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Lampião: o rei do cangaço ou o governador do sertão?

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Virgulino Ferreira da Silva, mais conhecido como Lampião, foi um cangaceiro que liderou um bando de cerca de 40 homens por quase 20 anos. Durante esse período, ele atacou fazendas, cidades e até mesmo delegacias de polícia. Era conhecido por sua crueldade e violência, e temido por muitos.

Por outro lado, Lampião também era visto como um herói por muitos sertanejos. Ele era conhecido por sua lealdade à sua gente, e muitas vezes defendia os pobres e disputava contra os ricos mais poderosos que ele. Era um homem religioso, que participava de missas e procissões.

A figura de Lampião é até hoje uma das mais polêmicas da história brasileira. É uma figura complexa, que não pode ser reduzida a uma única definição. Sua história continua a inspirar artistas e escritores, sendo tema de livros, filmes, músicas e peças de teatro. 

A simbologia da imagem de Lampião é uma representação da cultura do sertão, e da luta dos sertanejos por justiça.

Fotografia antiga mostrando Lampião e Maria Bonita e outros cangaçeiros.
Lampião e Maria Bonita com o fotógrafo Benjamin Abrahão. Imagem: Benjamin Abrahão

Nesse artigo da Politize!, exploraremos quem foi Lampião e qual a sua representatividade para o sertão nordestino.

Este texto foi dividido em duas partes, para saber a história do cangaço, investigando as raízes desse banditismo que marcou profundamente a região nordeste, leia mais: Cangaço no sertão: Quem foi Lampião e o banditismo no sertão brasileiro

Quem foi Lampião e como ele cresceu no sertão nordestino?

Nascido entre 1897 e 1900 (há controvérsias em relação à data), em Vila Bela – atual Serra Talhada –, no sertão de Pernambuco, Lampião ficou conhecido por se tornar o líder mais proeminente do cangaço. Sua família tinha uma condição financeira razoável e garantiu que ele fosse alfabetizado.

Seu pai, José Ferreira, trabalhava como almocreve – condutor de bestas de carga – e possuía algumas terras, que foram compradas e herdadas pelo jagunço (cangaceiro contratado para matar). 

Durante a infância, Lampião acompanhava o pai em suas viagens por diferentes estados do Nordeste, o que permitiu conhecer a região e aprender a lidar com as adversidades do sertão.

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Inclusive, a infância de Lampião é um exemplo das desigualdades sociais que marcaram o Brasil do início do século XX. A disputa por terras entre as famílias Ferreira e Alves de Barro é um reflexo da concentração de terras na região do sertão nordestino.

A partir de 1915, a família de Lampião começou a enfrentar problemas com José Alves de Barro, conhecido como Zé Saturnino, que estava ascendendo politicamente na região. A disputa por terras entre as duas famílias e a influência política de Zé Saturnino prejudicaram os Ferreira, levando-os a se mudarem várias vezes e cair na pobreza.

Insatisfeito com a situação, Lampião decidiu entrar para a clandestinidade, em 1919. Ele passou a agir em grupos criminosos, atacando, inicialmente, as propriedades de Zé Saturnino. Em 1920, ingressou pela primeira vez no cangaço, no bando de Antônio Matilde, já sendo chamado de Lampião.

Com o assassinato do seu pai a mando de Zé Saturnino, Antônio e Levino, irmãos de Lampião, também entraram no cangaço para vingarem a morte de José Ferreira. Nesse mesmo ano, em 1921, Lampião ingressou no bando de cangaceiros de Sinhô Pereira, um dos maiores cangaceiros da região, até então.

Por suas habilidades com armas, Lampião se tornou um pupilo do chefe, aprendendo a sobreviver no sertão, a evitar a polícia e a planejar ataques.

Em 1922, Pereira decidiu abandonar o cangaço, passando a liderança do grupo a Lampião. E, por quase 20 anos, o bando se tornou o mais famoso e temido, percorrendo o sertão nordestino, cometendo assaltos, roubos e assassinatos por vingança às oligarquias.

Foto em preto e branco de Lampião usando chapéu de couro, gibão, lenço e cartucheira.
Foto de Lampião. Imagem: Benjamin Abrahão.

O início do cangaço e como Lampião se tornou um líder

O surgimento do cangaço foi influenciado por uma série de fatores, incluindo a seca de 1877 – um evento devastador que levou à fome, à miséria e à violência –; a presença de coronéis, líderes políticos e militares que exerciam grande poder sobre a população; e a desigualdade social, com pessoas vivendo em condições de pobreza extrema.

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Comandando um grupo formado por filhos de proprietários de terra, Lampião iniciou sua vida no cangaço em 1920, após entrar em conflito com poderosos latifundiários locais. Ele liderou esse grupo de cangaceiros, adotando táticas de guerrilha e se tornando uma figura marcante.

Em 1922, ele se uniu à baiana Maria Bonita, tornando-a sua companheira e a primeira mulher a integrar o cangaço.

Inclusive, segundo a jornalista Adriana Negreiros, autora do livro “Maria Bonita ‒ Sexo, Violência e Mulheres no Cangaço”, Maria Bonita só foi chamada assim depois de sua morte. Em vida, ela era Maria de Déa, filha de dona Déa, ou Maria do Capitão, quando passou a integrar o cangaço.

Já Lampião, ficou conhecido por sua habilidade estratégica e seu carisma, estreitando laços e se tornando afilhado informal, inclusive, de Padre Cícero Romão Batista, coronel e líder religioso que o recebeu em sua casa em Juazeiro do Norte, no Ceará, quando ele fugiu de Mossoró, no Rio Grande do Norte.

Uma de suas ações ousadas mais famosas foi a carta que escreveu para o governador de Pernambuco, Estácio Coimbra, propondo a divisão do Estado para que ele governasse o litoral e Lampião o sertão. Como diz o historiador Durval Muniz, no fundo, a aspiração de todo cangaceiro era ser coronel.

O apelido “Lampião” tem origens incertas, mas é possível que tenha sido inspirado no clarão que saía da sua arma, por ele usar o lenço no rifle como peia, servindo como uma arma de alta repetição, semelhante a uma metralhadora.

Seu bando também era composto por cangaceiros com apelidos que Pedro Alexandre Sanches chamou luminares, como Corisco, Labareda, Candeeiro, Elétrico e Caixa de Fósforos.

A trajetória de Lampião foi marcada por confrontos com a polícia e grupos rivais, bem como por atos de generosidade em relação aos pobres. Sua morte, em 1938, marcou o fim de uma era no cangaço, mas ele permanece uma figura controversa e fascinante na história do Brasil.

Veja também nosso vídeo sobre a história do Lampião!

Expedita, a filha de Lampião e Maria Bonita

Lampião e Maria Bonita se casaram em 1930. Aos 19 anos, ela passou por três abortos espontâneos antes de dar à luz Expedita Ferreira Nunes, em Porto da Folha, no Sertão de Sergipe. Única filha reconhecida, Expedita tinha cinco anos quando seus pais foram executados, em 1938.

Já que no cangaço não permitiam crianças, ela foi criada, até os oito anos, por um casal de amigos, Manuel Severo e Aurora. Depois, seu tio, João Ferreira, passou a ficar à frente dos cuidados de Expedita na fazenda do seu avô, até seus 18 anos, quando se casou.

Em entrevista ao programa Sem Censura, ela afirmou que sabia da existência e que encontrou os seus pais algumas vezes, mas as lembranças são poucas. E, em 2023, em entrevista ao programa Mais Você, relatou as dificuldades e os preconceitos que sofreu por ser filha do casal de cangaceiros.

Atualmente, ela mora em Aracaju-SE e tem três filhas. Em 2023, aos 90 anos, recebeu o título de cidadã aracajuana e desfilou na Imperatriz Leopoldinese, escola de samba carioca que se tornou campeã, depois de 22 anos, ao homenagear o seu pai no Carnaval do Rio de Janeiro.

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O legado de Lampião

O legado de Lampião transcende as páginas da história e sua figura continua sendo lembrada como símbolo de resistência, embora esta seja apenas uma das várias perspectivas dessa memória sanguinária.

Compreender o cangaço e a figura de Lampião é essencial para entender as dinâmicas sociais e econômicas do nordeste brasileiro do início do século XX. O banditismo, além de um fenômeno criminal, foi uma manifestação contra as adversidades impostas pela seca, pela pobreza e pela concentração de poder nas mãos de poucas famílias.

A herança de Lampião permanece viva na cultura nordestina, refletindo-se em músicas, literatura e nas tradições populares. Todavia, é importante lembrar que o nordeste é formado por nove Estados muito diversos entre si e que extrapolam o estereótipo criado pelo cangaço.

Veja outro texto sobre este tema em que falamos sobre a história do cangaço, investigando as raízes desse banditismo que marcou profundamente a região nordeste, leia mais: Cangaço no sertão: Quem foi Lampião e o banditismo no sertão brasileiro

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1 comentário em “Lampião: o rei do cangaço ou o governador do sertão?”

  1. Marcelo Mariano Mazzi

    Lampião figura controvertida e admirável! Grande negociador e sabia como convencer as pessoas. Seu principal papel foi demonstrar as atrocidades do coronelismo na República velha, a contradição da Igreja e desde de cedo o repúdio do capital ao comunismo! Afinal, é verdade que lampião perseguiu a coluna prestes???

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Conteúdo escrito por:
Cearense, nascida em Fortaleza e criada no Cariri. Graduada em jornalismo pela UFC. Apaixonada por comunicação política, psicologia e por expandir a mente através do conhecimento.

Lampião: o rei do cangaço ou o governador do sertão?

27 abr. 2024

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