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Um continente em disputa: o que foi o imperialismo na Ásia?

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Mapa Ásia. Imagem: Wikimedia Commons.

Certamente, você já ouviu falar sobre a guerra comercial entre a China e os Estados Unidos, sobre a retirada das tropas americanas do Afeganistão, e sobre a crescente tensão entre os países do Ocidente e do Oriente em meio à invasão russa à Ucrânia. O que você pode não saber é que o embate entre países ocidentais e orientais não é algo exclusivo dos dias atuais, já que o continente asiático, durante os séculos XIX e XX, foi um dos principais alvos do imperialismo ocidental.

A política expansionista em direção à Ásia, além de influenciar internamente a realidade de diversos países da região na época, ainda é uma peça chave para se entender o cenário político internacional em que vivemos. Por isso, nesse texto, a Politize! te explicará o que foi o processo imperialista na Ásia durante os séculos XIX e XX, as suas motivações e consequências.

1. A corrida imperialista para a Ásia

Mapa: Imperialismo na Ásia e Oceania – início do século XX. Imagem: Cazzaniga / Veredas do Tempo.

O imperialismo consiste em um conjunto de políticas que têm como objetivo promover a expansão territorial, econômica e/ou cultural de um país sobre outros. No século XIX, ele foi implementado a partir da “partilha” da África e da Ásia entre as nações industrializadas europeias, como a Inglaterra, França e Alemanha.

Leia também: Imperialismo e a partilha da África: entenda!

Esses países, por estarem inseridos no contexto da Segunda Revolução Industrial, enxergavam a dominação de outros continentes como uma forma pela qual conseguiriam aumentar o seu mercado consumidor e suprir as suas necessidades de mão de obra barata e de matéria-prima.

Para justificar e legitimar o imperialismo, os países ocidentais se utilizaram de teorias racistas, como a do darwinismo social. Para eles, existia uma hierarquia entre as raças, classificadas entre “superiores” e “inferiores”.

Como os povos da África e da Ásia supostamente não conseguiram se desenvolver por conta própria, era dever do homem branco europeu levar o progresso, isto é, a civilização, para esses territórios “atrasados”. Essa ideia ficou amplamente conhecida como “o fardo do homem branco”.

As estratégias utilizadas para dominar os países africanos e asiáticos foram variadas. Enquanto alguns foram conquistados por meio da presença militar, tornando-se formalmente colônias, outros contaram com a sua elite local tutelada, a partir de um protetorado. Determinados países conseguiram manter um governo autônomo, porém foram submetidos a acordos econômicos desiguais. Abordaremos alguns casos a seguir:

Índia

No caso indiano, o contato com os ingleses se deu ainda no século XVII, quando, para desenvolver o comércio entre esses dois países, foi criada a Companhia Britânica das Índias Orientais. Em 1763, a Índia se tornou um protetorado, sob a justificativa de que, em troca da ocupação militar e financeira da região, o país ganharia uma suposta proteção do Império Britânico.

A partir do século XIX, os ingleses já monopolizavam as relações comerciais indianas, sendo conhecidos, na época, como “os senhores da Índia”. Em 1848, missões religiosas e civilizatórias foram enviadas ao país. Contudo, foi somente em 1876, que a Índia ganhou o status de parte do Império Britânico, tornando-se formalmente uma colônia.

China

Almejada por ser um vasto mercado consumidor, a China, ao apresentar um governo forte e centralizado, dificultou a entrada estrangeira no país. A forma encontrada pelos ingleses para driblar a resistência chinesa foi o contrabando de ópio para a região, onde o consumo do produto era proibido. Como resposta, em 1869, as autoridades chinesas queimaram 20 mil caixas de ópio, dando início às famosas Guerras do Ópio.

Após três anos de confronto, a derrota chinesa fez com que o país tivesse que assinar o Tratado de Nanquim (1842), no qual era obrigado a abrir certos portos, fixar tarifas alfandegárias conforme o interesse inglês e entregar a cidade de Hong Kong à Inglaterra.

Anos depois, a China foi obrigada a assinar o tratado de Pequim (1860), responsável por estabelecer a abertura de mais alguns portos e declarar o direito de países europeus realizarem missões cristãs na região.

Como resposta à dominação imperialista, parte dos chineses tentou se rebelar, dando início a Guerra dos Boxers (1900). Nessa revolta, chineses tomados pelo sentimento nacionalista e anti-imperialista assassinaram cerca de 200 estrangeiros. Apesar disso, a revolta foi contida, não conquistando mudanças concretas para a China.

Veja também nosso vídeo sobre o sistema econômico da China!

Japão

Diferentemente de outros países asiáticos, o Japão se apresenta como um caso especial. Ao expulsar todos os estrangeiros do país em 1648, permaneceu com seus portos fechados para outras nações até meados do século XIX. Assim, enquanto várias nações ocidentais se industrializavam, o regime japonês permanecia semelhante ao feudalismo: extremamente agrário e isolado.

O cenário político e econômico do Japão só se alterou em 1854, com a chegada de navios norte-americanos na região, interessados em expandir seu comércio e mercado consumidor. Os japoneses, sob ameaça, foram obrigados a abrir seus portos.

O período marcado pela mudança de regime político e fim do isolamento japonês ficou conhecido como a Era Meiji. O Japão, ao iniciar o seu processo de industrialização, começou a se expandir e dominar várias ilhas na região, travando guerras com a China (1894) e Rússia (1904). Ao sair vitorioso dos confrontos, tendo conquistado regiões como Taiwan e a Coreia, o país se tornou a maior potência imperialista do Oriente.

2. A descolonização asiática

La descolonización y el tercer mundo. Imagem: Ignacio Sobrón García / Slideshare.

A descolonização asiática ocorreu na segunda metade do século XX, devido ao enfraquecimento das potências europeias imperialistas – consequência direta da Primeira e da Segunda Guerra Mundial – e à eclosão de vários movimentos de independência pelo continente.

Tais movimentos eram apoiados pelas duas grandes superpotências que ascenderam ao poder na época, isto é, os Estados Unidos e a União Soviética (URSS). Por estarem inseridos no contexto da Guerra Fria, ambos os países desejavam expandir a sua área de influência para os novos Estados asiáticos que surgiriam com a independência da região.

Veja também nosso vídeo sobre a vida na União Soviética!

O processo de descolonização da Ásia não foi homogêneo, tendo acontecido em momentos e de formas diferentes a depender do país. Abordaremos dois casos a seguir:

Leia também: Colonialidade e Decolonialidade: você conhece esses conceitos?

Índia

Os indianos já demonstravam o seu desejo pela independência antes mesmo do século XX. A primeira tentativa ocorreu em 1857, na famosa Revolta dos Cipaios. Os movimentos pela independência que se seguiram foram marcados por um crescente sentimento antibritânico e pela articulação de movimentos identitários, como o Movimento Hindu e a Liga Muçulmana.

Nos anos 1920, a luta nacionalista indiana cresceu sob a liderança do advogado Mahatma Gandhi. Pregando uma resistência pacífica, ele liderou um amplo movimento de desobediência civil favorável ao boicote de produtos britânicos e ao não pagamento de impostos.

Em 1947, em virtude do fim da Segunda Guerra Mundial e da necessidade do Reino Unido em focar na sua própria reconstrução, a independência da Índia foi negociada. A independência do território deu origem a dois países: o Paquistão e a Índia.

China

Assim como a Índia, a China também contava com movimentos nacionalistas que reivindicavam a independência. O movimento nacionalista chinês, liderado por Sun Yat-sen, buscava a ampliação dos direitos políticos, por meio do sufrágio universal, e a socialização das terras e das forças produtivas. Ainda, pregava o fim da monarquia e a expulsão imediata de todos os estrangeiros da região.

O processo de independência só teria início com a Revolução Republicana de 1911. A partir de então, é instaurado um governo provisório encabeçado por Yat-sen, líder do Kuomintang (Partido Nacionalista). O governo provisório chegou ao fim em 1912, sendo seguido por um período de 15 anos de grande instabilidade política na China, marcado por movimentos separatistas e tentativas de retomada da monarquia.

Veja também nosso vídeo sobre o que é nacionalismo!

3. As marcas do imperialismo na Ásia

Apesar de sua justificativa civilizatória, o imperialismo é responsável pela criação de uma série de problemas que os países asiáticos enfrentam até hoje, como a escassez de recursos naturais. Em virtude da exploração desenfreada de suas riquezas naturais, muitos países da região enfrentam o desafio da falta de recursos fundamentais para a sustentação de seu povo, que vive na miséria e na pobreza.

Um outro impacto da expansão imperialista é a desarticulação de algumas tradições e costumes nativos. Como se acreditava na inferioridade dos povos dominados, as nações imperialistas impuseram a cultura ocidental à força, perseguindo determinadas práticas culturais asiáticas. A Índia, por exemplo, foi o lar de movimentos que buscavam a retomada de costumes nativos, enfatizando a recusa em seguir os modelos culturais europeus.

A imposição de valores ocidentais aos asiáticos gerou um sentimento antiocidental muito aflorado durante as lutas pela independência dos Estados. Tal sentimento ainda está presente atualmente, podendo ser observado na postura adotada pelo presidente chinês, Xi Jinping, em meio às tensões entre a Rússia e a Ucrânia. Para ele, é necessário uma aliança entre a China e a Rússia, de forma que, em conjunto, os dois países possam “se defender contra o Ocidente”.

As guerras territoriais também são um legado do imperialismo na Ásia. Como o processo de ocupação do território não levou em consideração a historicidade e as características dos povos de uma mesma região, ocorreu o fenômeno de agrupamento de etnias/tribos rivais em um mesmo país, e o de partição de pessoas de um mesmo grupo em localidades distintas.

Temos como um grande exemplo a disputa pela Caxemira. Com a conquista da independência, a colônia indiana foi dividida pelos ingleses em duas nações, seguindo critérios religiosos. Enquanto as áreas de concentração de hindus e sikhs foram atribuídas à Índia, a maioria muçulmana ficou no Paquistão. Por essa lógica, a Caxemira, de maioria muçulmana, seria parte do território paquistanês.

Contudo, o Marajá da Caxemira era hindu, e, ao tentar controlar a rebelião islâmica em seu território, associou-se à Índia, que passou a ter direito sobre a região. Atualmente, parte da Caxemira pertence ao Paquistão e a outra à Índia, porém, como a maioria da população local continua a ser muçulmana, os habitantes do lado indiano pedem a independência ou sua anexação ao Paquistão.

O confronto entre os dois países é alarmante porque ambos possuem armas nucleares, e a tensão na fronteira entre os territórios é constante.

E você, conseguiu entender o que foi o imperialismo na Ásia? Foi capaz de traçar paralelos entre esse processo histórico e outros problemas atuais que o território ainda enfrenta? Deixe a sua opinião, as suas dúvidas e sugestões nos comentários!

Referências:

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2 comentários em “Um continente em disputa: o que foi o imperialismo na Ásia?”

  1. MOÇA OBRIGADA POR EXPLICAR SÉRIO, eu tava doida procurando as marcas da colonização na Ásia, o texto está impecável e escrito perfeitamente!! Parabéns por ter feito um trabalho tão bom como esse!!

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Conteúdo escrito por:
Paulista, 22 anos, estudante de História (Universidade de São Paulo) e Relações Internacionais (Universidade Paulista), fascinada por Geopolítica, História Médio-Oriental e Direitos Humanos. Atua como voluntária em uma organização de acolhimento aos refugiados, participando de projetos que visam integrá-los à sociedade brasileira por meio da educação.

Um continente em disputa: o que foi o imperialismo na Ásia?

27 abr. 2024

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