Faixa de Gaza em foco: a complexa dinâmica da região no Oriente Médio

Publicado em:
Compartilhe este conteúdo!

Este texto traz a história da organização política no território da Faixa de Gaza. A Politize! já possui uma trilha de conteúdos que abordam o tema Israel e Palestina, não deixe de conferir!

Atualmente, a região no Oriente Médio é controlada pelo grupo islâmico Hamas, que luta pelas causas da Palestina e se posiciona contra a existência do Estado de Israel no território. Venha entender os detalhes desse assunto!

O que é a Faixa de Gaza?

Veja também nosso vídeo sobre o conflito Israel x Palestina!

A Faixa de Gaza é um território palestino historicamente reinvidicado para a criação de um Estado da Palestina. Esse território é composto de duas regiões não-contíguas (sem ligação terrestre). A maior delas se chama Cisjordânia, e fica entre Israel e a Jordânia. A menor se chama Faixa de Gaza, e está espremida entre Israel, Egito e o Mar Mediterrâneo. 

Gaza tem uma área de apenas 365 km² e sua população é estimada em aproximadamente 2,1 milhões de pessoas – uma das maiores densidades populacionais do mundo. Para fins de comparação, o Distrito Federal tem uma população de 2,8 milhões de pessoas, mas uma área de 5801 km² — mais de 15 vezes maior que Gaza! 

a imagem mostra uma ilustração de um mapa que mostra a localização da Faixa de Gaza, uma pequena região que faz fronteira com Israel e Egito.
Localização da Faixa de Gaza/mapa. Imagem: Britannica (tradução livre)

Qual é a religião predominante na Faixa de Gaza?

Dos 2,1 milhões de habitantes, 98%  é muçulmana sunita e 2% possuem outras religiões, incluindo o cristianismo e o judaísmo.  O sunismo é uma das duas ramificações principais do Islã, ao lado do xiismo. É também a ramificação mais popular, adepta pela maioria dos muçulmanos — sunitas.

A principal diferença entre o sunismo e o xiismo está relacionada à sucessão do profeta Maomé como líder da comunidade muçulmana após a sua morte em 632 d.C. Os sunitas acreditam que o primeiro califa (líder político e religioso) após Maomé, Abu Bakr, foi escolhido pelos mulçumanos, e que a liderança deveria ser baseada em eleições e consenso da comunidade. Eles acreditam que os califas subsequentes foram legítimos.

Por outro lado, os xiitas acreditam que Ali, o primo e genro de Maomé, deveria ter sido o primeiro líder após a morte do Profeta, e que a liderança deveria ser transmitida por descendência direta de Ali. Eles não reconhecem os califas sunitas como legítimos.

Além disso, sunitas e xiitas também se diferem em algumas práticas religiosas e interpretações do Islã. Mesmo assim, ambos compartilham muitos valores e crenças em comum, como a exitência de Alá como Deus único e Maomé como último profeta. Assim, apesar de haver conflitos entre os dois grupos, também é verdade que sunitas e xiitas coexistem em diversas partes do mundo.

Veja também: Islamismo: como é a religião muçulmana?

A política na Palestina

O poder político em Gaza é controlado pelo Hamas, grupo militante islâmico sunita. Já na Cisjordânia, o poder é exercido pela Autoridade Nacional Palestina (ANP), cuja principal organização política é o Fatah (ou Al-Fatah).

A economia vem sendo bastante prejudicada devido aos bloqueios e restrições impostos por Israel como forma de repressão à população e ao governo palestino. O bloqueio à Faixa de Gaza iniciou-se em 2007 depois que o Hamas chegou ao poder.

Grande parte das fronteiras – incluindo aéreas e marítimas – são controladas por Israel, o que impede relações comerciais entre Gaza e outros países e limita até mesmo a entrada de suprimentos essenciais, como alimentos, medicamentos, combustíveis, água e energia.

Por isso, os palestinos criaram túneis por toda a Faixa de Gaza. Esses túneis são usados para movimentar alimentos, dinheiro, armas, combustível e outros materiais.

Em 2013, Israel investiu ofensivas aos túneis, argumentando que estas estruturas eram utilizadas pelo Hamas como plataforma de lançamento de foguetes e para se infiltrar em seu território. A consequência de tal ato foi também uma maior escassez de materiais e a alta nos preços dos alimentos na Faixa de Gaza.

Veja também nosso vídeo sobre a guerra no Afeganistão!

Qual a história da Palestina e da Faixa de Gaza?

Do colapso do Otomano à colonização britânica

Até o final da 1ª Guerra Mundial, parte do território do Oriente Médio (incluindo a Faixa de Gaza) pertencia ao Império Turco-Otomano. Quando o império Otomano entrou em colapso, seu território foi repartido por potências coloniais como Reino Unido, França, Grécia e União Soviética. O território onde hoje estão Israel e a Palestina ficou, dessa forma, sob administração britânica, juntamente com as terras dos atuais Iraque e Jordânia.

Um ano antes do final da 1ª Guerra Mundial (1917), o governo britânico já havia sinalizado, na Declaração de Balfour, seu apoio ao movimento sionista para a criação de um lar judaico na Palestina caso vencessem o Império Otomano.

Veja também: Israel e Palestina: entenda o conflito do início!

A ilustração mostra os limites da Palestina após o fim da 1° Guerra e sob tutela do Reino Unido
Ilustração do mandato britânico (1921) – mandatos da Palestina e Transjordânia. Imagem: Jewish Virtual Library (tradução livre)

A Declaração de Balfour apontava para a criação do lar judeu na Palestina, desde que tal iniciativa não prejudicasse os direitos civis e religiosos das comunidades não judias. Entretanto, a região da Palestina já estava ocupada predominantemente pelos árabes, que rejeitaram a Declaração de Balfour e exigiram a sua anulação.

Neste contexto, se coloca também a ascensão do nacionalismo árabe palestino e o rápido aumento da ocupação judaica na Palestina. Em vista a isso, havia tensão entre árabes e nacionalistas sionistas que acabou em confrontos.

De 1936 a 1939 ocorreu uma revolta nacionalista árabe  contra o colonialismo britânico e a massiva imigração de judeus para a Palestina. Uma greve foi promovida pelos árabes palestinos reivindicando que o governo britânico parasse de facilitar a imigração judia e de ceder terras de árabes para judeus.

A partilha da ONU

No ano de 1947, após a  2ª Guerra Mundial e a criação das Nações Unidas, o Reino Unido solicitou à ONU a elaboração de um plano de partição do mandato britânico da Palestina. O plano consistia na separação do território em dois: um judeu e outro árabe. Jerusalém e Belém seriam cidades internacionais e não fariam parte de nenhum dos dois territórios.

Leia também: conflito por Jerusalém

A imagem mostra a divisão feita pela ONU do território. Nele, estão presentes o Estado árabe, o Estado Judeu e Jerusalém se apresenta como um território internacional.
Plano de partição da ONU para o mandato britânico da Palestina (1947). Imagem: Curso Objetivo.

A região da Faixa de Gaza e parte do território a sudoeste (que faz fronteira com o Egito), foram estabelecidos para os árabes.

Os judeus concordaram com a divisão da ONU, mas os palestinos a recusaram. Assim, o plano da ONU foi aprovado, mas não implementado. Após a 2ª Guerra Mundial, a criação do lar nacional judeu passou a ser vista como uma forma de reparação pelo holocausto.

Com a Guerra Fria como pano de fundo, a própria União Soviética defendia a criação do Estado judeu e outro palestino com o objetivo de diminuir a influência britânica na região. Os EUA também apoiavam, dada a influência dos judeus na política doméstica e a pressão no Congresso americano.

O resultado da Assembleia Geral da ONU foi de 33 votos a favor da partilha, 13 contra e 10 abstenções. O mandato britânico se encerrou em 14 de maio de 1948, quando David Ben-Gurion (presidente da agência judaica) declarou a independência do Estado de Israel. No dia seguinte, o território reclamado por Israel foi invadido por Iraque, Egito, Líbano, Síria e Jordânia, mais as forças palestinas, dando origem à Primeira Guerra Árabe-Israelense.

Veja também nosso vídeo sobre direitos humanos!

A Primeira Guerra Árabe-Israelense (1948-1949)

A guerra se originou a partir do movimento de independência de Israel, que levou à fuga ou expulsão de mais de 750 mil palestinos dos seus lares. O êxodo palestino devido à guerra civil é conhecido como “Nakba”, que significa “catástrofe”. Aqui se iniciou a questão com os refugiados palestinos.

Com ajuda dos Estados Unidos, Israel prevaleceu no confronto militar e a guerra teve fim no ano de 1949. A Jordânia conquistou o território da Cisjordânia e Jerusalém Oriental. Enquanto o Egito ficou com a Faixa de Gaza.

Israel, por sua vez, fica com uma porção maior de terra do que o previsto na partilha da ONU, incluindo a porção de Jerusalém Ocidental. Logo, o resultado foi um Estado árabe menor do que o previsto. Com isso, muitos árabes foram expulsos ou fugiram para os países próximos.

A Guerra dos Seis Dias

As tensões originadas em 1948 levam à Guerra dos Seis Dias – 05 de junho de 1967 a 10 de junho de 1967. Nela, Israel invadiu a Síria, a Jordânia e o Egito. Ao final, o Estado judaico promoveu uma grande expansão de suas fronteiras, ocupando a Faixa de Gaza, a Cisjordânia, Jerusalém Oriental e a Península do Sinai (Egito), praticamente triplicando seu território.

Desde então, Israel passou a erguer assentamentos, especialmente na Cisjordânia e na faixa de Gaza. Assentamentos são basicamente a construção de condomínios e comunidades israelenses em terras palestinas, dentro da Faixa de Gaza ou da Cisjordânia.

Israel alegou que seu ataque contra o Egito foi preventivo, uma vez que havia concentração de forças egípcias na fronteira entre os dois países e devido a expulsão de observadores da ONU da mesma região. Por outro lado, os países árabes alegaram que foi um ataque sem justificativa e acusaram Israel de planejar a guerra com antecedência com o objetivo de conquista territorial.

Na Guerra do Yom-Kippur (1973) não houve alteração do território da Faixa de Gaza, mas foi um episódio importante para iniciar os projetos de paz entre árabes e israelenses.

Veja também: conflito Israel-Palestina da resolução de 181 da ONU até o início dos anos 90

A Faixa de Gaza e os Acordos de paz de Camp David e Oslo

Em 1978, o Egito se tornou o primeiro país árabe a estabelecer a paz com Israel, no acordo de Camp David, com o qual reconheceu o Estado judeu. A península do Sinai foi devolvida ao Egito, que renunciou à Faixa de Gaza em favor de Israel, que controlou também  Cisjordânia, Colinas de Golã e Jerusalém Oriental.

A partir dos acordos de Camp David, o conflito árabe-israelense se descaracteriza e toma forma como conflito Israel-Palestina. Ou seja, as guerras entre Israel e os países árabes vizinhos se encerram e o conflito se concentra com os palestinos.

Em 1993, foi assinado o Acordo de Oslo I entre a OLP (Organização pela Libertação Palestina) e Israel. Ele previa um plano de paz em etapas e autonomia por parte da OLP nos territórios da Faixa de Gaza, Jerusalém Oriental e partes da Cisjordânia.

De um lado, a OLP reconheceria o direito de existência de Israel, e do outro, Israel reconheceria a existência da liderança palestina e os direitos dos palestinos de terem um Estado. As forças militares israelenses iniciaram a retirada da maior parte da Faixa de Gaza em 1994.

A imagem mostra um aperto de mãos entre Yitzhak Rabin, primeiro ministro de Israel e Yasser Arafat, líder da OLP. Os dois ocupam extremidades opostas da imagem e no centro, entre os doi, está Bill Cliton.
À esquerda: Yitzhak Rabin (primeiro-ministro de Israel), no centro: Bill Clinton (presidente EUA), à direita: Yasser Arafat (líder da OLP) – Acordo de Oslo, 1993 – Imagem: Instituto Brasil-Israel

Visando à implementação dos acordos, em 1995 foram assinados os Acordos de Gaza-Jericó (Oslo II), que também definiam os termos econômicos, de administração pública e eleitorais no território da Palestina. A OLP passou a se chamar Autoridade Nacional Palestina (ANP) e obteve maior autonomia de governo.

Em 4 de novembro do mesmo ano, o primeiro-ministro de Israel Yitzhak Rabin foi  assassinado em Tel-Aviv por um integrante ligado à extrema direita israelense. Em consequência, o acordo encontra um grande obstáculo para a promoção da paz entre palestinos e israelenses.

Veja também: Você conhece o plano de paz para Israel e Palestina?

Os levantes palestinos: 1ª e 2ª intifadas

A palavra “intifada” em árabe significa “levante”, no sentido de “rebelião” e “revolta”. Ela se caracteriza pelas revoltas organizadas promovidas por palestinos contra o exército israelense em decorrência da escalada de conflito pelo território da região, violência e dificuldades econômicas persistentes.

A primeira intifada foi de 1987 a 1993 com violentos protestos palestinos devido à morte de trabalhadores atropelados por  um caminhão militar israelense. Esta intifada marcou o surgimento do Hamas e terminou em 1993, com a assinatura dos tratados de Oslo.

A segunda intifada foi de 2000 a 2005. O gatilho foi a visita de Ariel Sharon, então  parlamentar israelense, à Esplanada das Mesquitas, em Jerusalém. Os palestinos viram tal ação como um ato de provocação, que desencadeou uma revolta organizada e violenta.

Desta vez, o Hamas promoveu também lutas armadas contra o exército de Israel e bombardeou suas cidades. Em 2005, no governo de Ariel Sharon, Israel se retirou da Faixa de Gaza.

Quem controla a região da Faixa de Gaza atualmente?

Atualmente, o Hamas controla a Faixa de Gaza. A organização é composta  por três organismos: uma entidade filantrópica, um corpo político e outro armado. O grupo foi criado em 1987 por egressos da Irmandade Muçulmana. Ele promove dois objetivos: a luta armada contra Israel e a realização de programas de bem-estar social.

Veja também: Hamas: o grupo envolvido no conflito entre Palestina e Israel

Após a morte de Yasser Arafat em 2004, o Hamas aumentou a sua influência política na Palestina e obteve a vitória nas eleições parlamentares de 2006. A vitória veio sobre a organização política Fatah (ou Al-Fatah), que administra a Cisjordânia. Em 2007, o Hamas ganhou o controle da Faixa de Gaza.

A Autoridade Palestina (AP) desapontou na questão de assistência social, tanto na Cisjordânia quanto na Faixa de Gaza, além de ser acusada de corrupção, o que contribuiu para o resultado das eleições.

A partir da vitória do Hamas nas eleições parlamentares de 2006, houve a separação política palestina, em outras palavras, a Cisjordânia ficou governada pela Autoridade Palestina, com o Fatah, e a Faixa de Gaza ficou sob controle do Hamas. A contar do desentendimento do Fatah e do Hamas, depois de 2006, não houve novas eleições na Faixa de Gaza.

E aí, ficou alguma dúvida a respeito da Faixa de Gaza? Fique à vontade para compartilhar com a gente! Deixe suas dúvidas e opiniões nos comentários!

Referências:
WhatsApp Icon

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Compartilhe este conteúdo!

ASSINE NOSSO BOLETIM SEMANAL

Seus dados estão protegidos de acordo com a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD)

FORTALEÇA A DEMOCRACIA E FIQUE POR DENTRO DE TODOS OS ASSUNTOS SOBRE POLÍTICA!

Conteúdo escrito por:
Olá, prazer! Sou graduado em Relações Internacionais e atualmente curso a pós graduação em Ciência Política pela FESPSP. Lembro que desde o início da minha graduação me senti atraído por todos os aspectos teóricos discutidos em sala de aula, me encontrei fazendo parte do debate político e, particularmente, me interessei pelo desenvolvimento da agenda ambiental internacional. A curiosidade de entender o mundo e os movimentos sociais – até mesmo indagando os clássicos teóricos – me servem de combustível para compreender um pouquinho mais os vínculos entre as relações econômicas, as dinâmicas de Estado, a história, o direito legal, enfim, esse universo de coisas que se apresentam no campo político, fruto de processos que foram construídos socialmente.
Souza, Gustavo. Faixa de Gaza em foco: a complexa dinâmica da região no Oriente Médio. Politize!, 23 de maio, 2023
Disponível em: https://www.politize.com.br/faixa-de-gaza-dinamica-da-regiao/.
Acesso em: 10 de out, 2024.

A Politize! precisa de você. Sua doação será convertida em ações de impacto social positivo para fortalecer a nossa democracia. Seja parte da solução!