ê sabe o que faz a população querer o impeachment de um presidente? Neste texto, a Politize! vai explicar o que levou as pessoas a se mobilizarem para o impeachment do ex-presidente Fernando Collor de Mello, em 1992, e por qual razão ele está sendo condenado em 2025. Acompanhe a leitura!
Se preferir, ouça nosso episódio de podcast sobre esse assunto!
https://www.spreaker.com/user/politize/039-por-que-collor-sofreu-impeachment
Porque Collor foi preso em 2025?
Fernando Collor de Mello, ex-presidente e ex-senador, foi preso em 25 de abril de 2025 por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. Sua condenação, datada de maio de 2023, está ligada a crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro relacionados à BR Distribuidora, derivados da Operação Lava Jato.
Moraes afirmou que todos os recursos processuais já foram esgotados, justificando a execução imediata da pena de 8 anos e 10 meses, inicialmente em regime fechado. A prisão foi confirmada pela maioria dos ministros do STF.
Saiba mais: Lavagem de dinheiro: o que é e como funciona?
Segundo a acusação, Collor favoreceu a UTC Engenharia em contratos da BR Distribuidora, recebendo cerca de R$ 20 milhões. As evidências do processo incluem delações premiadas (como a de Alberto Youssef), extratos bancários, e-mails e outros documentos.
Fachin, relator do caso, afirmou que a influência de Collor sobre a BR Distribuidora e as movimentações financeiras em suas contas e empresas comprovam os crimes. Gilmar Mendes e Nunes Marques votaram pela absolvição, alegando falta de provas independentes das delações.
35 anos do confisco das cadernetas de poupança
O confisco das cadernetas de poupança, um dos eventos mais conturbados da história econômica do Brasil pós-redemocratização, completou 35 anos em 2025, dias antes da prisão de Fernando Collor de Mello.
O confisco, decretado em março de 1990, fazia parte do Plano Collor Um, anunciado um dia após sua posse na Presidência. O pacote previa bloqueio de recursos das cadernetas de poupança e contas-correntes acima de 50 mil cruzados novos, por 18 meses, com correção monetária e juros de 6% ao ano.
Bancos ficaram fechados por três dias e, ao reabrirem, enfrentaram grandes filas de clientes sem acesso a seus recursos. O congelamento atingiu aproximadamente 30% do PIB brasileiro.
Além do confisco da poupança, o pacote econômico extinguiu várias empresas estatais, como a Portobras, Siderbrás, EBTU e Embrafilme. As medidas buscavam reduzir o tamanho do Estado e estimular a abertura econômica, mas causaram enorme desgaste político.
O contexto da presidência de Collor
Fernando Collor de Melo foi eleito para presidente nas eleições de 1989, as primeiras eleições diretas para presidente desde 1960. Ele derrotou candidatos como Luiz Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola e Mário Covas. Seu partido, o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), era um “nanico” frente a diversos outros surgidos com a redemocratização do país, como o PMDB, o PT, o PSDB e o PDS.
Fernando Collor de Mello foi eleito para presidente em 1989, as primeiras eleições diretas desde a ditadura militar. Ele derrotou candidatos como Luiz Inácio Lula da Silva, Leonel Brizola e Mário Covas.
Seu partido, o Partido da Reconstrução Nacional (PRN), era pequeno frente a diversos outros surgidos com a redemocratização do país, como o MDB, o PT, o PSDB e o PDS.
O governo Collor foi iniciado em março de 1990. Logo estabeleceu medidas econômicas radicais para tentar combater a inflação, que na época chegava a 1700% ao ano (para efeito de comparação, nos últimos anos ela não havia passado dos 7% ao ano).
A principal dessas medidas foi o confisco das poupanças por um período de 18 meses, medida estabelecida por meio de medida provisória. A ideia era diminuir a quantidade de moeda em circulação e, desse modo, preservar o poder de compra.
Veja também: Inflação no Brasil e no mundo: entenda de uma forma simples o que significa o termo
A estratégia não deu certo, já que a inflação continuou um problema ao longo de todo o governo, e deixou a população insatisfeita. Já em 1991 surgiram denúncias de corrupção envolvendo pessoas próximas a Collor, como a sua esposa, Rosane Collor.
Veja também nosso vídeo sobre o governo Collor!
Denúncia contra Collor
Em maio de 1992 estourou a denúncia que daria início ao processo de impeachment do presidente. Seu irmão, Pedro Collor, concedeu entrevista à revista Veja acusando-o de manter uma sociedade com o empresário Paulo César Farias, tesoureiro de campanha de Collor.
Segundo Pedro, o tesoureiro seria “testa de ferro” do presidente em negociações ilegítimas, ou seja, aquela pessoa que faz a intermediação de transações financeiras fraudulentas, a fim de ocultar a identidade de quem realmente as contrata.
Em junho de 1992, o Congresso instaurou uma CPI para tratar das atividades de PC Farias. Com o desenrolar dos trabalhos da comissão, as acusações de Pedro Collor foram ganhando substância, com muitas provas de transações ilícitas ligando PC Farias a Collor.
Quem foram os caras-pintadas?
Foi nesse contexto que surgiram os caras-pintadas, um movimento essencialmente estudantil, promovido principalmente pela União Nacional dos Estudantes (UNE) e pela União Brasileira dos Secundaristas (UBES), com o objetivo de remover o presidente Collor do poder.
Em agosto de 1992, começam a ser feitas grandes passeatas, que chegaram à marca de 400 mil pessoas em uma única passeata em São Paulo, no dia 25 de agosto de 1992.

Uma das manifestações mais marcantes ocorreu no dia 16 de agosto de 1992, dois dias depois de Collor aparecer em rede nacional para pedir que o povo fosse às ruas de verde e amarelo para defender seu governo. Os manifestantes fizeram o inverso, e apareceram de preto em sinal de luto pelos escândalos de corrupção do governo.
O movimento foi apoiado por diversos setores da sociedade. As manifestações continuaram a crescer no mês de setembro, quando um pedido de impeachment foi elaborado e entregue à Câmara dos Deputados.
No dia 29 de setembro, a Câmara aprovou o pedido por ampla maioria e o processo foi aberto. Naquele dia, estima-se que milhões de pessoas tenham aderido ao movimento dos caras-pintadas, saindo às ruas com o rosto pintado de verde e amarelo para pedir a saída do presidente.
O impeachment e a renúncia de Collor
Com a abertura do processo de impeachment autorizado pela Câmara, Collor foi afastado do cargo, e em seu lugar assumiu o vice-presidente Itamar Franco. Enquanto isso, o Senado apurava se Collor havia cometido ou não um crime de responsabilidade.
O processo durou três meses, e com a condenação iminente no Senado, Collor resolveu renunciar ao cargo, no dia 29 de dezembro de 1992, para evitar a inelegibilidade nos oito anos seguintes.
Entenda: Inelegibilidade no Brasil: quem não pode assumir cargos políticos?
Mesmo com a renúncia, o Congresso votou a favor da perda dos direitos políticos do ex-presidente, afastando-o de cargos eletivos pelo resto da década de 1990.

Collor foi absolvido pelo STF das acusações de peculato, corrupção passiva e falsidade ideológica enquanto ainda era presidente, entre os anos 1990 e 1992. Porém, em 2025, foi preso por crimes cometidos em 2023, sob o cargo de senador.
Desfecho do governo Collor
O impeachment de Collor teve como início um escândalo de corrupção que estava diretamente ligado ao nome do presidente. Mas o pano de fundo desta história foi a fraca sustentação política do governo, com poucos partidos de peso apoiando o presidente, além da profunda crise econômica do país, que havia piorado com as medidas adotadas pelo governo Collor.
Tudo isso causou grande insatisfação popular, além de gerar uma forte oposição ao presidente no Congresso. Esses são típicos elementos que podem levar ao impeachment de uma figura pública.
Para complementar o que aprendeu, assista ao vídeo produzido em parceria com o canal Poços Transparente!
Agora você já sabe mais sobre o que foi o impeachment de Collor? Entendeu também porque ele foi preso? Deixe sua opinião sobre o tema nos comentários!
Publicado em 22 de setembro de 2015. Atualizado em 30 de abril de 2025.
Referências
- BBC News Brasil – Da ‘caça aos marajás’ à prisão por corrupção, os altos e baixos da carreira de Collor na política
- Câmara dos Deputados – 20 anos do impeachment de Fernando Collor
- Estadão – Collor sofreu impeachment em 1992 após irmão denunciar corrupção operada por PC Farias
- Folha de S.Paulo – Collor é absolvido pelo STF de acusações de corrupção
2 comentários em “Por que Collor sofreu impeachment?”
Bruno, sua abordagem está clara e correta, eu vivo aqueles tempos. O Collor sempre me pareceu um político de foi escolhido pelo grupo que de fato detém o poder, porém são chegar aí palácio resolver sair do papel do a ele, foi morar na casa da dinda e fazer caminhadas com camisetas com ideias próprias. Ao mesmo tempo, veja a matéria que saiu ontem na BBC sobre “A operação secreta para negar as mudanças climáticas”, a realização da RIO 92 poderia ter disparado um gatilho? Não acredito em teoria da conspiração, mas naquele momento havia muitos interesses em jogo. E porque passado o tempo ele teria sido inocentado de tudo?
Faltou mencionar a reportagem da globo, jornal nacional, em que a Dilma tenta salvar o Lula. É um fato que pode ser comparado com a denuncia do Pedro Collor.