Quem foi João Goulart?

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Presidente João Goulart, o Jango, no Automóvel Clube, em 30 de março, um dia antes de sua derrubada Imagem: Acervo O GLOBO.
Presidente João Goulart, o Jango, no Automóvel Clube, em 30 de março, um dia antes de sua derrubada Imagem: Acervo O GLOBO.

Quando os cidadãos brasileiros foram às urnas em 1960 exercer seu direito democrático, eles não imaginaram que só voltariam a eleger um presidente vinte anos depois. O governo de João Goulart foi bastante polêmico e carregou um nível altíssimo de instabilidade política e econômica.

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Mas para entender essa história, é necessário, antes de tudo, entender quem foi o seu protagonista: João Belchior Marques Goulart.

Continue na leitura e entenda quem foi este personagem marcante da história brasileira!

Quem foi João Goulart?

Talvez a melhor forma de explicar quem foi João Goulart e seus impactos na política brasileira seja descrevendo, antes de tudo, o seu currículo e origens. Jango, como era popularmente conhecido, nasceu na cidade de São Borja, no Rio Grande do Sul, em 1º de março de 1919 e iniciou sua atividade política vinculado ao Partido Trabalhista Brasileiro (PTB).

Através dos anos, ele exerceu muitos cargos políticos, sempre atuando na defesa dos direitos da classe trabalhadora. Isso fez com que ele assumisse diversas funções públicas como, por exemplo, coordenador da campanha presidencial de Getúlio Vargas, deputado estadual (1946-1950) deputado federal (1951), Ministro do Trabalho do governo de Getúlio Vargas (1953-1954) chefe da delegação brasileira à Conferência Internacional do Trabalho (1958) e da Conferência da Organização Internacional do Trabalho (1960), entre tantos outros.

Apesar disso, os cargos políticos de mais destaque foram, evidentemente, as duas vezes que figurou como vice-presidente do Brasil. Primeiro no governo de Juscelino Kubitschek (1956–1961) e, em seguida, no governo Jânio Quadros (1961).

Entretanto, foi apenas após a renúncia de Jânio Quadros, que João Goulart pode assumir, finalmente, o mais alto cargo do Poder Executivo. Pelo menos teoricamente.

Presidência da República: uma longa jornada para casa

Foi durante uma viagem para a China Comunista de Mao Tsé-Tung, que João Goulart ficou sabendo da renúncia de Jânio Quadros, após apenas 7 meses ocupando o cargo máximo do Poder Executivo Brasileiro. Há relatos inclusive de que Jango foi pego de surpresa com esta notícia. Não só ele, como a nação toda, tendo em vista que a única explicação deixada pelo então ex-presidente, era de que “forças ocultas” o estavam impedindo de governar.

O apoio de Jango para a eleição de um candidato como Jânio Quadros ao cargo de Presidente da República era ótimo! O objetivo era que a chapa Jânio e Jango pudesse ganhar votos tanto daqueles que acreditavam mais nos ideais de direita como de esquerda. Mas e se Jango passasse de um mero vice?

Jango finalmente chegaria ao poder, assim que voltasse da China. Com o presidente da Câmara de Deputados da época provisoriamente no poder, os ministros militares e deputados da oposição deixaram uma mensagem muito clara: João Goulart não seria aceito como Presidente do Brasil, o Congresso Brasileiro deveria impedir a sua posse e novas eleições deveriam ser realizadas.

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A crise política instaurou-se.

Entretanto, foi o movimento de um familiar que garantiu com que Jango pudesse realmente exercer a presidência. Leonel Brizola, liderança do PTB e cunhado de Jango, criou, em um movimento estratégico, a Campanha pela Legalidade que defendia a posse do João Goulart nos padrões constitucionais.

Os atos tiveram o apoio de instituições como Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), a União Nacional dos Estudantes (UNE) além do III Exército, subdivisão do Exército no Rio Grande do Sul, o que assegurou, de vez, o exercício do governo por Jango.

Em Brasília, o Congresso Nacional, como forma de chegar ao meio-termo com os dois lados políticos, propôs a criação de um sistema parlamentarista. A ideia era clara: acalmar políticos de siglas da oposição que viam João Goulart como um herdeiro da era Getúlio Vargas.

Ao desembarcar no Brasil, todavia, Jango adotou medidas pacificadoras e apresentou total apoio ao regime parlamentarista. Finalmente assumindo o posto de Presidente da República.

Instabilidade política, crise econômica e polarização

Apesar da polarização crescente no país, durante seu governo, Jango não deixou de continuar dando espaço para que a oposição continuasse o criticando. Optou por manter uma política externa independente perante os tempos de guerra fria, reatou relações diplomáticas com a URSS, manifestou-se contrário às sanções impostas ao governo cubano e recusou-se a apoiar a invasão a Cuba, proposta pelo presidente Kennedy (EUA).

Essas atitudes, inclusive, foram capazes de estruturar e embasar discursos sobre o “perigo comunista”, especialmente na ala opositora do governo. Pensamentos semelhantes se alastravam pelas Forças Armadas que se viam no papel de defensores da ordem e segurança nacional contra a ameaça vermelha.

Como forma de fazer com que Jango tivesse pleno poder de mando e gestão do país, a ala mais a esquerda, e mais próxima de Jango, preparou um plebiscito para que a população aprovasse ou não o sistema parlamentarista.

Como a instabilidade política e a crise econômica da época fizeram com que a população vinculasse diretamente os problemas ao modelo parlamentarista adotado, 85% da população pediu o retorno do sistema presidencialista.

Capa do Última Hora anuncia a vitória do presidencialismo no plebiscito de 1963. Imagem: Última Hora.

Apesar da população e os apoiadores do governo acharem que agora, finalmente, começaria o governo de João Goulart, eles estavam muito errados.

Fim do plano trienal, a ameaça comunista e a Marcha da Família com Deus pela Liberdade

Ao finalmente assumir por inteiro a gestão do país, Jango percebeu que muita coisa precisava ser organizada. Era necessário lidar urgentemente com a crise econômica instaurada. Jango optou então por implementar as reformas de base e o plano trienal.

Acontece que, sem apoio no Congresso Nacional e com o descontentamento tanto da oposição como de seus aliados, Jango não conseguiu que fosse aprovado nenhum de seus planos de governo.

Enquanto isso, na oposição, o medo da ameaça comunista se intensificava cada vez mais. Já na ala mais aliada ao governo, a cobrança para que João Goulart solucionasse os problemas do país crescia cada vez mais.

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A crise foi tanta que até o apoio do cunhado, Brizola, Jango perdeu.

Em setembro de 1963, após uma invasão à capital do País por soldados, sargentos e fuzileiros descontentes com uma decisão do STF confirmando que militares de baixa patente eram inelegíveis fez com que (mais uma) crise se instaurasse, sem que Jango tomasse qualquer atitude para reprimi-los.

Os sargentos do exército conseguiram acalmar o levante, mas a pergunta que não queria calar era: se um número de sargentos havia tomado a capital, o que poderia acontecer se o Exército resolvesse fazer a mesma coisa? Jango também não tentaria impedir?

Acuado, João Goulart resolveu, de vez, abraçar os ideais que defendia valendo-se do apoio de sindicatos. Requereu ao Congresso Nacional mudanças na Constituição Federal e mais poderes. Para a oposição anticomunista, isso era a personificação de seus piores pesadelos.

Em resposta aos atos do Presidente, ocorreu a Marcha da Família com Deus pela Liberdade no dia 19 de março do mesmo ano. 500 mil pessoas protestaram pelo centro de São Paulo, em especial mulheres.

Marcha da Família com cerca de 500 mil pessoas na praça da Sé, em São Paulo, em 1964. Imagem: CPDoc JB.

Os cartazes e faixas pediam para que as Forças Armadas salvassem o Brasil de João Goulart, Brizola e do comunismo. Estava instaurado no país um movimento organizado contra o presidente que incluía não só setores da sociedade, mas também congressistas, governadores e, até mesmo, o governo dos Estados Unidos.

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O início do fim de governo: golpe militar de 1964

Totalmente isolado politicamente, Jango, na noite de 30 de março, era convidado de honra de uma reunião de Sargentos no Automóvel Clube no Rio de Janeiro. Apesar de seus auxiliares pessoais recomendaram que ele não comparecesse, o presidente optou por não os ouvir.

Chegando lá, em seu discurso, defendeu sua posição política que estava sendo alvo de duras críticas tanto pela oposição como por seus aliados, aproveitando ainda para alertar que não admitiria que a desordem fosse promovida em nome da ordem.

Era o que bastava para que a oposição o vinculasse de vez aos ideais getulistas.

Em 31 de março, o comandante da 4º Região Militar, general Olympio Mourão Filho, botou a sua tropa mineira de Juiz de Fora à caminho do Rio de Janeiro com o objetivo exclusivo de derrubar Jango. O restante do Exército não se opôs e entre aliados de Jango simplesmente não houve força para apoiar o presidente.

Jango partiu do Rio de Janeiro para Brasília e, em seguida, para Porto Alegre, onde acreditava que encontraria mais apoio político. Porém, com Jango ainda no país, o presidente do Congresso Nacional, senador Auro de Moura Andrade (PSD-SP), anunciou vaga a cadeira da Presidência da República.

A ausência de apoio significativo fez com que João Goulart desistisse e partisse para o exílio no Uruguai em 4 de abril.

O novo governo, fruto do golpe militar, foi reconhecido pelo presidente norte-americano, Lyndon Johnson, poucas horas depois.

O exilio político de João Goulart e sua morte

Já exilado, João Goulart planejava voltar ao Brasil, entretanto, nos anos seguintes, seus planos foram sucessivamente vetados pela ditadura. Com problemas cardíacos, Jango morreu em Mercedes, na Argentina, em 6 de dezembro de 1976.

Por diversas vezes surgiram suspeitas de que tenha sido envenenado, a família de Jango inclusive requereu uma reabertura do caso, no ano de 2007. Porém, uma análise de seus restos mortais em 2013 não chegou a qualquer conclusão.

Você já conhecia a história de João Goulart? Conseguiu encontrar nela similaridades com o que as crises que enfrentamos hoje na política brasileira? Conta pra gente nos comentários.

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Conteúdo escrito por:
Advogada. Graduada em Direito pela Católica de Santa Catarina. Pós Graduanda em Direito Previdenciário. Pesquisa desenvolvimento socioeconômico, filosofia política e direitos do trabalhador. Apaixonada por cachorros salsichas , histórias de distopia e Fórmula 1.

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22 abr. 2024

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