um pressuposto comum: cantar.   

Afinal, ninguém fala um jingle, canta-se. Canta em todos os sentidos, desde o mais básico de emitir um som com melodia e aspectos musicais até o mais abstrato, de persuadir, convencer, seduzir outra pessoa, argumentar. O jingle eleitoral é feito para cantar o voto: ser cantado por quem o quer e para cantar quem o tem.

Para entender mais sobre o que é o jingle eleitoral falaremos sobre sua motivação, sua história, seu processo de formação, curiosidades e características. Começaremos com uma definição simples e algumas ressalvas interessantes.

Leia também: Tudo que você precisa saber sobre propaganda eleitoral

Quem canta, seus eleitores encanta. Afinal, o que é o jingle eleitoral mesmo?

O jingle eleitoral é usado historicamente, no Brasil e no mundo, para atrair a atenção de eleitores e é o coro oficial da campanha, ou seja, é a canção vinculada nas propagandas oficiais e nos meios de comunicação para ser a marca do candidato.

Com isso, chama-se a atenção do público e, principalmente, canta o voto dos eleitores, ou seja, figura-se como uma tentativa de influenciar o voto do eleitor.

Enquanto subdivisão de uma estratégia de publicidade política, o jingle eleitoral se adapta às circunstâncias e às demandas do momento e do candidato.

Essa propaganda eleitoral ganhou muita força com a ampliação dos meios de comunicação em massa, sobretudo do rádio, a partir da década de 1920 e segue presente até hoje, veiculadas também em meios populares, como as redes sociais, televisão, carros de som, etc.

É importante lembrar que o jingle eleitoral é um tipo de propaganda eleitoral oficial e considerado um ato de preparação da votação, que é legitimada formalmente, desde que realizada nos termos da legislação eleitoral.

As informações dispostas na Lei nº 9.504/97, art. 39, § 9º, reafirmam o direito de realizar caminhada, carreata, passeata, usar carro de som pela cidade, divulgando jingles ou mensagens do candidato, por exemplo, desde que respeite o limite de fazer essas propagandas até as 22 horas do dia que antecede a eleição.  

As cifras da música

“Um jingle bom é aquele que cai no gosto da população de tal maneira que se torna eterno. A [função] do jingle é cair no gosto dos eleitores.”

Em entrevista à revista Veja, o especialista em marketing político, presidente da Associação Brasileira dos Consultores Políticos, professor e autor do livro Jingles eleitorais e marketing político – uma dupla do barulho, Carlos Manhanelli, fez esse comentário sobre os jingles na política e seu uso nas eleições.

Carlos foi certeiro, e uma análise de sua entrevista e um olhar apurado para o cenário eleitoral como um todo comprovam isso: um bom jingle tem que ficar na cabeça do eleitor. As cifras, a melodia, a mensagem, tem que agradar quem escuta e fazer sentido para a campanha do candidato.

Entretanto, outra questão muito importante que o especialista citou, e que vale reafirmar, é que jingle sozinho não elege candidato. Em um sistema, ele deve cumprir a sua função para o marketing e para a campanha, mas, é improvável que um jingle, por melhor que for, seja suficiente para convencer os eleitores a votar em tal candidato. 

Uma das aparentes funções do jingle é servir, na verdade, como porta de entrada para que o eleitor fique curioso e pesquise mais sobre o candidato.

Nessa linha, vemos exemplos, como o do mais famoso jingle eleitoral pós-redemocratização: “Lula lá”, veiculado em 1989, apesar de até hoje marcar pessoas e ser usado em campanhas petistas, o jingle não foi suficiente para, à época, eleger Lula.

Lula em sua primeira candidatura à presidência acompanhado por sua até então esposa, Marisa, e o compositor Chico Buarque. Foto: Julio Cesar Guimarães/ Agência O Globo.
Lula em sua primeira candidatura à presidência acompanhado por sua até então esposa, Marisa, e o compositor Chico Buarque. Foto: Julio Cesar Guimarães/ Agência O Globo.

Qual o valor de um jingle eleitoral?

Tudo tem valor, material ou imaterial, para o jingle não é diferente. Para falar do custo financeiro, é importante fazer um recorte do tamanho da campanha, do estado, do alcance desejado para o jingle, do cargo a que está candidatando-se, por exemplo.

A criação pode variar, de R$ 500 até R$ 12 mil, sendo os mais baratos os modelos pré-fabricados. Porém, para campanhas maiores, como a presidencial, o custo de um jingle é de cálculo difícil e provavelmente está inserido nas custas gerais da campanha como um todo, que é muito alta.

Por exemplo, a campanha de Lula para 2022 está prevista em mais de 44 milhões de reais e o PL, partido do atual presidente Jair Bolsonaro, tem um dos maiores orçamentos do fundo eleitoral, que deve passar dos 500 milhões de reais. Certamente, os gastos com a campanha e com o jingle parecem um valor razoável para os políticos em busca de poder e vitória nas eleições.

Veja também nosso vídeo sobre como escolher um bom candidato nas eleições!

Campanha com os interlúdios

Interlúdio é o tempo dentro de uma música destinado para uma transição entre estrofes ou melodias, também pode ser considerado uma pausa, um intervalo, um momento para respirar. Na política, faltam interlúdios. Uma campanha eleitoral é intensa, calculada várias vezes e sem tempo a ser desperdiçado.

Jingles eleitorais, como uma maneira de se fazer política e divulgar o candidato em um período importante, não escapam das estratégias ostensivas de marketing, e com mensagens que ultrapassam o aparente, os jingles cantam também pelas entrelinhas e podem ser usados de maneira agressiva.

Uma maneira sutil, por exemplo, de construção da imagem do candidato em contraposição a uma ideia ou opositor em um jingle eleitoral é o da campanha de José Serra, em 2010, que falava simplesmente: “Serra é do bem / É sincero e competente, Serra, ficha limpa e transparente.”

Ora, se Serra é do bem, implica que existe um mau, se é sincero e competente, tem ficha limpa e é transparente talvez haja críticas ao opositor político nesses quesitos que o fragilizam, logo, seria interessante trazer isso à tona no jingle, valorizando uma imagem por vez fragilizada no outro lado.

Veja também nosso vídeo sobre a comparação dos governos de Lula e Bolsonaro!

Jingles eleitorais na playlist da história

Jingles que cumprem sua função entram para a história. Cantar de verdade para os eleitores é entrar para a memória, é ter um significado para quem escuta, seja dois dias antes da eleição, seja décadas após.

Na playlist da história e da política do Brasil não podem faltar esses hits eleitorais:

JÚLIO PRESTES

Nome da música: Seu Julinho Vem

Campanha: 1929

Compositor: Francisco José Freire Júnior

Intérprete: Francisco Alves

GETÚLIO VARGAS

Nome da música: Retrato do Velho

Campanha: 1950

Compositor: Haroldo Lobo

Intérprete: Francisco Alves

JÂNIO QUADROS

Nome da música: Varre, Varre Vassourinha

Campanha: 1960

Compositor: Maugeri Neto

JOSÉ MARIA EYMAEL

Nome da música: Ei, Ei, Ei, Eymael

Campanha: 1985

Compositor: José Raimundo de Castro

LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Nome da música: Sem Medo de Ser Feliz (Lula Lá)

Campanha: 1989

Compositor: Hilton Acioli e Paulo de Tarso

Intérprete: Vários artistas

E aí, tem algum jingle eleitoral que marcou a sua memória? O que você acha dessa estratégia política? Deixe nos comentários!

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Filho do sol do equador, piauiense. Falador, dono de três cachorros e fã de Billy Joel e Rita Lee e Machado, apaixonado pelo meu nordeste e, hoje, morador de Belo Horizonte, onde curso direito na UFMG, gosto de estudar direito e política internacional e nacional, mais ainda políticas públicas voltadas ao acesso à educação.

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22 abr. 2024

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