IPCA e Índices de Inflação: o que são e para que servem?

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Inflação. Imagem: Freepik.

A inflação no Brasil nunca deixa saudades, mas sempre volta a ser assunto. Parece que sempre quer nos revisitar e normalmente gera uma grande apreensão. Por isso, o mais adequado é sempre entender um pouco mais sobre este tema, em especial, sobre IPCA e Índices de Inflação.

Talvez um dos fatores que resultaram no impeachment da presidente Dilma Rousseff. Uma equação já bem conhecida pelos economistas e cientistas políticos:

Inflação = Perda do Poder de Compra do Cidadão = Desgaste Político.

Em 2022, com os reflexos da retomada econômica mundial do pós-pandemia, juntamente com os efeitos negativos da guerra na Ucrânia e a instabilidade política nacional, novamente, a inflação chega nos dois dígitos. Até junho, o índice oficial da inflação (IPCA) acumulava 11,89%.

Veja também nosso vídeo sobre inflação!

Mas por que a inflação é importante? O que é o IPCA e o que são os índices de inflação? Quais são os índices de inflação mais utilizados em nosso país? Saiba mais sobre estes assuntos neste artigo da Politize!

Inflação – O que eu devo saber?

Inflação é um tema que mexe no seu bolso. Essa já deveria ser a razão mais que suficiente para você buscar mais conhecimento sobre o tema. Mas como ela mexe no seu bolso? A inflação ocorre quando o preço dos produtos e serviços aumenta.

Se os preços aumentam e você não recebe nenhum aumento salarial, consequentemente, você terá menos dinheiro para comprar estes produtos ou serviços. Por isso, muitos especialistas afirmam que há uma perda no valor da moeda.

O dinheiro vale menos e você precisa se adaptar. As mudanças geram consequências. Um estudo publicado na Revista Brasileira de Queimaduras concluiu que houve elevação dos casos de queimaduras durante o ano de 2017 após a substituição de gás de cozinha (GLP) por álcool, o que pode ter ocorrido devido ao fato de que o segundo produto é mais .

Conforme o presidente do Conselho Federal de Economia (Cofecon), Antonio Corrêa de Lacerda, “A Inflação que temos hoje empobrece o brasileiro, que tem seu poder de compra reduzido, pois alimentos, tarifas públicas, gás de cozinha, combustíveis, energia, tudo tem subido muito acima da inflação, e a renda não vem crescendo”.

Veja também nosso vídeo sobre como a inflação está deixando você mais pobre!

Metas de Inflação e Crescimento Econômico

As metas da inflação são uma espécie de limite. Até onde deve chegar a inflação num determinado ano. As metas para o Brasil são estabelecidas pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). O Banco Central é responsável por uma série de medidas a fim de atingir a meta (BACEN, 2022).

A meta é um valor percentual de inflação anual, por exemplo, 5% ao ano. Há ainda uma margem de tolerância. Pode ser 2% (dois pontos percentuais) para mais e para menos. Ou seja, se a meta é de 5% ao ano, o objetivo será estar dentro da margem de tolerância. Se a meta é de 5% e a margem de 2%, então a inflação deverá ficar entre 3% e 7% ao ano.

O crescimento econômico possui uma forte relação com a inflação. Inflação alta não significa baixo crescimento. Todavia, existe um momento em que o aumento da inflação irá prejudicar o crescimento.

Por exemplo, se você possui uma empresa, à medida que os custos de produção aumentam, você tentará aumentar o preço dos seus produtos para manter suas margens de lucro. Chegará um momento em que você não conseguirá vender a quantidade de produtos que vendia antes da elevação de preços. Menos vendas, menos lucros. Talvez você elevará novamente os preços dos seus produtos.

Este ciclo pode se manter por um tempo até um momento em que os seus lucros cairão. Caso você queira manter o nível dos lucros ou evitar prejuízos, as únicas alternativas que restarão são: a redução de investimentos e de custos.

A redução de investimentos reduz a capacidade de crescimento de um país. A redução de custos poderá resultar em demissões, desemprego, menos consumidores e, assim, menos crescimento econômico.

Leia mais: Demissão em massa e direito dos trabalhadores

Por outro lado, a elevação da inflação também pode significar aumento da capacidade de consumo. São mais pessoas interessadas na aquisição de produtos e serviços. Se não há produtos e serviços suficientes, o resultado prático é o aumento nos preços. Os consumidores acabam pagando mais para dispor do que necessitam.

O aumento nos preços pode elevar os interesses dos empreendedores em produzir mais para atender esta nova demanda. Estes, por sua vez, irão investir mais recursos para construir novas instalações e empresas, adquirir novas máquinas e equipamentos, contratar mais pessoal. Logo, a inflação também gera crescimento.

Perceba que a inflação pode ser boa ou ruim. Ela é influenciada por fatores internos e externos. Com a globalização, a inflação pode se originar em algum problema existente do outro lado do mundo (Ex: Guerra na Ucrânia). O equilíbrio sempre será o objetivo maior.

Índices de Inflação: conheça os principais.

As pessoas que compram produtos ou serviços de modo periódico podem constatar a mudança de preços mais rapidamente. Todavia, existem índices criados para verificar esse efeito de um modo mais padronizado e dinâmico. Alguns destes índices, calculados por órgãos do governo. Outros, disponibilizados pela iniciativa privada.

Os índices de inflação são importantes instrumentos para medir o movimento da inflação e ao mesmo tempo comparar os resultados com outros períodos. Os índices são formados por meio de uma cesta de produtos e serviços, de acordo com parâmetros predefinidos.

Atualmente, os mais relevantes são: IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo); INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor); IGP-M (Índice Geral de Preços – Mercado) e IPC-Brasil (Índice de Preços ao Consumidor).

IPCA – Índice de Preços ao Consumidor Amplo

O IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) é o índice oficial da inflação brasileira. Calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), ele é utilizado como ferramenta para o controle da inflação por meio de metas. Ou seja, o IPCA serve de base para confirmar se a inflação está ou não dentro da meta.

“A população objetivo do IPCA é representada pelas famílias residentes em áreas urbanas com rendimento familiar monetário compreendido entre 1 e 40 salários mínimos mensais, quaisquer que sejam as fontes de rendimento” (IBGE, 2022).

Quanto à cesta de produtos e serviços do IPCA, a análise segue os dados obtidos na Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF, feita pelo IBGE, que, “entre outras questões, verifica o que a população consome e quanto do rendimento familiar é gasto em cada produto: arroz, feijão, passagem de ônibus, material escolar, médico, cinema, entre outros” (IBGE, 2022). O IPCA possui a seguinte composição:

Fonte: Adaptado do IBGE.

A maior parte da composição é formada por Transportes (22,33%) e Alimentação e Bebidas (21,18%). A composição da cesta é muito importante, pois deve expressar a realidade da população e o seu custo de vida para melhor retratar os efeitos da inflação num determinado período.

Abaixo segue a série histórica desde 1980 até 2021:

Fonte: Adaptado de SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática.
Fonte: Adaptado de SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática.
Fonte: Adaptado de SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática.
Fonte: Adaptado de SIDRA – Sistema IBGE de Recuperação Automática.

Na série histórica, é possível verificar que o Brasil já possuiu inflação de 4 casas. Atingiu o patamar de mais de 2477% ao ano em 1993. A partir da criação do Plano Real, em 1994, houve uma melhora significativa. Os índices registrados se limitam às duas casas decimais. Pode se afirmar que há um controle maior da inflação.

IPCA vs IPCA 15: qual a diferença?

O IPCA 15 é calculado da mesma forma que o IPCA. No entanto, a apuração é feita a cada 15 (quinze) dias. Logo, serve de prévia para a inflação mensal medida pelo IPCA. Este método de cálculo foi implantado pelo IBGE no ano de 2000 e está sendo aplicado até hoje.

Mas por que utilizar o mesmo método em um menor tempo? Sempre é muito relevante obter informações de forma rápida e o mais precisa possível para a adoção de medidas. Governo, mercado financeiro, economistas e a sociedade podem tomar decisões de modo tempestivo, conforme suas necessidades.

INPC – Índice Nacional de Preços ao Consumidor

“O Índice Nacional de Preços ao Consumidor – INPC que tem por objetivo a correção do poder de compra dos salários, através da mensuração das variações de preços da cesta de consumo da população assalariada com mais baixo rendimento” (IBGE, 2022).

Conforme o IBGE (2022), “atualmente, a população-objetivo do INPC abrange as famílias com rendimentos de 1 a 5 salários mínimos, cuja pessoa de referência é assalariada”.

São avaliadas as seguintes localidades: regiões metropolitanas de Belém, Fortaleza, Recife, Salvador, Belo Horizonte, Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Curitiba, Porto Alegre, além do Distrito Federal e dos municípios de Goiânia, Campo Grande, Rio Branco, São Luís e Aracaju.

Veja também nosso vídeo sobre salário mínimo!

IGP-M – Índice Geral de Preços – Mercado

“O Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M) é divulgado mensalmente pelo Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (FGV IBRE). O IGP-M é utilizado amplamente na fórmula paramétrica de reajuste de tarifas públicas (energia e telefonia), em contratos de aluguéis e em contratos de prestação de serviços” (FGV, 2022).

Conforme a FGV (2022), o índice foi criado em 1940 e é calculado com base no Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), no Índice de Preços ao Consumidor (IPC) e no Índice Nacional de Custo da Construção (INCC). A composição ocorre da seguinte forma:

Fonte: FGV / IBRE.

Índice de Preços ao Consumidor (IPC-Brasil)

“O Índice de Preços ao Consumidor (IPC) mede a variação de preços de um conjunto fixo de bens e serviços componentes de despesas habituais de famílias com nível de renda situado entre 1 e 33 salários mínimos mensais. Sua pesquisa de preços se desenvolve diariamente, cobrindo sete das principais capitais do país: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Salvador, Recife, Porto Alegre e Brasília.” (FGV, 2022)

“O cálculo do IPC é realizado com base nas despesas de consumo obtidas através da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) realizada no biênio (2008/2009) pelo IBGE. Com as informações do levantamento foram construídas as estruturas de ponderação que expressam, em termos percentuais, a importância monetária dos bens e serviços componentes da amostra do IPC.” (FGV, 2022)

A diferença deste índice para o IPC-S é o período de abrangência. Enquanto o IPC-Brasil é mensal, o IPC-S é semanal. A FGV também apresenta os dados do IPC-Diário, do IPC-10, do IPC-M, do IPC-DI, do IPC-3i (famílias compostas, majoritariamente, por indivíduos com mais de 60 anos de idade) e do IPC-C1 (famílias com renda entre 1 e 2,5 salários mínimos mensais).

E, agora, como usar estas informações?

Acompanhar um índice de inflação é bastante útil para saber se é ou não um momento adequado para contrair um empréstimo ou financiamento. A inflação geralmente causa mudanças nas taxas de juros dos bancos.

Leia mais: Você sabe qual o papel dos juros na economia?

Se o seu financiamento possuir uma parcela com reajuste de acordo com a inflação (é o caso da maioria dos financiamentos de casas, terrenos e imóveis), se for um momento de elevação do índice, você pagará cada vez mais por mês. Isso pode gerar maiores dificuldades no seu orçamento.

Se você contrair um financiamento num período de elevação de inflação, sendo a parcela sem reajuste da inflação (é o caso da maioria dos financiamentos de veículos), isso pode significar que os juros terão seu efeito reduzido em decorrência da inflação.

Veja como é útil saber mais sobre inflação!

Você sabia?

  • O INPC e o IPCA (elaborados pelo IBGE) foram criados para substituir o IGP-M (elaborado pela FGV), com o intuito de reduzir os valores da inflação apresentados no final da década de 1970;
  • Enquanto o índice oficial de inflação do Brasil terminou o ano de 2021 com um percentual de 10,06%, na Argentina, o índice fechou em 50,9%;
  • A inflação da Turquia, em 2021, foi a maior desde 2002, alcançando mais de 36%;
  • Por sua vez, o Japão teve uma deflação de 0,2% em 2021;
  • Na Hungria, após o final da segunda guerra mundial, registrou-se a maior inflação para um único mês na história: mais de 41 quatrilhões por cento;
  • O segundo maior registro ocorreu em Zimbábue: 79,6 bilhões por cento em novembro de 2008;
  • Já o terceiro foi na Iugoslávia, em janeiro de 1994, durante os conflitos ocorridos na região: mais de 300 milhões por cento;
  • Cada índice possui suas peculiaridades, por isso, o IPCA pode ser maior do que o INPC; o IGP-M menor que o IPC-Brasil; e assim sucessivamente.

E aí, você conseguiu compreender o que são o IPCA e os Índices de Inflação e para que servem? Deixe suas dúvidas nos comentários!

Referências:

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Conteúdo escrito por:
Formado em Ciências Contábeis pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC; Especialista em Governança Tributária pela Universidade Positivo. Aprovado em cerca de 10 (dez) concursos de nível médio e 5 (cinco) de nível superior.
Schiochet, Gabriel. IPCA e Índices de Inflação: o que são e para que servem?. Politize!, 7 de outubro, 2022
Disponível em: https://www.politize.com.br/ipca-e-indices-de-inflacao/.
Acesso em: 13 de dez, 2024.

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