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América Latina: entenda tudo sobre essa região

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Mapa da América Latina.
Mapa da América Latina. Foto de Isabela Kronemberger.

Você, sem dúvidas, já ouviu falar que o Brasil faz parte da América Latina, não é? Esse conjunto diverso de países carrega uma história semelhante de colonialismo, exploração, tensão política, diversidade cultural e muitos outros fatores sociohistóricos.

Mas afinal, o que é a América Latina? O que mais esses países têm em comum? Ao final desta leitura preparada pela Politize!, você saberá tudo isso e mais um pouco!

O que é América Latina?

Antes de entender o que é a América Latina, é preciso compreender que não existe uma definição única do que essa região representa. Ao longo da história, pesquisadores e historiadores divergiram quanto a noção desse grupo de países que, até hoje, é alvo de amplos debates e interpretações.

Em seus 21 milhões de km² de extensão, a América Latina é lar para cerca de 620 milhões de pessoas de culturas, histórias e tradições diversas.

Para muitos pesquisadores tradicionais, ela engloba apenas os vinte países das Américas colonizados por Portugal e Espanha: Argentina, Haiti, Bolívia, Honduras, Brasil, México, Chile, Nicarágua, Colômbia, Panamá, Costa Rica, Paraguai, Cuba, Peru, Equador, República Dominicana, El Salvador, Uruguai, Guatemala e Venezuela.

Outros pesquisadores incluem países que tiveram colonização francesa (Antilhas e a Guiana Francesa), inglesa (Belize, Jamaica e Suriname), e holandesa (Guiana).

Veja também nosso vídeo sobre nacionalismo!

Origem da América Latina

Ao contrário do que muitos imaginam, a história do território latino começou muito antes da chegada dos colonizadores europeus no século XV.

Acredita-se que os primeiros seres humanos chegaram na América Latina há aproximadamente 20 mil anos. Desde então, ela foi palco de civilizações extremamente avançadas, como as astecas, maias e incas.

Os povos que viviam nesse território antes da colonização são conhecidos como pré-colombianos, ou pré-cabralinos no Brasil. Nessa época, estima-se que cerca de 40 milhões de nativos residiam nessa região e viviam da caça, pesca e agricultura.

A chegada de Cristóvão Colombo nas Américas em 1492, no entanto, mudou esse cenário para sempre. Enquanto a América Anglo-Saxônica se desenvolveu através de colônias de povoamento, a colonização na América Latina foi diferente. Aqui, havia a exploração de recursos naturais para o benefício das metrópoles.

Os dois principais colonizadores da América Latina foram Espanha e Portugal, embora outros países europeus também tenham participado desse período histórico, como Inglaterra, França e Holanda.

A chegada dos europeus teve consequências diretas para os povos originários. Na tentativa dos colonizadores em dominar os territórios americanos, as populações nativas foi praticamente apagadas. Milhões de pessoas morreram, seja pela propagação de doenças, pela devastação das terras ou pela violência direta.

A mão de obra utilizada para a dominação do território latino e a exploração dos recursos naturais, como ouro, prata e cana-de-açúcar foi, durante séculos, formada por pessoas escravizadas.

Escravidão na América Latina.
Escravidão na América Latina. Foto: Jean-Baptiste Debret/Wikimedia Commons.

Milhões de nativos do continente africano foram vítimas do tráfico negreiro – trazidos pela migração forçada, essas pessoas passaram a ser exploradas pelos colonos.

Entenda os processos de independência da região

Foi apenas no século XVIII que a maioria das populações sob o domínio europeu na América Latina conquistaram a independência. Líderes como Simón Bolívar, José de San Martín, Bernardo O’Higgins e José Sucre foram protagonistas na luta por liberdade de seus países.

Os novos Estados enfrentaram grande instabilidade política, marcada por lutas internas pelo poder, golpes de estado e conflitos armados. Os recém independentes países latinos também experimentaram um processo tardio de industrialização e urbanização.

Veja também nosso vídeo sobre golpes de Estado que deram errado!

Aline Santos Silva, pesquisadora do Grupo de Pesquisa Geografar e mestre em Economia pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), explica como foi o processo de industrialização:

A industrialização foi tardia e não competitiva, já que países desenvolvidos já se encontravam na 2ª Revolução Industrial, enquanto aqui ainda estava na Primeira. O processo de globalização provocou novos desafios à industrialização da América Latina, por conta da concorrência de produtos manufaturados de outros países já desenvolvidos.

Ditadura na América Latina: um período de opressão política

Depois da 2ª Guerra Mundial, a bipolarização política causada pela Guerra Fria levou à implantação de ditaduras militares na América Latina. Na época, forças conservadoras latino-americanas passaram a contar com o apoio norte-americano para a interrupção das democracias do continente.

Entre os anos 50 e 60, governos democráticos do Brasil, Bolívia, Argentina, Chile, Paraguai e Uruguai sofreram golpes de estado, onde presidentes e líderes eleitos foram substituídos por militares.

As ditaduras foram marcadas, principalmente, por períodos de repressão e violência extremas, além da supressão de liberdades civis e a concentração de poder nas mãos de líderes autoritários. Por meio da dominação dos poderes estatais, esse governos perseguiram, torturaram e mataram civis que questionavam o sistema, como estudantes, jornalistas, militantes e políticos da oposição.

Décadas de 80 e 90: redemocratização, crise econômica e neoliberalismo

Tal cenário mudou a partir dos anos 80, período que marcou o fim de regimes autoritários e o início da transição democrática no território latino.

Na economia, a região lidou com uma grande crise econômica conhecida como ‘década perdida’. O período era caracterizado por altas taxas de inflação e dívidas externas que afetavam o desenvolvimento e aumentavam a desigualdade social desses países.

Essa crise se estendeu até os anos 90 para muitas nações. A consequência desse movimento levou muitos países a aplicarem políticas neoliberais na economia, como a privatização de empresas estatais, redução de barreiras tarifárias e cortes de gastos públicos.

Um exemplo é o Brasil. O presidente eleito em 1994, Fernando Henrique Cardoso (PSDB), promoveu a privatização de grandes empresas nacionais como Embraer, Vale do Rio Doce e Companhia Siderúrgica Nacional.

Outra referência do período é a Argentina. Em 1995, o presidente Carlos Menem aprovou a privatização da Yacimientos Petrolíferos, uma popular estatal do setor energético do país.

Com a crescente demanda internacional por commodities, muitos países latino-americanos experimentaram um crescimento econômico sólido no começo dos anos 2000. Petróleo, minério de ferro, cobre, ouro, soja, café e açúcar foram recursos responsáveis pelo crescimento das exportações na região.

A ascensão de governos liberais, no entanto, foi interrompida em 1999, com o resultado das eleições na Venezuela, que elegeu o líder esquerdista Hugo Chávez para a presidência. Essa vitória marcou o início de um movimento caracterizado pelo pesquisador José Luís Fiori como um “giro à esquerda”.

Ao passar da década, a maioria dos países latinos eram governados por líderes à esquerda do espectro político. É o caso de Hugo Chávez (Venezuela), Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil), Evo Morales (Bolívia) e Rafael Correa (Equador).

A professora do Instituto de Economia e Relações Internacionais da Universidade Federal de Uberlândia, Érica Imbirussú, explica como esses governos divergiram do neoliberalismo dos líderes anteriores:

“Esses governos buscaram implementar políticas com dimensões mais sociais, que visavam reduzir as desigualdades, melhorar os padrões de vida da população mais pobre, e também fortalecer o papel do Estado na economia. Assim, defende-se que tais governos procuraram construir uma sociedade mais igualitária, […] capaz de liderar o desenvolvimento do país”, explica a docente.

Como é a economia da América Latina?

Plantação de soja em Goiás, Brasil.
Plantação de soja em Goiás, Brasil. Imagem: Marcelo Camargo/Agência Brasil.

A economia da América Latina é baseada no setor primário, ou seja, na produção de matérias-primas. A diversidade natural deste território o coloca como um dos principais produtores de alimentos e recursos minerais do mundo atual.

“Esta lógica europeia de exportação promoveu a transferência de riquezas da região para o continente europeu, além de subordinar a região latino-americana, até os dias atuais, como produtora de bens primários e de pouca intensidade tecnológica. Fato, que implica numa manutenção de dependência dessa região aos países desenvolvidos, que apresentam uma estrutura produtiva prioritária de bens intensivos em tecnologia”, conta Imbirussú.

A partir da década de 2000, houve uma forte expansão das exportações de matérias-primas e alimentos, principalmente soja, minério de ferro e açúcar. Os principais produtos exportados nos últimos anos pela América Latina são café, soja, carne bovina, cana-de-açúcar, milho, frutas tropicais, além de minerais como cobre, prata, zinco, níquel e ouro.

“A principal responsável por essa nova fase de exportações latino-americanas é a China, que se tornou o principal parceiro comercial de cada país latino-americano ao longo dos últimos 23 anos, substituindo os Estados Unidos nesse papel”, aponta Luiz Paulo Ferreira Nogueról, professor de História da América na Universidade de Brasília (UnB).

Desigualdade, um problema comum

A desigualdade social é um dos problemas mais recorrentes entre os países latino americanos. De acordo com o relatório de desenvolvimento humano de 2019 do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), a América Latina é a região mais desigual do mundo em concentração de renda.

É o que também atesta o relatório Panorama Social 2022 da Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Os dados revelam que 201 milhões de pessoas latinas vivem em situação de pobreza, dos quais 82 milhões (13,1%) vivem na pobreza extrema.

Essa conjuntura é consequência de diversos fatores históricos e modo de produção capitalista, como a exploração colonial, a destribuição desigual de terras, a escravidão, as crises econômicas e a corrupção. Mesmo com a evolução de programas sociais e políticas de desenvolvimento, a vulnerabilidade social ainda é uma questão em aberto para os países da região.

Cultura latina: uma fusão de histórias

Mulher celebra o Día de Los Muertos, popular comemoração de origem indígena no México.
Mulher celebra o Día de Los Muertos, popular comemoração de origem indígena no México. Foto: Fernando Paleta/Pexels.

Assim como todos os outros aspectos, a diversidade cultural da América Latina está diretamente relacionada ao período de colonização do território.

Antes da chegada dos europeus, a produção cultural da região já era diversa. Os povos nativos possuíam tradições de extrema diversidade linguística, arquitetônica e artística.

A chegada da colonização trouxe similaridades entre os países latinos. As principais línguas faladas na região, por exemplo, são o espanhol, que é a língua principal da região, e o português, idioma oficial do Brasil.

“Este fato auxilia na distinção significativa entre a cultura brasileira e as dos demais países da região, que possuem similaridades na literatura, na música e na comunicação”, conta Erika.

A colonização também afetou muito a produção cultural da região – a miscigenação entre pessoas indígenas, europeias e africanas resultou na formação de uma identidade extremamente plural, que se reflete na culinária, na música, na dança, na religião e na arte.

“A influência da fé católica resultou em festas religiosas, rituais e tradições que são celebrados em todo o território”, complementa Aline. Além dessas religiões, também são populares o protestantismo, as religiões de matriz africana, as religiões indígenas e o sincretismo religioso.

Na música, não é necessário ir muito longe na região para encontrar diversas expressões de axé, reggaeton, funk, salsa, rap, samba, tango e merengue.

A literatura também é uma força motora do território: autores como Gabriel García Márquez, Pablo Neruda e Machado de Assis são reconhecidos internacionalmente pela comunidade literária.

Anos 2010 e 2020: onda conservadora x uma possível era progressista?

Em meados dos anos 2010, assim como em diversas outras regiões do planeta, foi observada uma crescente onda conservadora em países da América Latina. Líderes políticos de direita e ultradireita assumiram o poder após eleições. É o caso da Argentina, com Mauricio Macri, eleito em 2015, e do Brasil, com Jair Bolsonaro (PL), eleito em 2018.

“A onda conservadora emerge num cenário interno pós-crise de 2008, associado aos escândalos de corrupção em alguns países da América Latina. Diante da conjuntura externa e interna, emerge o autoritarismo, que enaltece o período ditatorial na região”, complementa Erika.

Essa onda, no entanto, vêm diminuindo nos últimos anos. A região vêm registrando uma sequência de vitórias progressistas para o cargo de presidente. Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi eleito pela terceira vez no Brasil, a Gustavo Petro ganhou as eleições na Colômbia e o líder Gabriel Boric venceu no Chile.

E aí, conseguiu compreender mais a historia da América Latina e como a colonização afetou esse grupo de países, seja na cultura, na economia ou na política? Conta pra gente o que você achou nos comentários.

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Conteúdo escrito por:
Interiorana de coração, latino-americana e jornalista em formação pela UNESP de Bauru. Como futura comunicóloga e apaixonada por políticas públicas, pesquiso jornalismo alternativo e tento traduzir, em palavras, os infinitos códigos sociais de nosso mundo.

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22 abr. 2024

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