Escola de Chicago: entenda as ideias dessa corrente econômica

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Entenda o que é a Escola de Chicago. Imagem: André Bona.

Ao ler “Escola de Chicago”, podem ter vindo à sua mente palavras como “neoliberalismo” ou o nome do economista Milton Friedman, que está entre os três mais influentes do século XX. Mas, afinal, você conhece todas as ideias dessa escola econômica? Sabe quais são as suas contribuições para esse ramo do conhecimento e quais as críticas feitas a ela?

Neste texto, a Politize! te ajudará a compreender tudo o que está por trás dessa linha de pensamento na Economia.

Veja também nosso vídeo sobre o que é neoliberalismo!

Como surgiu a Escola de Chicago?

O termo “Escola de Chicago” passou a ser utilizado nos anos 1950 para designar professores do departamento de Economia e de áreas correlatas na Universidade de Chicago. Entretanto, ela se notabilizou enquanto escola econômica a partir dos anos 1970, atingindo o ápice de sua influência na década seguinte.

Para entender o que levou à sua ascensão, é necessário fazer uma breve retomada histórica.

Imagem: Universidade de Chicago.

A Revolução Keynesiana

Um dos acontecimentos mais importantes para a história do pensamento econômico foi a chamada Revolução Keynesiana. Quando o mundo foi atingido pela crise de 1929, as teorias existentes até então foram incapazes de explicá-la de maneira satisfatória.

Foi nesse contexto que o economista britânico John Maynard Keynes inaugurou um novo campo de estudo na ciência econômica: a macroeconomia. Diferentemente da microeconomia, sua análise não é voltada ao indivíduo, mas sim aos chamados agregados, como PIB, inflação, taxa de juros e desemprego.

As ideias keynesianas foram dominantes na macroeconomia entre as décadas de 1930 e 1960. Isso mudou, no entanto, após o choque do petróleo nos anos 1970, quando a economia dos EUA vivenciou o fenômeno da estagflação, uma mistura entre estagnação e inflação.

Como a baixa atividade econômica acompanhada da subida generalizada dos preços era vista como uma impossibilidade teórica, o paradigma keynesiano foi colocado em xeque.

Veja também: Keynesianismo: o que diz essa teoria econômica?

A ascensão da Escola de Chicago

A partir desse momento, mostrou-se necessário rever alguns conceitos estabelecidos na macroeconomia. Assim, começaram a ganhar relevância diversas publicações acadêmicas de economistas da Universidade de Chicago.

Dentre eles, além do já mencionado Milton Friedman, destacam-se George Stigler e Robert Lucas. Os três foram vencedores do Prêmio Nobel de Economia, em 1976, 1982 e 1995, respectivamente.

Suas ideias modificaram o paradigma macroeconômico e influenciaram muitos formuladores de políticas públicas. Alguns dos exemplos mais conhecidos são a ex-primeira-ministra do Reino Unido Margareth Thatcher (1979-1990) e o ex-presidente do banco central americano Paul Volcker, que ocupou o cargo durante o fim da administração de Jimmy Carter e a maior parte do governo Ronald Reagan (1981-1989).

Quais as principais ideias da Escola de Chicago?

Em geral, a Escola de Chicago defende uma política econômica liberal, com intervenção menor do Estado na economia. Mesmo sendo partidária do livre mercado, ela difere da doutrina liberal clássica ao reconhecer a existência de falhas de mercado, isto é, situações em que ele não promove, por si só, uma alocação de recursos de forma mais eficiente possível.

Veja também nosso vídeo sobre o que é livre mercado!

Por outro lado, essa corrente econômica tende a enfatizar que as falhas de governo normalmente são maiores do que as de mercado. Assim, a interferência governamental não é desejável na maior parte das vezes, embora haja formas de reduzir a sua ineficiência quando ela é necessária.

Para ilustrar esses pontos, é muito útil utilizar a didática explicação de Friedman sobre as quatro formas de gastar dinheiro. Em ordem decrescente de eficiência, temos:

Categoria I: Gasto do seu próprio dinheiro com você mesmo – Essa é a forma mais eficiente, pois uma pessoa tende a ser mais cuidadosa ao gastar seu dinheiro, além de conhecer melhor os próprios gostos.

Categoria II: Gasto do seu próprio dinheiro com outra pessoa – Como ainda se trata do seu dinheiro, você terá um incentivo para economizar, mas não terá condições de avaliar o gosto do destinatário da melhor maneira possível.

Categoria III: Gasto do dinheiro de outra pessoa com você mesmo – Aqui, não existe o mesmo incentivo para economizar, afinal, o dinheiro não é seu. Porém, você ainda pode fazê-lo valer o máximo possível, conforme suas preferências.

Categoria IV: Gasto do dinheiro de terceiros com outra pessoa – Essa é a forma menos eficiente, visto que não há incentivo para economizar nem para satisfazer ao máximo a pessoa com quem o dinheiro é gasto.

A maioria dos gastos governamentais pertencem à última categoria, já que utilizam o dinheiro do pagador de impostos para financiar serviços públicos. Apesar disso, algumas despesas podem ser movidas para a categoria III, visando diminuir a ineficiência.

O economista argumenta, por exemplo, que, em vez de o governo distribuir produtos básicos à população carente, é mais efetivo para a redução da pobreza transferir um valor diretamente às famílias mais pobres, nos moldes de um imposto de renda negativo.

Milton Friedman (1912-2006), economista da Universidade de Chicago. Imagem: Britannica.

O que mudou na macroeconomia com a Escola de Chicago?

Agora que tivemos uma noção geral do pensamento dessa escola econômica, é importante abordar algumas de suas ideias mais específicas para mostrar como ela impactou a macroeconomia. Duas delas se sobressaem: o monetarismo e a teoria das expectativas racionais.

Monetarismo

O monetarismo é a visão segundo a qual a quantidade de dinheiro em circulação possui grande influência sobre a atividade econômica e o nível de preços. Antes, no período de predominância keynesiana, dava-se ênfase à política fiscal. A política monetária, por sua vez, era considerada pouco eficaz, exceto em situações bastante específicas.

Já nos anos 1970, passaram a prevalecer as ideias monetaristas. Associadas principalmente a Friedman, elas inverteram essa ordem de importância, passando a tratar o controle pelos bancos centrais da quantidade de dinheiro em circulação na economia como algo essencial.

Alguns dos principais pressupostos monetaristas são os seguintes: no longo prazo, um aumento no estoque de moeda é seguido por uma elevação no nível geral de preços, caso mantidos constantes os demais fatores. Já no curto prazo, esse aumento produz efeitos temporários no PIB e no emprego, pois leva um tempo até que os salários e os preços se ajustem.

Diante disso, propunha-se uma regra de crescimento monetário constante, ou seja, o banco central deveria permitir que a oferta de moeda aumentasse, em percentual, apenas o equivalente ao crescimento da economia em um dado ano. Também era defendida a vinculação dessa instituição a regras fixas e a flexibilidade da taxa de juros.

Leia também nosso texto sobre política monetária para entender seu funcionamento com mais detalhes!

Expectativas racionais

Robert Lucas considerava que os modelos utilizados até então tinham grandes falhas nas suas bases teóricas. De acordo com o economista, não basta utilizar os dados históricos para estudar os efeitos da política macroeconômica. Também devem ser levadas em conta as expectativas dos agentes, pois elas afetam suas ações.

A partir disso, ele fundamentou a teoria das expectativas racionais, segundo a qual as expectativas refletidas no comportamento do mercado são formadas a partir de uma previsão que utiliza todas as informações disponíveis. Desse modo, não há como o governo “enganar” sistematicamente os agentes econômicos.

Exemplificando, imagine que um empresário queira fazer um investimento grande, sendo necessário realizar alguns financiamentos, ao longo do tempo. Digamos que, segundo seus cálculos, para o valor investido gerar retorno, os juros devem estar abaixo de 5% ao ano e que a taxa atual seja de 3% ao ano.

É verdade que, com o percentual vigente, o investimento valeria a pena. Porém, ao decidir se irá realizá-lo, o empreendedor não supõe simplesmente que a taxa permanecerá em 3% continuamente, pois leva em conta o risco de redução ou aumento, de acordo com o conhecimento que possui do cenário. Portanto, ele nem sempre optará por investir.

Assuma que a inflação esteja em alta, por exemplo. Neste caso, é de se esperar que o Banco Central eleve os juros, havendo a possibilidade de eles superarem os 5%. Se essa situação se concretizar, o melhor terá sido não investir. Sabendo disso, esse agente forma uma expectativa racional, que influenciará sua tomada de decisão.

Veja também nosso vídeo sobre o que é inflação!

Outras contribuições relevantes

Além dessas ideias, cabe mencionar também algumas contribuições do economista George Stigler. Uma delas é a tese da captura regulatória. Trata-se da ideia segundo a qual a regulação governamental de determinados setores da economia acaba sendo capturada por interesses privados.

Assim, leis e regulamentos que deveriam servir para corrigir falhas de mercado resultam, ao invés disso, em benefícios a alguns empresários e grupos de interesse, em detrimento de um ganho para a coletividade.

O economista também publicou um artigo que levou ao surgimento de uma nova área de estudo nas ciências econômicas: a economia da informação.

A Nova Escola de Chicago

Durante algum tempo, a aplicação do monetarismo foi bem sucedida. Ainda que algumas ideias sobre a importância da política monetária prevaleçam até hoje, com uma nova roupagem, outras passaram a ser questionadas. Isso ocorreu quando se constatou que a relação entre oferta monetária e PIB nominal – aquele calculado com base nos preços correntes – era instável, diferentemente do que se acreditava.

A teoria das expectativas racionais, por outro lado, mostrou-se muito consistente. A partir dela, emergiu no mainstream econômico a Nova Escola de Chicago. Seus representantes são chamados também de novos-clássicos ou macroeconomistas de água doce, por ocuparem universidades próximas aos Grandes Lagos da América do Norte, como as de Chicago e Minnesota.

Hoje, eles dominam os principais centros de pesquisa, ao lado dos novos-keynesianos, também chamados macroeconomistas de água salgada, já que integram instituições localizadas próximo às costas dos EUA, a exemplo de Harvard, MIT e Stanford. A escola novo-keynesiana utiliza alguns aparatos semelhantes aos da Nova Escola de Chicago como base para seus modelos, mas diverge dela em outros aspectos.

Críticas à Escola de Chicago

Muitas das críticas endereçadas à Escola de Chicago são de natureza ideológica. Ela não é vista com bons olhos pelos mais progressistas, em razão de suas ideias terem sido aplicadas por governos conservadores, associados ao neoliberalismo, ou até mesmo por uma ditadura, no caso chileno.

Porém, como se trata de uma escola macroeconômica, e não de uma ideologia política, é mais pertinente, considerando o propósito deste texto, explorar algumas críticas realizadas no contexto acadêmico. Por isso, serão mencionadas aquelas feitas por Joseph Stiglitz e Paul Romer. O primeiro ganhou o Prêmio Nobel de Economia em 2001 e o segundo, em 2018.

Para compreender melhor o debate ideológico entre diferentes políticas econômicas, veja nosso conteúdo sobre esquerda e direita na economia!

Crítica de Stiglitz

O economista critica duramente aqueles a quem chama de fundamentalistas de livre mercado, os quais defendem cegamente que esse modelo de organização econômica sempre leva ao desenvolvimento e à prosperidade. Para ele, alguns dos estudantes de Chicago durante os anos 1970 e 1980 seguem carregando essa ideia, mesmo havendo estudos que indicam sua fragilidade, em muitos casos.

Um deles, publicado por Stiglitz, juntamente com Michael Spence e George Akerlof, demonstra de forma bastante consistente a existência e a relevância de falhas de mercado como a informação imperfeita e assimétrica, as externalidades e os mercados incompletos.

Crítica de Romer

A principal crítica de Paul Romer aos macroeconomistas de água doce é que o uso de dados passou a servir para eles como mera forma de calibrar suas teorias, e não de efetivamente submetê-las a avaliações e testes mais rígidos. Além de dificultar a formulação de críticas internas, isso levou a um certo isolamento dos integrantes do grupo.

Para Romer, a convicção excessiva desses acadêmicos nos modelos desenvolvidos somada ao seu menor envolvimento com outros economistas, mesmo os que enxergam méritos em suas ideias, pode ser problemática. Isso porque tal postura não indica um alinhamento com as melhores práticas de integridade científica.

E aí, o que mais te chamou atenção na Escola de Chicago? Sobre que outra escola econômica você gostaria de saber? Deixe seu comentário!

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29 abr. 2024

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