História do CIDADANIA: de comunista a liberal progressista

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Novo nome e nova logomarca do partido. Imagem: Cidadania.
Novo nome e nova logomarca do partido. Imagem: Cidadania.

Ao ler o título, você deve estar se perguntando: “por que devo me interessar pela história do Cidadania ou de outros partidos, se nem me sinto representado por eles?”.

Um dos motivos é o seguinte: conhecê-los mais de perto aumentará suas chances de realizar escolhas conscientes nas urnas. Isso é especialmente importante nas eleições proporcionais, pois ali, seu voto em determinado(a) candidato(a) pode ajudar a eleger outros(as) integrantes da mesma legenda.

Nesse sentido, compreender a trajetória de um partido é algo esclarecedor, já que revela, por exemplo, sua ideologia (ou a falta dela), as mudanças que sofreu com o tempo e qual o perfil dos candidatos que apoiou em diferentes eleições presidenciais. Por isso, a Politize! preparou este conteúdo, que te ajudará a entender a história de um dos 32 partidos em atuação no Brasil.

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Anos iniciais da história do Cidadania: o Partido Popular Socialista

O Cidadania, nome dado ao partido há pouco mais de três anos, nasceu em 1992 como Partido Popular Socialista (PPS). Sua criação foi obra de algumas lideranças do Partido Comunista Brasileiro (PCB), que, em seu X Congresso, optaram pela alteração da sigla.

No entanto, as mudanças não se resumiram à nomenclatura. O contexto internacional, marcado pelo fim da União Soviética e da Guerra Fria, levou à revisão de ideias e práticas que haviam tornado-se obsoletas.

Em razão disso, o PPS não mais estava alinhado à ideologia comunista. Mesmo que seu estatuto o considerasse socialista, na prática, sua atuação era mais pragmática e moderada, tendendo à centro-esquerda.

Veja também nosso vídeo sobre o que é ser comunista!

Isso pode ser corroborado pela postura da legenda diante dos governos e dos processos eleitorais da década de 1990 e do início dos anos 2000. Com a posse de Itamar Franco, por conta do impeachment de Fernando Collor (PRN) em 1992, o partido passou a apoiar o novo ocupante da cadeira presidencial. O então deputado federal e presidente do Cidadania até os dias atuais, Roberto Freire, tornou-se líder do governo Itamar na Câmara.

Mais adiante, devido ao desejo de construir um bloco de esquerda com chances de vencer a eleição presidencial de 1994, o PPS decidiu integrar a coligação de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O candidato foi derrotado por Fernando Henrique Cardoso (PSDB), na ocasião.

Nos dois pleitos seguintes, a opção foi lançar candidatura própria, buscando uma alternativa à polarização nascente entre a esquerda isolada, de um lado, e as forças ao centro e à direita, do outro.

Assim, tanto em 1998 quanto em 2002, Ciro Gomes foi o nome da legenda a concorrer ao Palácio do Planalto. O candidato, entretanto, não foi capaz de superar o oponente petista nem os adversários tucanos, terminando em terceiro e em quarto lugar, respectivamente.

Quer entender melhor o que significa ser de esquerda, de direita ou de centro? Dê uma olhada neste conteúdo!

O afastamento gradual da esquerda

A partir de 2004, passaram a ser observados no PPS movimentos de afastamento do seu campo político original. Inicialmente esperançosa com a eleição de Lula, após o primeiro ano de mandato, a sigla distanciou-se do presidente em exercício, por divergências quanto à forma de condução do governo.

No mesmo ano, o partido deixou de participar do Foro de São Paulo, organização que reúne partidos e movimentos de esquerda na América Latina. Isso se deu devido ao surgimento de discordâncias quanto aos rumos tomados por ela.

Segundo o site oficial do Cidadania, os principais aspectos que motivaram a decisão foram a supressão do pluralismo de ideias, o hegemonismo das concepções bolivarianas antidemocráticas e populistas, bem como a falta de democracia interna da entidade. Apesar de ter requisitado, à época, a retirada de seu nome da lista dos partidos que a integram, isso não foi feito até hoje.

Em 2005, com a subida do tom contra a gestão petista, por parte do PPS, ocorreu um desentendimento entre o partido e Ciro Gomes, agora Ministro da Integração Nacional de Lula. Isso resultou em seu desligamento da legenda, à qual fez duras críticas, chegando a acusar Roberto Freire de querer transformá-la em linha auxiliar dos tucanos José Serra e FHC.

A consolidação do PPS na oposição ao PT

Nos anos seguintes, a tendência de oposição ao PT se manteve. Em 2006, a sigla declarou apoio informal a Geraldo Alckmin (PSDB) e em 2010, integrou a coligação de Serra. Ambas as eleições foram vencidas pelos candidatos do PT, Lula e Dilma Rousseff, respectivamente.

Já na eleição seguinte, que garantiu à petista seu segundo mandato, o partido esteve na coligação de Marina Silva (PSB), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno, e apoiou o candidato derrotado, Aécio Neves (PSDB), no segundo. Em 2018, por sua vez, voltou a apoiar a candidatura tucana de Alckmin, que terminou na quarta posição. No segundo turno, que deu a vitória a Jair Bolsonaro (PSL), frente a Fernando Haddad (PT), foi declarada neutralidade.

Dois fatos colaboram ainda para ilustrar o distanciamento da legenda em relação à esquerda e ao PT. O primeiro, ocorrido em 2013, é a emissão de uma nota de repúdio pelo PCB, acusando o PPS de estelionato político e classificando-o como oposição de direita ao governo Dilma. O segundo é o apoio ao impeachment da presidente, em 2016, com votos favoráveis de todos os parlamentares da bancada na Câmara e no Senado.

E o PT? É comunista? Assista ao nosso vídeo

História recente do Cidadania (2019 – Presente)

Em março de 2019, foi aprovada a mudança de nome do partido para Cidadania, oficializada pelo TSE em setembro do mesmo ano. A alteração ocorreu de maneira mais ou menos simultânea a diversas outras, em meio a um movimento dos partidos buscando conter o desgaste de imagem que vêm sofrendo nos últimos anos.

Assim como na sucessão do PCB pelo PPS, as transformações não ficaram restritas ao nome e à logomarca. Elas atingiram aspectos programáticos relevantes do Cidadania, levando-o a consolidar-se como legenda de centro.

No campo econômico, passaram a ser defendidas medidas mais liberais, como a Reforma da Previdência e a Reforma Trabalhista. Ainda assim, é reconhecido um importante papel do Estado naquilo que o mercado não se mostra eficaz, como proporcionar maior equidade na distribuição de riqueza. Nos aspectos sociais e culturais, por sua vez, são adotadas posições progressistas, como a defesa da criminalização da homofobia e da política de cotas sociais e raciais.

Mesmo que se posicione sobre diversos temas, também é admitida a existência de algum espaço para divergências no partido. Dentro dele, sociais-democratas convivem com liberais, havendo assim alguma variação entre posicionamentos de centro-esquerda e centro-direita, quanto à condução da economia.

Exemplos de filiados que representam o primeiro grupo são o ex-governador do Distrito Federal e ex-senador Cristovam Buarque, historicamente social-democrata, e a senadora Eliziane Gama (MA), que se define como progressista humanista. Já no segundo, podem ser apontados os deputados federais Alex Manente (SP) e Daniel Coelho (PE), ambos integrantes do movimento liberal LIVRES.

Veja também nosso vídeo sobre social-democracia!

O Cidadania atualmente

Um evento significativo para a história recente da legenda foi a decisão de formar uma federação partidária com o PSDB. Aprovada em 19 de fevereiro deste ano, a união com os tucanos ajuda a garantir a sobrevivência do partido, dado seu tamanho reduzido.

Além disso, marca sua afinidade centrista, visto que as propostas de federação com o Podemos, mais à direita, ou com o PDT, mais à esquerda, foram derrotadas na votação do Diretório Nacional.

No contexto eleitoral de 2022, o Cidadania tentou encontrar uma alternativa à polarização entre Lula e Bolsonaro. Chegou-se a cogitar, como alternativa, a filiação de Luciano Huck e o lançamento de sua candidatura ao cargo, mas o apresentador desistiu da ideia.

No primeiro turno, defendeu uma candidatura da chamada terceira via. Juntamente com MDB, PSDB e Podemos, lançou à disputa Simone Tebet (MDB). Porém, a senadora sul-mato-grossense não decolou, terminando na terceira posição. Já no segundo turno, o partido decidiu apoiar Lula, que venceu o presidente em exercício por uma margem apertada.

Veja também nosso vídeo sobre a terceira via!

O que a história do Cidadania nos ensina?

A partir do que foi apresentado, é possível observar que os partidos políticos sofrem transformações, com a evolução histórica. Na maioria das vezes, as características atuais das siglas são diferentes daquelas que possuíam quando foram fundadas. A história do Cidadania demonstra isso de maneira muito clara: nascido de um partido comunista, aos poucos foi se distanciando da esquerda e migrando para o centro político.

Agora, você leitor e, provavelmente, eleitor, possui mais conhecimento a respeito de um partido político brasileiro. Munido dessas informações, cabe a você decidir se digitará ou não o número 23 na urna eletrônica, em outubro.

Referências:

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História do CIDADANIA: de comunista a liberal progressista

22 abr. 2024

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